O QUE VEM DEPOIS DO VOTO

Mesmo com renovação alta, Congresso deve ficar ainda mais conservador

Para cientista política, renovação de 52% do Parlamento não vai mudar perfil conservador. Reformas de Temer dificilmente serão revertidas.

Rafael Souza
Rafael Souza
Publicado em 19/10/2018 às 10:44
Foto: Agência Câmara
FOTO: Foto: Agência Câmara

Apesar do percentual de renovação de 52% e da fragmentação dos partidos que vão compor o Congresso no ano que vem, especialistas acreditam que os parlamentares eleitos mantém o perfil conservador. Dessa forma, dificilmente as pautas progressistas passarão pela Câmara e pelo Senado.

Para a cientista política Priscila Lapa, da UFPE, quem vencer as eleições no segundo turno para presidente vai precisar de jogo de cintura pra negociar as votações e reformas que já estão engatilhadas. O perfil do novo Congresso é o destaque da terceira e última matéria da série “Novo cenário político: o que vem depois do voto”, dos jornalistas Natália Hermosa e Rafael Souza. Escute no áudio abaixo.

E agora?

Nas eleições 2018, partidos tradicionais como PSDB e MDB perderam espaço no Congresso, enquanto o chamado “centrão” se manteve estável. Para o cientista político Adriano Oliveira, da UFPE, o fraco desempenho do tucano Geraldo Alckmin como candidato a presidência foi decisivo pra o recuo do partido nas casas legislativas. O ex-governador paulista não chegou a 5% dos votos válidos.

Novas caras, histórias antigas

Em Pernambuco, o PSB vai ocupar 11 das 49 cadeiras na Assembleia Legislativa, conquistando a maior bancada. Em segundo lugar ficou o PP, que elegeu 10 deputados. Com maioria na Alepe, o governador reeleito no primeiro turno, Paulo Câmara, não deve ter dificuldade pra aprovar pautas.

Uma característica presente há décadas no estado se fortaleceu: o “filhismo”. Filhos, netos e parentes de figuras conhecidas na política local tiveram um bom desempenho nas urnas. Para a câmara federal, por exemplo, o destaque para os campeões de voto João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto do também ex-governador Miguel Arraes e a prima dele, Marília Arraes (PT).

No cenário local, Guilherme Uchôa Júnior, filho do ex-presidente da Alepe, Guilherme Uchôa (morto em 2018), teve a terceira maior votação para deputado estadual. Os herdeiros do deputado federal pelo Avante, Sílvio Costa, também encontraram um lugar à sombra no parlamento. O filho mais novo dele, João Paulo Costa, foi eleito deputado estadual, enquanto o irmão mais velho, Sílvio Costa Filho, que já era líder da oposição na Alepe, se elegeu deputado federal.

Para o sociólogo Rafael dos Santos, essa representação das famílias no espaço de poder é um retrato histórico da sociedade. Mesmo com perfil familiar ainda forte no parlamento, novas caras conseguiram espaço ao dialogar diretamente com a população.

É o caso da famosa delegada Gleide Angelo, que conquistou a maior votação da história para o cargo de deputada estadual em Pernambuco, pelo PSB.Para a cientista política Priscila Lapa, o fenômeno Gleide representa uma mudança de comportamento no voto trazendo esperança de renovação pra o eleitorado.