VIOLêNCIA SEXUAL

Criança que engravidou após estupros do tio enfrenta protesto de grupo anti-aborto no Recife

A criança, de apenas 10 anos, sofria os estupros há pelo menos quatro anos; Justiça autorizou o procedimento, que deve ser feito no Cisam

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 16/08/2020 às 19:30
Roberta Soares/ Jornal do Commercio
FOTO: Roberta Soares/ Jornal do Commercio

A menina de 10 anos que engravidou após ter sido estuprada pelo tio, no estado do Espírito Santo, foi transferida para Pernambuco para interromper a gestação após a Justiça daquele Estado autorizar o procedimento. A criança foi transferida para o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, onde deve realizar o procedimento.

Neste domingo (16), dezenas de pessoas se reuniram em frente ao Cisam para protestar contra o procedimento. Sob as acusações de que estariam assassinando um bebê, o grupo anti-aborto se ajoelhou em diversos momentos para rezar em protesto contra o procedimento que deve ser realizado na criança no hospital.

Leia também >> Casal é preso por estupro de filhos, netos e sobrinhos, em Jaboatão dos Guararapes

As manifestações contra o aborto legal começaram comandadas pelos deputados estaduais Clarissa Tércio (PSC) e Joel da Harpa (PP) e o vereador Renato Antunes (PSC). Em seguida, os deputados estaduais Clayton Collins (PP) e Teresinha Nunes (PSDB) e a vereadora Michelle Collins (PP) também se juntaram ao grupo.

 
 

Houve confusão e pessoas em defesa da saúde da criança de 10 anos e do procedimento que foi autorizado pela Justiça também foram para frente do Cisam para tentar barrar a ação do grupo anti-aborto.

O Cisam ainda não deu detalhes sobre qual tratamento a criança deverá ser submetida.

Em nota, a Secretaria de Saúde de Pernambuco lembra que o Cisam é referência estadual neste tipo de procedimento e acolhimento das vítimas e que está seguindo a legislação referente à interrupção da gravidez.

Confira a nota completa:

“A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informa que segue a legislação vigente em relação à interrupção da gravidez (quando não há outro meio de salvar a vida da mulher, quando é resultado de estupro e nos diagnósticos de anencefalia), além dos protocolos do Ministério da Saúde (MS) para a realização do procedimento, oferecendo à vítima assistência emergencial, integral e multidisciplinar. Em relação ao caso citado, é importante ressaltar, ainda, que há autorização judicial do Espírito Santo ratificando a interrupção da gestação. É importante reforçar, também, que o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE) é referência estadual nesse tipo de procedimento e de acolhimento às vítimas. Por fim, ratifica-se que todos os parâmetros legais estão sendo rigidamente seguidos”.

Entenda o caso

No dia 8 de agosto, a criança deu entrada no Hospital Estadual Roberto Silvares, em São Mateus, no Espírito Santo, apresentando sinais de gravidez. Após a realização de exames, a equipe médica constatou que a menina estava grávida de ao menos três meses.

Segundo o inquérito da Polícia Civil do Espírito Santo, a criança contou que era estuprada pelo companheiro de sua tia, um homem de 33 anos, há pelo menos quatro anos e que era ameaçada por ele, por isso não denunciou os abusos. O suspeito está foragido desde que o caso foi revelado.

O homem foi indiciado pelos crimes de ameaça e estupro de vulnerável, ambos praticados de forma continuada.

A criança foi levada para um abrigo onde está sendo atendida por médicos, psicólogos e assistentes sociais. O caso também é acompanhado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Quando o aborto é autorizado no Brasil?

O aborto é autorizado no Brasil quando não há outro meio de salvar a vida da grávida, quando é resultado de estupro e nos diagnósticos de anencefalia. O procedimento deve ter consentimento da gestante ou, em caso de incapaz, de seu representante legal. O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre a interrupção da gravidez.

De acordo com a legislação brasileira, não existe um tempo específico para interromper a gestação em casos de estupro.