ENTREVISTA

Presidente do PSL diz que Bolsonaro vai extinguir Ministério das Cidades

Luciano Bivar disse que Bolsonaro pretende fazer mudanças na relação entre União, estados e cidades. Para o presidente do PSL, disputa para Presidência da Câmara deve ser discutida internamente. Ele também é contra o fim da reeleição

Maria Luiza Falcão
Maria Luiza Falcão
Publicado em 30/10/2018 às 10:05
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FOTO: JC Imagem

Em entrevista à Rádio Jornal, o presidente do PSL Luciano Bivar afirmou que o Ministério das Cidades deve ser extinto no Governo Bolsonaro. A pasta foi criada no dia 1º de janeiro de 2003, quando e então presidente Lula assumiu o cargo, com o objetivo de combater desigualdades sociais. Para Bivar, o novo governo vai mudar a forma de interlocução com os prefeitos e governadores, alterando a relação com cidades e estados, e esvaziando o Ministério das Cidades de significado. "O Ministério das Cidades vai acabar. Vamos fazer uma linha direta com as cidades e os estados", disse.

Perguntado se os governadores que não apoiaram a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência da República, como é o caso do governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB), Luciano Bivar afirmou que o relacionamento será republicano e que o novo governo vai trabalhar para que os recursos cheguem aos estados e municípios sem necessidade dos gestores ficarem de "pires na mão". "Tenho conversado com Paulo Guedes, nós vamos fazer um projeto de economia para que as coisas cheguem aos municípios sem os prefeitos precisarem ir a Brasília", disse. "As emendas serão impositivas e serão distribuídas automaticamente sem necessidade de um deputado federal para intervir", completou.

Reforma de Temer X Reforma de Bolsonaro

Perguntado sobre a proposta do presidente Michel Temer de adiantar uma reforma da previdência ainda este ano, Bivar afirmou o entendimento dele é que a reforma comece o mais rápido possível. O provável futuro ministro Chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni (DEM) já se posicionou contrário ao atual projeto. Para ele, a reforma tem que ser mais ampla e a longo prazo que a proposta pelo governo atual. "Tenho falado com Paulo Guedes em dar início a uma reforma, se possível ainda no Governo Temer. Se essa não está legal, vamos aprimorar", disse. "Não podemos olvidar as questões sociais, os direitos sociais e adquiridos", completou, ainda falando sobre previdência.

Relação com o PT

Para o presidente do PSL, a relação entre os partidos vai depender do discurso que o PT empregue daqui para frente. "Se o PT quiser esquecer essa seita, essa ideia que eles estão sempre certos e os outros estão sempre errados, a gente vai chegar a um entendimento. Os projetos não devem ter capa, não devem ter coloração. Se não, não vamos chegar a um entendimento", disse. "Eu como presidente do PSL vou trabalhar para unificar o meu partido o mais rápido possível", completou.

Relação com Bolsonaro

Bivar afirmou que mantém relação cordial com Bolsonaro, mas afirma que tratamento agora será mais institucional. "Não sou amigo do Bolsonaro, ele me respeita, mas não sou próximo, não conheço ele tão de perto. O que passa pela cabeça dele eu não poso te falar", disse. "Eu sei o que ele diz, o que ele se propôs. Na carta que escrevemos em cinco de janeiro nos comprometemos em respeitar a Constituição, o Estado de Direito, de ter uma economia de mercado aberta. Isso nós queremos colocar em prática", completa.

Presidência da Câmara

Atualmente, o PSL tem 52 deputados e o PT tem 57. O partido do novo presidente, porém, pretende aumentar a bancada. Perguntado se pretende se colocar como candidato a presidente da Casa, Bivar afirma que isso vai depender de um entendimento mais amplo do partido, já que o próprio presidente eleito discorda do partido estar no comando da Câmara. "Tradicionalmente, o partido com maior número de parlamentares na Câmara indicaria o presidente, que no caso é o PSL. Mas há um entendimento de Bolsonaro que o PSL deveria abrir mão da presidência", disse. "Estou no Recife, mas já conversei com algumas pessoas, mas acho que esse é um assunto que devemos colocar em pauta. É claro que a opinião do Bolsonaro é uma diretriz, mas é um assunto que a gente ainda não discutiu na bancada", completa.

Presidência do PSL

Bivar havia deixado o comando do partido para se dedicar à candidatura a deputado federal em Pernambuco. Passada a eleição, o então presidente Gustavo Bebianno passou a se dedicar à transição de governo junto com Bolsonaro e Temer e Bivar voltou à presidência. "Eu não podia deixar o partido acéfalo. O nosso partido tem uma razão de ser", disse. "Não podia deixar que acontecesse o que aconteceu com o de Collor há 16 anos. Bolsonaro diz que não quer ser reeleito daqui a 4 anos e nós precisamo continuar apesar disso. Não podemos fulanizar", completou.

Parlamentares sem comando

Perguntado se ele pretende que o partido chegue a 70 parlamentares, Bivar afirma que não vai ficar correndo atrás de nenhum deputado para que ele entre no partido. "O deputado que não participa de uma comissão, que não tem fundo partidário para se mexer como deputado, é um deputado de segunda classe. Esses deputados que não estão nessa situação de zumbis, vão procurar outras legendas", afirma. "Não vai ser eu que vai ficar ligar para deputado A, B ou C. O nosso partido está aberto, desde que comungue com as nossas ideias liberais", completa.

Fim da reeleição

Luciano Bivar afirma que não concorda com o fim da reeleição. "Cada vez que você muda a Constituição é muito ruim. Se for uma renúncia pessoal do Bolsonaro, já que cabe a ele ser candidato a reeleição ou não, é uma coisa louvável. Mas fazer uma proposta para alterar a Constituição, eu tenho minhas restrições", diz.