EMPREGO

Após polêmica com programa do Magazine Luiza, advogada explica por que não existe racismo reverso

O Magazine Luiza criou um programa de trainees exclusivo para negros

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 23/09/2020 às 16:04
Reprodução/ Twitter
FOTO: Reprodução/ Twitter

A criação de um programa de trainees voltado exclusivamente para a população negra, anunciado pela rede de lojas Magazine Luiza, gerou debates nas redes e alguns internautas disseram que a atitude é segregadora e se trata de “racismo reverso”. No entanto, a advogada, ativista negra e integrante da Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco, Vera Baroni, critica a repercussão do caso e explica que o termo não pode ser aplicado pois “não existe racismo ao contrário”.

“O chamado racismo reverso é um termo bonitinho para falar [que é] racismo ao contrário. E não existe racismo ao contrário, porque o racismo é um sistema de opressão que foi instituído e construído a partir do século 16 que diz respeito a uma captura, ao sequestro [do povo negro], travessia Atlântica e 380 anos de escravidão cuja repercussão está presente até hoje em nossa sociedade. Nós já estamos mais do que na hora de tirar essa discussão da invisibilidade e trazer para a centralidade das questões políticas neste país”, afirmou a advogada.

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Segundo Vera Baroni, é preciso ter conhecimento para evitar compartilhar informações como essa. “Essas pessoas que classificam [a ação] como racismo, como discriminação, como até preconceito, certamente são pessoas que precisam conhecer melhor o significado de cada um desses conceitos. Se as pessoas tivessem conhecimento do que significa discriminação racial jamais abririam a boca para falar que uma ação como essa é uma ação discriminatória (...) Essas pessoas precisam se informar mais para que esse país possa se tornar um dia um país de igualdade como preconiza a nossa Constituição Federal”, destacou.

Para a ativista, polêmicas desse tipo acontecem porque o assunto tira a população branca da posição de privilégios. “Eu acredito que essa polêmica é gerada todas as vezes que se toca nos privilégios da branquitude (...) Esses programas de oportunidades para o primeiro emprego para jovens vêm acontecendo nos últimos tempos e, até agora, esses programas não tiveram a coragem de admitir jovens negros em igual situação. Para ocupar esses cargos há uma exigência de escolaridade e de conhecimento que com certeza jovens pretos e pardos estão prontos também para se submeter a essa seleção. Estranhamente, os negros não são selecionados”, criticou, em referência a outros processos seletivos que não contratam de forma igualitária a população negra. “Cada vez que uma ação afirmativa é empreendida, seja pelo Estado Brasileiro, seja pela iniciativa privada, cada vez que uma iniciativa é feita no sentido de proporcionar uma igual oportunidade aí o mundo acaba”, completou.

Programa do Magazine Luiza é mantido

No Twitter, ao anunciar o programa, a empresa anunciou que tem em seu quadro de funcionários 53% de pretos e pardos, e apenas 16% deles ocupam cargos de liderança. “Por isso, queremos desenvolver talentos negros como nossas futuras lideranças e ajudar a ampliar a voz da negritude no processo de digitalização no Brasil”, diz a postagem.

 

A presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, já afirmou que não vai desistir do programa de empregos para as pessoas negras mesmo após as críticas que vem recebendo.