O resultado preliminar de um estudo realizado entre abril e maio de 2020, início da primeira onda da pandemia da covid-19 no Brasil, indica que o medo de engravidar na pandemia da covid-19 se assemelha ao auge da epidemia de zika. A pesquisa é coordenada por pesquisadoras da Universidade do Texas (UT-EUA), em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O estudo tem o objetivo de entender como as mulheres brasileiras lidam com a saúde sexual e reprodutiva durante crises de saúde pública como a epidemia de zika e a atual pandemia da covid-19.
A doutora em sociologia pela UFPE e coordenadora geral de campo da pesquisa, Ana Paula Portella, explicou que o trabalho de campo do estudo foi realizado em Pernambuco, mais especificamente na Região Metropolitana do Recife, no Agreste e na Zona da Mata. "É uma pesquisa que está sendo feita por telefone (...) Na primeira fase da pesquisa a gente entrevistou 3.998 mulheres de 18 a 34 anos nessas regiões e o que a gente identificou é que a pandemia da covid-19 produz efeitos muito semelhantes aqueles que foram produzidos pela epidemia da zika no comportamento reprodutivo e nas intenções reprodutivas das mulheres. As mulheres estão muito preocupadas, receosas de engravidar nesse momento e preferem adiar. Algumas pensam até em não ter mais filhos”, destacou a pesquisadora.
Ela aponta que um dos fatores para o medo é o fato de gestantes terem um risco maior de ter um quadro grave de covid-19. “O medo maior é a hospitalização. Como a gente sabe, o coronavírus pode se tornar mais grave em mulheres grávidas. Apesar do risco de morte não ser maior, o risco de agravamento é maior. O período de internação é pesado e difícil, e as mulheres receiam isso durante a gravidez”, disse.
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Fator econômico
Segundo a pesquisa, a confiança das mulheres em relação à capacidade de controlar o risco de infecção e de gravidez varia dramaticamente de acordo com o status socioeconômico. “Quanto maior a escolaridade da mulher, mais segura e confiante ela se sente para tomar as medidas preventivas para não se infeccionar pelo novo coronavírus, que é este momento agora (...) As mulheres que têm maior escolaridade, em geral, elas também têm maior renda. Ela tem mais condição de fazer o home office, trabalhar em casa, controlar o seu comportamento no sentido de evitar aglomerações e manter o distanciamento social. As mulheres de menor renda e menor escolaridade, que também têm menos acesso à informação, enfrentam mais dificuldades nesse sentido. Para elas é mais difícil controlar o distanciamento social quando você mora numa residência muito pequena com poucos cômodos e muita gente, ou numa vizinhança em que os vizinhos também não controlam, não usam máscara e aglomeram. Então, elas vivem em maior risco", comentou.
Ouça a entrevista completa com a pesquisadora: