ENTREVISTA

Soluções não estão funcionando, diz secretário sobre mobilidade urbana

Antônio Alexandre afirma que as mudanças implantadas pela Prefeitura do Recife não tem surtido o efeito na melhoria da mobilidade. Secretário também considera uso do carro irracional

Rádio Jornal
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Publicado em 28/03/2018 às 11:38

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Em entrevista à Rádio Jornal, o secretário de Planejamento Urbano do Recife, Antônio Alexandre, afirmou que o debate sobre a mobilidade urbana no Recife é cultural e as soluções passam pela construção de um pensamento metropolitano. Ouça a entrevista completa:

Nesta quarta-feira (28), a Prefeitura do Recife realiza uma audiência pública para debater a mobilidade da capital pernambucana. De acordo com o secretário, essa é a vez da população analisar, discutir e sugerir contribuições. Entre os temas setoriais a serem definidos estão segurança viária, pedestres, ciclistas, transporte público de passageiros, transporte de carga, polos geradores de viagem e estacionamentos.

Audiência pública pretende definir prioridades da mobilidade no Recife

Soluções complexas

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De acordo com o secretário de Planejamento Urbano do Recife, as questões que cercam a mobilidade urbana da cidade são complexas e não passam por soluções isoladas. "Temos que buscar soluções integradas que atendam às necessidades de deslocamento que as pessoas têm e oferecer alternativas de opções", afirma. Talvez um dos maiores problemas a serem enfrentados é de que não temos alternativas que garantam segurança, conforto e rapidez para os deslocamentos que precisamos fazer na cidade", diz.

Uso do carro

"Muitas vezes, as pessoas pegam o seu carro individualmente, um carro ocupado por apenas uma pessoa, saem de casa de manhã e e se deslocam para o trabalho e volta de noite para casa. O carro fica o dia todo estocado, fazendo um trajeto pendular trabalho-casa ou casa-trabalho-educação", explica o secretário. "Realmente isso não é racional", afirma.

Para Antônio Alexandre, existem muitas experiências no mundo inteiro que podem oferecer conforto ao usuário que deseja alternar o modal utilizado para o deslocamento. "Nós temos que construir um modelo que seja vantajoso para as pessoas se deslocarem com conforto, segurança e rapidez de bicicleta, andando, de ônibus, de metrô", ressalta. "O uso do transporte compartilhado tem crescido muito no mundo inteiro. As pessoas aproveitam o trajeto em comum para oferecer aquela carona solidária ou até mesmo remunerada, como já existem aplicativos implantados", afirma.

Transporte coletivo

Para o secretário, os desafios enfrentados pelo poder público passam pela escolha por um determinado modal. "Precisa ser vantajoso para as pessoas pegar [o transporte público]. Se ela vai se deslocar apenas de manhã e de noite, ela precisa ter a garantia que o transporte vai andar por um corredor exclusivo que vai ter muito mais rapidez para o seu deslocamento do que ficar dentro de um carro, com todo o estresse do trânsito, preocupado com estacionamento", diz. "Tem que ser vantajoso optar por outro tipo de deslocamento que não seja o carro", completa.

Para o secretário, a implantação do sistema de transporte rápido por ônibus (BRT) sofreu dificuldades de suspensão de recursos, por isso não deu certo como poderia ter dado. "É um sistema que pode vir a ser eficiente se for implantado adequadamente e se não tiver interrupções", diz. "Nem tudo foi responsabilidade do planejamento e do projeto que foi feito pelo Governo do Estado", reforça.

"O problema do transporte coletivo é uma discussão que a sociedade precisa abraçar qual o é o padrão de transporte a ser oferecido, inclusive discutindo o modelo tarifário", diz. "A gente tem que fazer um processo de transição para um modelo que atenda com eficácia o cidadão", afirma.

Problema metropolitano

"A cidade do Recife não vai conseguir resolver apenas isoladamente um problema hoje que é metropolitano", diz. Uma pessoa que é de Jaboatão, estuda em Recife e trabalha em Olinda, por exemplo, precisa se deslocar com eficácia e isso não pode ser resolvido apenas pelo Recife, afirma. "Precisamos construir um modelo metropolitano em que a sociedade participe, exija soluções", diz.

Para o secretário, o debate também é de natureza cultural. "As pessoas precisam se descolar nos mesmos horários, ao mesmo tempo, pelos mesmos percussos, praticamente. Já existem lugares no mundo que escalonam esses horários e flexibilizam os locais", diz.

Sem soluções eficazes

Sobre a audiência pública, o secretário afirma que é uma tentativa de buscar uma solução para um problema crônico da cidade. "A discussão do plano municipal de mobilidade não pretende mudar a realidade da cidade através de legislação ou através de decreto", diz. "Estamos abrindo um debate para dizer que as soluções habituais que temos colocado ultimamente não tem atendido e não tem resolvido às necessidades de resolução dos problemas de mobilidade", admite.

Plano de Mobilidade do Recife terá como princípio o desestímulo ao uso do automóvel

Audiência pública

A audiência é aberta ao público e ocorre nesta quarta-feira (28), das 14h às 15h, na sede da Prefeitura do Recife. Os interessados podem se dirigir ao 15º do prédio.