MEIO AMBIENTE

"Não toquem", pede pesquisador após novas caixas surgirem no litoral pernambucano

De acordo com o pesquisador, as caixas devem continuar aparecendo no litoral nordestino

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 28/06/2020 às 17:52
Cortesia: Martha Lisboa
FOTO: Cortesia: Martha Lisboa

Quase dois anos após caixas de borracha surgirem no Litoral de Pernambuco, novos objetos voltaram a ser avistados. Neste domingo (28), alguns desses fardos foram encontrados na praia de Serrambi, no Litoral Sul do Estado. O biólogo, pesquisador, oceanógrafo e professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho Junior, pede que as pessoas evitem tocar nesse material e alerta que as caixas são um “prejuízo significativo para o meio-ambiente”.

De acordo com o especialista, um laudo pericial realizado em setembro de 2019 pela Polícia Federal constatou que os fardos são de látex, matéria-prima para produção de material emborrachado como botas, preservativos e pneus. “Durante a deterioração desse material ele pode liberar pequenos pedaços que infelizmente podem ser ingeridos por tartarugas, cetáceos e até por peixes e aves marinhas. É um prejuízo significativo para o meio ambiente”, afirmou.

Ainda segundo o especialista, o objetivo do laudo solicitado pela Polícia Federal também era identificar se havia relação entre o derramamento de óleo que atingiu o litoral nordestino naquele período, o que foi descartado pelo estudo desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará. No entanto, tanto as caixas quanto as manchas de óleo foram trazidas pela mesma corrente marítima.

“Essas caixas estão sendo trazidas pela mesma corrente que trouxe as manchas de óleo, uma corrente Sul-Equatorial que deriva à norte e ao sul. Com a agitação do mar, principalmente agora com o início do inverno - na semana passada nós tivemos uma ressaca, um mar um pouco mais agitado, com ondas maiores, um vento sul bastante forte – [o material] veio parar aqui no nosso litoral”, explicou.

Ele pede que a população tenha cuidado ao avistar algum caixa desta. “Esse material, apesar de ser um látex extraído da seringueira, pode ser perigoso. Não pelo material em si, mas durante o seu processamento na cura do látex é utilizada uma série de compostos que podem ser perigosos e podem liberar compostos nocivos à natureza ou até metais pesados. Todo cuidado é importante. É preferível que não se manuseie esse material”, detalhou.

O pesquisador orienta quais procedimentos tomar caso alguém encontre uma dessas caixas. “Entrem em contato com a prefeitura, com as autoridades locais e, se for o caso, com as autoridades estaduais, para que seja retirado e levado ao destino como um aterro sanitário e tendo até a possibilidade de ser reciclado, reutilizado. Esse material está chegando ao nosso litoral, a gente vai continuar vendo esse material chegar. Então, vale o alerta: não toque, evite tocar nesses fardos e comunique as autoridades locais”, destacou.

Novas caixas

O registro dos objetos foi feito pela agrônoma Martha Lisboa. Ela contou que estava caminhando pela praia de Serrambi, neste domingo (28), quando se deparou com as caixas de borracha.

"Caminhando na praia, eu encontrei esses fardos, que pareciam ser de borracha. Fiquei curiosa para saber se tinham caído de algum navio, pesquisei sobre as caixas e encontrei que provavelmente são de um navio alemão da segunda guerra mundial, que afundou no nosso litoral", contou Martha em um dos vídeos gravados.

Há alguns dias, outras caixas foram encontradas nas praias do Cupe e Muro Alto, vistos em um trecho de 5 quilômetros.

Primeiros registros

Os fardos começaram a aparecer nas praias de Alagoas no dia 24 de outubro de 2018, sendo a primeira ocorrência no Ceará registrada apenas dois dias depois. Caucaia, Camocim e Aracati foram os primeiros locais no estado. Em Fortaleza, os primeiros pacotes chegaram após cinco dias, na praia do Serviluz. Pesando cerca de 100 kg e identificados um mês depois pelo laboratório do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) como sendo composto por borracha.

Em Pernambuco, as caixas começaram a surgir em outubro de 2018. Seis fardos foram encontrados em Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. As primeiras duas caixas apareceram no último sábado na praia do Bairro Novo, em Olinda, provocando a curiosidade dos banhistas.

Origem das caixas

O professor Clemente Coelho Junior explicou que a origem das caixas ainda não é certa, apesar dos resultados obtidos em um estudo da Universidade Federal do Ceará. “Através de um modelo matemático de tecnologia reversa na qual, pegando cada ponto onde apareceram essas caixas, esses fardos de látex, [os pesquisadores] chegaram a aproximação de um navio que naufragou em meados de 1944, possivelmente um navio de guerra da Alemanha. Eles relacionaram [o aparecimento das caixas] ao navio chamado Rio Grande, que estaria levando esse material para alguma produção”, contou.

O estudo foi desenvolvido em outubro de 2019 por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC). A equipe tentava explicar o surgimento de manchas de óleo que surgiram no litoral nordestino, a partir do estudo de dados históricos, físicos e biológicos. Após análise das informações, os estudiosos também chegaram a uma possibilidade para o surgimento das caixas de látex. O material estaria no navio alemão SS Rio Grande, que naufragou na costa do Recife na década de 1940.