O psiquiatra Evaldo Melo criticou as mudanças apresentadas pelo governo Bolsonaro na política de saúde mental. Em entrevista à Rádio Jornal, o especialista chamou a medida de retrocesso na luta antimanicomial no Brasil. Na última semana, o Ministério da Saúde divulgou uma nota técnica onde apresenta mudanças na atual política de saúde mental, álcool e outras drogas no país.
De acordo com o documento, a nova política sugere a oferta de eletroconvulsoterapia, conhecida como eletrochoque, e reforça a possibilidade da internação de crianças em hospitais psiquiátricos. A nota ainda prevê abstinência para o tratamento de dependentes de drogas, prática que vai contra o tratamento de redução de danos adotado há cerca de 30 anos no brasil.
Para o psiquiatra Evaldo Melo, todo os avanços conquistados na área de saúde mental estão ameaçados. “O projeto do novo plano de saúde mental do Ministério vai piorar e vai piorar muito. Os avanços dos últimos 30 anos, deixar que a pessoa que sofre de qualquer doença não fique num hospital psiquiátrico anos e anos, todo esforço que tem sido feito para mudança da política (...) Tudo isso está ameaçado”, destacou.
No entanto, segundo o especialista, no Recife, por exemplo, cabem mudanças na área já que os centros de atenção psicossocial (Caps), e o Hospital Ulysses Pernambucano, mais conhecido como Hospital da Tamarineira, concentram toda a demanda da região. “Eu fui uma voz isolada naquela época, na década de 90, onde eu dizia que você não pode prever uma rede de atenção à saúde mental onde não haja internação (...) Você não pode excluir de uma rede um espaço de internação integral. E eu acho que isso foi um equívoco da reforma psiquiátrica”, ponderou.
Ministro da Saúde se pronuncia
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o texto preparado pela equipe que dá sinal verde para a compra no sus de aparelhos para eletrochoque será revisto. Mandetta afirmou que alguns tópicos poderão ser alterados.