Estudos científicos

Dexametasona reduziu em 33% a mortalidade para pacientes graves da covid-19, diz médico sobre estudo

Médico Paulo Neto comentou estudo da Universidade de Oxford sobre resultados positivos da dexametasona no tratamento de pacientes com coronavírus

LOURENÇO GADÊLHA
LOURENÇO GADÊLHA
Publicado em 17/06/2020 às 11:45
Martin Lopez/Pexels
FOTO: Martin Lopez/Pexels

Em entrevista ao Passando a Limpo desta quarta-feira (17) o médico e piloto aéreo Paulo Neto comentou os resultados de estudos científicos da Universidade de Oxford, em Londres, no Reino Unido, que mostra que o corticóide dexametasona reduz de forma significativa o índice de mortalidade de pacientes hospitalizados com a Covid-19. O estudo vem sendo apontado como o primeiro passo na luta para salvar a vida dos pacientes que contraíram coronavírus.

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De acordo com o médico, os cientistas ingleses usaram o método duplo-cego randomizado, que separa dois grupos de pacientes em mesmo estado clínico para fazer o uso do dexametasona e do tratamento tradicional. “É chamado de randomizado porque separa dois grupos de forma aleatória com pacientes em condições clínicas bem parecidas e duplo-cego porque nem os pacientes sabem que tipo de medicação estão recebendo, nem o médico sabe se ele está administrando o placebo ou o corticoide. É feito dessa forma para não dar um viés de interpretação seja por parte do médico ou por parte do paciente. Então só quem sabe são os controladores do estudo”, explicou.

Resultados

Um total de 6.000 pacientes foram divididos em dois grupos: um com 4.000 pessoas recebeu tratamento tradicional e outro, com 2.000 pessoas, recebeu também o dexametasona. “O estudo chegou a conclusão que os pacientes mais graves, que precisam estar em UTI com o auxílio de ventilação mecânica, a eficácia da dexametasona subiu para 1/3 dos pacientes, ou seja, 33% dos pacientes que receberam a dexametasona melhoraram o quadro clínico”, disse o médico sobre os casos mais graves.

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Já nos infectados que precisavam de oxigênio suplementar, sem intubação em uma UTI, a redução menor. “Os pacientes com coronavírus que precisam de oxigênio, porém, podem ser tratados fora de uma UTI, houve uma melhora de cerca de 25% desses pacientes. Ou seja, a taxa de recuperação foi de 25% maior quando comparado ao grupo que recebeu apenas o placebo”, avaliou Paulo Neto.

Por fim, o grupo de pacientes que apresentam sintomas mais leves, o uso do medicamento mostrou pouca eficácia. “De acordo com o estudo, os pacientes portadores da covid-19 que não precisam de oxigênio e que estão com sintomas leves, o uso da dexametasona não foi eficaz e não mostrou diferença em relação ao placebo”.

“Esse estudo da Universidade de Oxford teve um impacto no Brasil, na China e em todo mundo”, finalizou Paulo Neto, que é médico e piloto, e reside em Hong Kong, sudeste do país asiático. Os demais detalhes do estudo ainda não foram divulgados, como também ainda não foi publicado em revista científica.

Sociedade Brasileira de Infectologia

Diante dos resultados, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou nota destacando os resultados do estudo Recovery da Universidade de Oxford com o medicamento dexametasona que mostraram efeitos positivos no tratamento da covid-19. A entidade analisou que os resultados permitem uma conclusão prática: “todo paciente com covid-19 em ventilação mecânica e os que necessitam de oxigênio fora de Unidade de Terapia Intensiva devem receber dexametasona via oral ou endovenosa 6mg uma vez por dia por 10 dias”.

Ouça a entrevista na íntegra: