A FÉ O VOTO

Nenhuma religião no Brasil tem tanta influência eleitoral como a evangélica, diz especialista

Última matéria de reportagem sobre eleições aborda o poderio evangélico e formação de clãs políticos. Cientista político aposta que bancada evangélica vai crescer

Rafael Souza
Rafael Souza
Publicado em 31/08/2018 às 12:56
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Em 2018, o número de candidatos da chamada bancada religiosa subiu 11% em relação as eleições 2014. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral. A tendência de crescimento já era observada em 2014, quando a soma de votos dos candidatos evangélicos para presidente chegou perto dos 23 milhões de eleitores. Na última reportagem da série “Ideologia, fé e voto: o raio-X das eleições 2018”, é hora de analisar o avanço das candidaturas religiosas e o quanto isso afeta o estado laico. Escute na reportagem de Natália Hermosa e Rafael Souza.

Força avassaladora

Em 2018, ao todo, são 568 candidaturas com perfil religioso. Dentro desse universo, 524 candidatos são evangélicos, o que corresponde a mais de 92%. Eles, inclusive, tem representantes na corrida presidencial. Marina Silva (Rede) e o Cabo Daciolo (Patriota), que é pastor e leva até a bíblia como escudo pra os debates.

O cientista político e jornalista Juliano Domingues associa o crescimento dos grupos religiosos na política à falta de confiança do eleitor nas instituições.

Em Pernambuco, há candidatos ligados à bancada religiosa concorrendo à vaga de vice-governador, senador e deputados estaduais e federais. A exceção é apenas pra o Governo do Estado. Disputa uma vaga de vice, Fred Ferreira, do Partido Social Cristão (PSC). Para o cargo de senador, Pastor Jairinho (Rede), é o representante dos evangélicos.

Para deputado federal e estadual, o número de candidatos com perfil religioso é bem maior. São pelo menos 38 buscando uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco e 18 concorrendo a uma vaga no Congresso Nacional. Para o cientista político Antonio Lavareda, nenhuma outra religião no Brasil tem tanta influência numa eleição.

Estado Laico

O artigo quinto da constituição federal de 1988 diz que o Brasil é considerado um estado laico. No entanto, o avanço eleitoral de seguimentos religiosos, geralmente ligados ao conservadorismo, é na opinião de especialistas, como o sociólogo Rafael do Santos, uma sombra para a neutralidade do estado brasileiro.

Presença garantida no parlamento brasileiro, nas câmaras estaduais e municipais pelo Brasil, os políticos evangélicos são há muito tempo tendência em pernambuco. Aqui no estado, também governam duas das três maiores cidades: Jaboatão e Olinda. De acordo com a cientista política Priscila Lapa, essa força ainda é encontrada na consolidação de famílias em cargos de poder como os Ferreiras e os Collins, constituindo assim verdadeiros clãs.