Vacinação contra covid-19

Pernambuco ainda não tem estoque suficiente de CoronaVac para garantir segunda dose em toda a população que já começou a ser imunizada

De acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco, Estado precisa de mais 71 mil doses de CoronaVac; não há previsão para recebimento de novo lote

Gabriel dos Santos Araujo Dias
Gabriel dos Santos Araujo Dias
Publicado em 08/05/2021 às 13:09
Divulgação/SES
FOTO: Divulgação/SES

Mais de uma semana após cidades pernambucanas suspenderem a aplicação da segunda dose da CoronaVac, o Estado de Pernambuco ainda não tem estoque suficiente para garantir a conclusão do esquema vacinal em toda a população que já recebeu a primeira parcela do imunizante. Principal fórmula usada contra a covid-19 no Brasil, a CoronaVac deve ser aplicada em duas doses com intervalo, conforme a bula, de até 28 dias entre a primeira e a segunda. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, Pernambuco recebeu mais 40 mil doses neste sábado (8), mas ainda precisaria de mais 71 mil para concluir este processo.

Com falta de insumos para produção da vacina, o Instituto Butantan reduziu as entregas de CoronaVac desde meados de abril. O problema é que, diferente do que aconteceu durante várias semanas no início da campanha de vacinação contra a covid-19 - quando as prefeituras guardavam 50% dos lotes recebidos para aplicação da segunda dose no tempo correto -, por orientação do Governo Federal, várias cidades começaram a usar todo o estoque de vacinas para aplicação da primeira dose.

Pernambuco recebeu novo lote de CoronaVac neste sábado (8)
Pernambuco recebeu novo lote de CoronaVac neste sábado (8)
Divulgação/SES

A promessa do Ministério da Saúde era de que os lotes continuariam sendo enviados normalmente e chegariam doses suficientes em remessas subsequentes para a segunda aplicação. A promessa não foi cumprida.

Em Pernambuco, cidades como Recife, Paulista, na Região Metropolitana, Caruaru e Belo Jardim, no Agreste, suspenderam a aplicação da segunda dose da CoronaVac. Deste modo, moradores destas cidades vão receber a segunda dose com intervalo maior do que o orientado pelos desenvolvedores do imunizante.

"O estoque para vacinação da segunda dose da CoronaVac/Butantan está zerado. Isso ocorreu após o posicionamento do Ministério da Saúde, que liberou a utilização de 100% das vacinas para realização da primeira dose, garantindo o envio da segunda dose, posteriormente, em tempo hábil (o que não ocorreu)", explicou, por exemplo, a Prefeitura de Belo Jardim, em nota, quando anunciou a suspensão da aplicação da segunda parte do imunizante.

CoronaVac suspensa em Caruaru
Aplicação de CoronaVac está suspensa em várias cidades de Pernambuco
Reprodução/Prefeitura de Caruaru

Lotes recebidos são insuficientes

Na manhã deste sábado (8), o governo de Pernambuco recebeu mais 40 mil e 600 doses da CoronaVac e o novo lote será destinado “exclusivamente para a segunda dose de idosos, além de trabalhadores das forças de segurança e salvamento do Estado”, segundo informou a Secretaria Estadual de Saúde.

O problema começou em 23 de abril. De acordo com o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, naquela data, o Estado esperava receber 120 mil doses da CoronaVac, mas recebeu muito menos: apenas 28.400. Depois, segundo a SES, Pernambuco recebeu mais 4.200 doses (em 29/04) e 14.600 (no último dia 1º). Um processo em conta-gotas que preocupa.

Com o lote recebido neste sábado, a segunda dose deve voltar a ser aplicada em algumas pessoas, mas não há quantitativo para todos. “[O novo lote] vai nos permitir dar prosseguimento à imunização da nossa população, inclusive de grupos prioritários recém-iniciados. Mas ainda aguardamos que o governo federal cumpra com o planejamento inicial e envie todo o quantitativo de doses que foi acordado, para que possamos consolidar a vacinação dos grupos que já haviam recebido a primeira dose e iniciar a imunização de novos segmentos”, disse o governador Paulo Câmara, em comunicado enviado à imprensa.

Explicando o déficit de mais de 71 mil doses de CoronaVac que faltam em Pernambuco, o secretário de Saúde, André Longo, endossou a fala do governador. “Esperamos que novas remessas cheguem o quanto antes, para que possamos ofertar a proteção adequada para a população”, disse Longo. Até aqui, o Estado já recebeu 1.830.160 doses da Coronavac/Butantan.

O que pode acontecer?

Na prática, ainda não se sabe se o atraso na aplicação da segunda dose vai resultar em um efeito igual, maior ou menor do que se a vacina fosse aplicada em até 28 dias, como preconiza a bula do imunizante. De acordo com médicos infectologistas e com o próprio governo estadual, com base em estudos com outras vacinas semelhantes, é improvável que a diferença de alguns dias cause efeitos negativos no processo de imunização. No entanto, não se sabe exatamente qual o limite máximo de intervalo que as duas doses devem ser aplicadas em cada pessoa. Atualmente, no Recife, por exemplo, devido o reagendamento por falta de estoque, há moradores que estão com previsão de receber a segunda dose 37 dias após a primeira. Se não houver doses suficientes, entretanto, esse intervalo pode ficar ainda maior.

Recife

No caso do Recife, por exemplo, a aplicação da segunda dose foi interrompida no dia 29 de abril. De acordo com a prefeitura municipal, a imunização deve voltar a acontecer a partir da próxima segunda-feira (10), data na qual foram automaticamente reagendados os moradores que deveriam ter recebido a segunda dose no dia 29/04. Nós procuramos a Secretaria de Saúde da capital e aguardamos resposta sobre o novo calendário e aguardamos retorno.