Pandemia do novo coronavírus

Igrejas na pandemia: Paulo Câmara sanciona lei que classifica templos como serviços essenciais

Desde o início da pandemia, realização de missas e cultos religiosos se tornou polêmica, já que pesquisas provam que novo coronavírus pode ser mais facilmente contraído dentro de lugares fechados

Gabriel dos Santos Araujo Dias
Gabriel dos Santos Araujo Dias
Publicado em 10/05/2021 às 8:27
Alexandre Gondim/JC Imagem
FOTO: Alexandre Gondim/JC Imagem

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), sancionou nesta segunda-feira (10) uma lei que classifica templos e igrejas como serviços essenciais. Na prática, a partir da sanção da nova lei, estes espaços não poderão mais ser fechados, caso um protocolo determina que serviços essenciais possam seguir funcionando.

Até então, Pernambuco reconhecia poucos segmentos como essenciais. Entre eles, supermercados, padarias, distribuidoras de gás e água, farmácias e postos de gasolina, por exemplo. Desde o início da pandemia, a realização de cultos religiosos - independente da religião - é polêmica, já que vários estudos provam que o risco de contrair o novo coronavírus é maior em ambientes fechados.

Riscos

Em novembro, pesquisadores da Universidade de Stanford publicaram um ranking dos lugares com maior risco de contaminação. De acordo com o estudo, igrejas estão no 6º lugar no levantamento dos lugares mais perigosos. Para se ter uma ideia, elas estão à frente de consultórios médicos (7º lugar) e mercados (8º lugar), mas são locais menos perigosos do que restaurantes (o local mais perigoso) e academias (2º). O estudo analisou o comportamento de 98 milhões de pessoas, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo e foi publicado pela revista científica Nature.

Os cientistas alertam que quando as pessoas cantam ou falam alto, como é visto em cultos e celebrações de vários segmentos religiosos diferentes, a possibilidade de contaminação aumenta, mesmo quando há distanciamento social de dois metros entre uma pessoa e outra.

Para exemplificar, o estudo relata o caso de um surto de covid-19 em um coral nos Estados Unidos. Apesar de manterem protocolos durante ensaios, 32 cantores do grupo ficaram doentes.

Em entrevista ao Estadão, o pesquisador da Universidade de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR, o físico Vitor Mori, disse que, além do “risco muito alto” de transmissão, igrejas podem funcionar como eventos de “superespalhamento”. “A força motriz por trás da pandemia é ligada a esses eventos, onde muitas pessoas se infectam ao mesmo tempo. Normalmente acontecem em espaços fechados, com muita gente, onde as pessoas estão cantando ou gritando”, explicou.

“Álcool em gel e medição de temperatura são inúteis na transmissão pelo ar, que é a principal da covid”, acrescenta o pesquisador.

A Associação Médica Americana (AMA) foi contrária à reabertura de templos em um processo na Justiça dos Estados Unidos. Para a AMA, os eventos religiosos têm vários “fatores de risco” para a proliferação do vírus. “Grandes grupos de pessoas entram em um recinto fechado, sentam-se ou ficam em pé perto um do outro por uma quantidade significativa de tempo e, normalmente, falam e cantam”, argumentou a entidade.

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