PANDEMIA

Covid-19: infectologista aponta que alta mortalidade do Recife está associada à baixa testagem

De acordo com o infectologista, no começo da pandemia, Recife testava apenas os casos graves da covid-19

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 05/08/2020 às 17:00
Bruno Campos - JC Imagem
FOTO: Bruno Campos - JC Imagem

Um levantamento realizado pela coluna JC Saúde e Bem-estar, do Jornal do Commercio, com base nos dados oficiais divulgados pelas secretarias municipais de saúde, Recife é a segunda capital do Nordeste com a maior taxa de mortalidade da covid-10. De acordo com o levantamento, a capital pernambucana tem 129,6 mortes por 100 mil habitantes, e uma letalidade de 7,8 %. Recife fica atrás apenas da cidade de Fortaleza, no Ceará.

O infectologista Filipe Prohaska aponta que a baixa testagem no Recife, no começo da pandemia, afetou esse índice. “Fortaleza e Recife foram as primeiras cidades a sofrer com o coronavírus no Brasil, junto com São Paulo. Numa época em que a gente não tinha tanto exame disponível. Só fazia teste nos pacientes mais graves e aí nossas taxas de mortalidade eram altíssimas, de 15%, 16%. Só que se prendia naquela ideia de que todos os pacientes com coronavírus estavam no hospital, quando, na verdade, o vírus já estava na nossa população, já havia uma disseminação plena do vírus e os testes estavam restritos aos pacientes extremamente graves. Por isso que nós temos aquela falsa sensação de que a mortalidade era mais alta, mas na verdade a gente só estava testando os mais graves. Nós não estávamos testando tanto quanto nos dias atuais. Tanto é verdade que essa semana nós tivemos 1.800 casos novos em um dia com 34 mortos e aí, quando vai fazer isso numa porcentagem, são valores próximos a 5%, que é o que o mundo está vivenciando”, analisou o especialista.

Mortalidade e letalidade

A mortalidade e a letalidade são indicadores diferentes. A taxa de mortalidade mede o risco de pessoas virem a ter a doença e, em seguida, morrer. Já a letalidade mede a gravidade da infecção e a chance das pessoas já com a covid-19 ir à óbito, além de estar relacionada à severidade do vírus e a condições de atendimento na rede de saúde.

O médico infectologista Filipe Prohaska explica o que ocorreu no Recife. “A mortalidade é calculada na população total. Você faz o cálculo baseado no número de casos. Digamos, eu tive mil casos positivos, mas eu só testei pacientes graves. A mortalidade do grupo dos graves era de tantos por cento (...) A gente só estava calculando em cima de quem era testado. (...) A letalidade é o seguinte: o vírus contaminou um grupo populacional de 100 pessoas. [Deste total] 85 pessoas não apresentaram sintomas, dez pessoas apresentaram sintomas, mas se recuperaram, 5 tiveram a forma mais grave e morreram 2. [Então] 2% é a letalidade do vírus. Mas se eu for pegar aquela ideia de que eu só testei os mais graves e considerar que esses 5 são esses graves eu vou alcançar uma mortalidade de 20%”, detalhou.

Testar a população é o caminho

O especialista conclui que o aumento da testagem da população é a resposta matemática para diminuir a taxa de mortalidade. “Número de exames é o segredo. Se você testa mais, você diagnostica mais e você vai pegar mais casos que tiveram bom prognóstico. Ou seja, se eu estou testando todo mundo eu estou vendo os que tem com casos leves e moderados. Se eu só testar os graves eu vou restringir muito isso. Onde se testa mais vai diluindo essa taxa de mortalidade”, apontou.

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização.
- Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
- Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.