Entrevista

Decisão contra o Bragantino, Ortigoza, finanças e Aflitos: Edno Melo e o futuro do Náutico

Em entrevista exclusiva à Rádio Jornal, o presidente Edno Melo passou a limpo o Náutico após 8 meses de gestão

Antônio Gabriel
Antônio Gabriel
Publicado em 25/08/2018 às 8:00
Antônio Gabriel/Rádio Jornal
FOTO: Antônio Gabriel/Rádio Jornal

Tocar no assunto política entre os alvirrubros tem sido bastante espinhoso nos últimos anos. Notadamente conhecido por ter um bastidor fervoroso, o Náutico parece, enfim, ter encontrado tempos de paz. Diante de um 2018 que deu fim ao jejum de títulos, trouxe a diminuição de passivos, jogadores de expressão para o elenco e o início da volta aos Aflitos, o presidente Edno Melo fala do futuro do clube alvirrubro, que encara neste domingo (26), o maior desafio do ano diante do Bragantino na Arena de Pernambuco, em busca da volta à Série B.

"Meu perfil é de paz. Não sou uma pessoa que levanta a bandeira de briga. A maior conquista que tive nessa gestão foi pacificar o clube, conversando com várias alas e grupos. Hoje é um clube de paz, onde conseguimos transitar pelos Conselhos. Quem quiser ajudar a gestão vai ajudar, com um grupo de diversas alas políticas do clube. Quem quiser ajudar o clube vai ajudar o clube", comentou Edno Melo, que recebeu a reportagem da Rádio Jornal em sua sala, na sede social do clube, no bairro dos Aflitos, Zona Norte do Recife.

O lado financeiro é de fato uma bandeira que o presidente alvirrubro se orgulha. Diante de uma sala sem grandes títulos, méritos ou conquistas estampadas na parede, Edno ostenta planilhas e números para comprovar os seus feitos sentado na principal cadeira do executivo do clube e também para explanar os planos para o futuro.

"A principal meta para 2019 é diminuir o quanto puder o passivo do clube, para termos um clube viável, para gente ter um clube que possamos, no futuro, ver o Náutico de fato. Para isso, tem que ter muito trabalho, perder algumas noites de sono e contar com a ajuda de muitos alvirrubros, não sou poucos não. Uma das saídas é voltar para a Série A. Se a gente mantiver uma política de austeridade, a gente consegue resolver a vida do Náutico", comentou.

Além do lado financeiro, as metas e projetos para o futuro são as mais diversas. No entanto, o mandatário alvirrubro estipula um prazo de validade para sua gestão. "Serei presidente do Náutico até 2019. Você tem que dar chance a outras pessoas que queiram fazer bem ao Náutico. Dois anos que tirei da minha vida para ajudar o Náutico, onde me afastei da família e dos amigos, estão de bom tamanho".

Antes da Série B, o Bragantino

Presidente do Náutico, Edno Melo
Presidente do Náutico, Edno Melo
Antônio Gabriel/Rádio Jornal

Tirar três gols de diferença para o Bragantino na Arena de Pernambuco pode parece uma tarefa difícil, mas não o suficiente se você assume o papel de presidente do Náutico. "Estou muito confiante. Aquele gol do Ortigoza nos colocou no jogo. O torcedor pode fazer uma grande festa e ver o Náutico na segunda divisão, disse Edno.

Para os últimos 90 minutos da decisão, as bilheterias apontam uma estimativa de público de cerca de 30 mil pessoas na Arena de Pernambuco. A procura por ingressos caiu diante do primeiro resultado do Náutico no mata-mata, a derrota por 3 a 1 para o clube paulista fora de casa. Nesse momento, a confiança de Edno Melo cede o espaço para a cobrança ao torcedor.

"A gente viu que a torcida do Náutico deu uma retraída durante a semana, agora melhorou as vendas, está em torno de 30 mil torcedores. Esperava um público melhor, por tudo que foi feito no Náutico esse ano, pelo estadual, pelo o que o elenco já mostrou. Mostrou que tem condições de reverter várias situações, saindo da lanterna e indo para a liderança na primeira fase da Série C. Eu esperava um maior número de torcedores", afirmou.

A cobrança não fica somente por conta do jogo decisivo contra o Bragantino, mas também com o compromisso do aumento do quadro de sócios. Eu acredito que o torcedor está aguardando a gente voltar para os Aflitos. Até numa conversa com Ralph de Carvalho, eu perguntei quando o torcedor vai apoiar. Quando tivemos um jogo importantíssimo, contra o ABC, e o público foi muito baixo. A gestão tá fazendo o que pode, baixando o passivo do clube, pagando em dia, campeão pernambucano, voltando para os Aflitos, tudo que o torcedores queria esse ano ele tá tendo, e tendo de verdade, de fato mesmo".

E toda a cobrança tem um motivo claro por trás: um jogo que vale o futuro. "Conclamo para que os torcedores apareçam na Arena amanhã (26), o elenco já provou que reverte esse resultado. Quando tá tudo bem, em festa, é muito fácil. É bom agora na dificuldade, é agora que o clube precisa da torcida. É um jogo que vai decidir 2018 e 2019. Estamos com tudo em dia, mesmo com toda a dificuldade. A dificuldade é muito grande e vai ser maior ainda sem o acesso".

De qualquer forma, falar do futuro em um final de semana decisivo é também assumir duas possibilidades distintas. "É aí onde entra o gestor administrador. Se subir, vai ser mil maravilhas. Se não subir, o Náutico não vai fechar, não vai acabar. Vai ter um ano de 2019 sacrificado e difícil, mas também existe um planejamento".

