CORONAVÍRUS

Especialista diz que não é normal população acompanhar teste de vacina

Expectativa da população por uma vacina contra o novo coronavírus revela comportamento que não é normal

Yuri Nery
Yuri Nery
Publicado em 16/09/2020 às 18:29
 Dado Ruvic / Reuters
FOTO: Dado Ruvic / Reuters

A corrida das vacinas ao redor do mundo não para. A comunidade científica está empenhada na missão de encontrar um imunizante capaz de combater o novo coronavírus o quanto antes. Mas essa tarefa, que não é nada fácil, requer o cumprimento de etapas que são indispensáveis, como a fase de testes clínicos em voluntários.

A Universidade de Oxford, na Inglaterra, e nações como China e Rússia, já estão bastante avançadas no desenvolvimento de uma vacina, inclusive com algumas delas sendo testadas aqui no Brasil. Em entrevista ao programa Rádio Livre desta quarta-feira (16) a doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto Questão de Ciência (ICQ), Natália Pasternak, explicou que ainda é cedo para determinar se os imunizantes que estão nas fases mais avançadas de testes são promissores ou não. “Eu acho difícil a gente classificar as vacinas que estão em fase três agora, que estão nessa fase mais avançada de testes, e dizer qual que é mais promissora. Isso a gente só vai saber realmente quando terminar a fase três, quando a gente tiver resultados mais robustos para analisar, e ver se realmente elas estão protegendo as pessoas de ficarem doentes”.

A vacina de Oxford, que está sendo produzida pelo laboratório AstraZeneca, apresentou efeitos colaterais em humanos e precisou ter a fase três dos testes interrompida recentemente.

A notícia não foi vista com bons olhos pela população, que está na expectativa por um imunizante contra o novo coronavírus. Mas Natália Pasternak explica que é normal que isso aconteça nessa fase dos estudos. “É procedimento padrão. A empresa agiu bem em paralisar os testes até investigar o que realmente aconteceu. E é para isso que a gente faz teste. Eu acho que se fica uma lição desse episódio, é justamente isso. É para as pessoas entenderem que é por isso que é tão importante testar e esperar a conclusão dos testes. E é por isso que a gente testa vacinas em milhares e milhares de pessoas antes de liberar para a população, antes de começar a comercializar”, explicou.

Não é comum

Ela comenta que a surpresa da população acontece porque não é comum a sociedade ficar atenta a esse tipo de trabalho científico. “O que aconteceu é normal, é esperado, e eu acho que a surpresa da população fica porque o que não é normal é todo mundo acompanhando fase três de vacina. Quando foi a última vez, se é que existiu alguma vez na história, onde a população inteira estava acompanhando teste clínico de qualquer vacina? Seja lá qual for. Isso não é trivial para a população. Para quem está na área de pesquisa, sabe que é normal”, complementou a especialista.