VIOLÊNCIA

Rio registra aumento de 40% no número de tiroteios

A conclusão está no estudo denominado Vozes sobre a Intervenção, que observou a violência nos últimos 12 meses no Rio de Janeiro

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 16/08/2018 às 18:00
Agência Brasil
FOTO: Agência Brasil

Nos últimos meses, o Rio de Janeiro registrou aumento de 40% no número de tiroteios, passando de 3.477 para 4.850 e, no mesmo período, houve uma migração de determinados tipos de crime, como o roubo de cargas, para o interior do estado. A conclusão está no estudo denominado Vozes sobre a Intervenção, com 40 páginas, divulgado nesta quinta-feira (16).

O relatório foi elaborado pelo Observatório da Intervenção, uma iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, que observou os últimos 12 meses, considerando também a implementação da intervenção federal na segurança do Rio, em 16 de fevereiro deste ano.

A atuação das forças policiais no combate ao roubo de cargas fez com que este tipo de crime migrasse da região metropolitana para o interior do estado – sobretudo nas regiões de Tanguá, Rio Bonito e Itaboraí, houve crescimento em comparação aos registros do ano passado. A média de roubos de fevereiro a junho, no período de 2003 a 2017, foi de 33,5 registros policiais. O número saltou para 200 desde a intervenção.

Preocupação

O relatório destaca a preocupação com as taxas de homicídios e chacinas, assim como as disputas entre quadrilhas, incluindo milicianos e ressalta que o município de Queimados registrou o maior índice de mortes violentas do Brasil.

Para os pesquisadores, a redução dos homicídios passa necessariamente pelas investigações e elucidação dos crimes, inibição do uso indiscriminado de armas de fogo, desarticulação de “esquemas crônicos” de corrupção envolvendo agentes públicos e pela presença de policiais em áreas mais violentas.

O estudo ressalta a necessidade de aprimoramento de mecanismos de gestão e monitoramento e de ntegração entre polícias, guardas municipais e sistemas de vigilância privada. Os pesquisadores apelam ainda para o combate ao “desalento” da sociedade.

Outro lado

Em nota, o Gabinete da Intervenção Federal (GIF) informou que há uma tendência de redução nos próximos meses. Segundo a assessoria do GIF, o esforço é para melhorar a gestão na área de segurança pública do estado.

O GIF citou como medidas a capacitação de policiais militares, principalmente das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a compra de equipamentos e a implementação de tecnologia. Outra medida destacada pelo GIF foi o aumento ostensivo de patrulhamento nas ruas.

A meta é treinar 2.500 agentes de segurança para o policiamento nas ruas, assim como o cumprimento de mandados judiciais, verificação de denúncias de ações criminosas e de outras condutas ilícitas.

Durante ações comunitárias na Vila Kennedy e na Praça Seca, na zona oeste do Rio, foram feitos 25 mil atendimentos que vão desde a emissão gratuita de documentos à assistência médica, odontológica e vacinação, além de orientações sobre mercado de trabalho e alistamento militar.

Mais dados

O estudo mostra ainda que há disparidade de crimes entre a zona sul do Rio, a Baixada Fluminense e as outras regiões do estado. Nos últimos seis meses, Copacabana, na zona sul, registrou seis roubos de veículos, enquanto São Gonçalo, na região metropolitana, teve 2.304.

As mortes decorrentes de ação policial também apresentam discrepância de números: em Botafogo, zona sul, uma pessoa foi morta nessas condições, enquanto na Baixada Flumense - em São Gonçalo, houve 58 vítimas e 44 em Nova Iguaçu.

Pelos dados do relatório, de fevereiro a julho deste ano, 736 pessoas foram mortas por policiais. O estado registrou 2.617 homicídios dolosos e 99.571 roubos.

“A intervenção tem utilizado em todos esses meses o foco de operações militares com tropas na rua, com milhares de policiais e quase nada na área de inteligência”, disse a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesac), Sílvia Ramos.

“Quando a gente vê a apreensão de um fuzil, foi o resultado de um confronto de uma operação de mil homens. A gente não tem visto fuzis sendo apreendidos antes de chegarem a seu destino. Isso seria um trabalho de inteligência”, acrescentou a cientista política.