Títulos, Ortigoza, Márcio Goiano e base: a gestão do futebol

Edno Melo, presidente do Náutico
Edno Melo, presidente do Náutico
Antônio Gabriel/Rádio Jornal

Inegável que Edno Melo não tenha mostrado conhecimento e controle do que acontece no clube. A política de austeridade e com os 'pés no chão', como o próprio mandatário já repetiu diversas vezes, tem como início, meio e fim o futebol do clube, responsável por executar todo o planejamento. Sem deixar de lado, claro, o aspecto financeiro.

"Na minha concepção tem sido uma boa gestão do futebol. Fomos até a 4º fase da Copa do Brasil, fomos campeões no pernambucano, nos classificamos na seletiva do Nordestão e estamos disputando uma vaga no acesso. Então, no futebol tá tudo em dia, de atletas e funcionários. Para mim, foi uma gestão muito boa", diz Edno.

Dentro do assunto futebol, dois nomes marcaram o 2018 do Náutico, ao menos durante o Campeonato Brasileiro. Um deles é o técnico Márcio Goiano, que assumiu o clube pouco antes do início do segundo turno e terminou a primeira fase invicto, levando os alvirrubros da lanterna para a liderança. A permanência do treinador, independente do acesso, foi garantida.

"Quando procuramos Márcio Goiano, fomos atrás de um técnico que estivesse no clube até o final da gestão, até o fim de 2019. O trabalho dele é honesto, sério, que já vimos que dá resultado, ele tem o respeito da direito, isso na parte do futebol. Subindo ou não, salvo algo extraordinário, é consenso na diretoria a permanência de Márcio Goiano", explicou.

O outro nome foi Ortigoza, paraguaio que foi anunciado de forma surpreendente no início do ano e que levantou muitos questionamentos a repseito da sua forma física. Sobre o atacante, que veio a se tornar o artilheiro do time no ano com 13 gols em 25 jogos, a permanência para o ano que vem já está sendo negociada, com uma boa possibilidade de renovação contratual segundo o mandatário.

"Ortigoza tem salário conosco até o fim de outubro. Já tá bem adiantada a conversa com ele, que é diferenciado e vai ajudar o clube, ainda mais em 2019. Não podemos cravar, mas provavelmente vai ficar", limitou-se Edno, que foi cuidados ao tratar do assunto.

Detalhes sobre as finanças

Presidente do Náutico, Edno Melo
Presidente do Náutico, Edno Melo
Antônio Gabriel/Rádio Jornal

Por mais que as finanças tenham sido discutidas e expostas durante toda a entrevista, Edno fez questão de aprofundar o assunto. A falta de recurso, segundo o mandatário, marcou toda a gestão até aqui.

"A maior dificuldade é a falta de recurso. O passado do Náutico e seu passivo é muito alto. Por mais que você administre com o pé no chão, só com o que recebe, é muito difícil. A maior dificuldade é estarmos na Série C. Falta de patrocínio, falta de televisão e de receita, isso que a torcida tem que entender para que possamos sair da Série C o mais rápido possível".

Os patrocínios no clube são rotativos. A cada jogo, o Náutico veste uma camisa diferente, com logos de empresas distintas. Essa rotatividade tem sido a alternativa encontrada pela gestão. Em compensação, um grupo de investidores torcedores do Náutico tem sido também uma maneira de desafogo. "A gente tá tendo patrocinadores pontuais, por jogo. Nossa camisa sempre muda a cada jogo. Paralelo a isso, existe um grupo de alvirrubros que sem eles não poderíamos pagar a folha, pagando três ou quatro jogadores. Então, é dessa maneira. A gente não fez nenhuma loucura, nenhuma folha gigante", afirmou Edno.

Essa realidade, no entanto, tem um fim condicionado a um recomeço. Com a volta aos Aflitos, Edno Melo pretende reencontrar apoiadores para a o clube. "Não tem negociação com patrocinador master, não adianta iludir o torcedor. Mas na volta dos Aflitos, eu tenho certeza que vamos captar novos investidores. A volta para os Aflitos é muito emblemática, inclusive nesse sentido. A média de público nossa vai começar a crescer novamente, isso é muito importante para o patrocinador".

Volta aos Aflitos

Presidente do Náutico, Edno Melo
Presidente do Náutico, Edno Melo
Antônio Gabriel/Rádio Jornal

Por fim, o presidente alvirrubro falou do maior patrimônio e legado da sua gestão. A volta aos Aflitos, segundo ele, era vista como temerária por muitos, que acabaram assistindo uma promessa de sua campanha se tornar realidade.

"Os Aflitos hoje, os vestiários do mandante e visitante estão prontos, alambrado pronto, gramado pronto, cadeiras estão na fase final. Faltam 10% para reabrir os Aflitos, as licenças e a parte da iluminação ainda faltam também. É algo muito mágico. Não é o presidente Edno Melo que vai reabrir os Aflitos, existe um grupo por trás disso, uma comissão, um Conselho Deliberativo, uma equipe do executivo", disse Edno Melo.

Para o presidente, seu mandato será mercado pelo retorno do clube a sua casa. "Foi uma bandeira que levantei na campanha. Lembro que muitos diziam que era uma temeridade, uma promessa eleitoreira. E graças a Deus, fui iluminado para participar ativamente dessa volta e sou o presidente que vai entregar a casa do Náutico aos torcedores".

Ouça a entrevista completa de de Edno Melo

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