INVESTIGAÇÃO

Advogada atropelada em protesto contra Bolsonaro no Recife presta depoimento no DHPP

É a 1ª vez que a advogada presta depoimento; após ser atropelada no protesto, ela precisou ser internada e passou por uma cirurgia de emergência

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 19/10/2021 às 15:32
Twitter/ PCO
FOTO: Twitter/ PCO

A advogada que foi atropelada durante o protesto contra o governo Bolsonaro, no centro do Recife, no dia 2 de outubro, prestou depoimento pela primeira vez no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, Zona Oeste da capital pernambucana, nesta terça-feira (19).

A vítima, de 29 anos, não teve a identidade revelada. Com dificuldades para andar, por causa de uma fratura no tornozelo, a advogada prestou um longo depoimento.

De acordo com a advogada Beatriz Calado, que é secretária da Comissão de Advocacia Popular da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco, a vítima não lembra com muita clareza dos fatos devido à gravidade do acidente. “Ela quis logo fazer a parte dela. O teor foi contar a versão dos fatos dela à medida do que ela lembra porque foi uma situação muito grave. Ela está com pontos na cabeça, com coágulo, com dez pinos na perna e é natural que ela não se lembre de muita cosia da situação. Mas ela veio aqui colocar o que ela lembra”, contou.

De acordo com Calado, a advogada, apesar de ter recebido alta, ainda não está bem. “Não se sabe quando ela vai voltar a andar sem o auxílio de muleta e cadeira de rodas. Tem também a questão de saúde mental, né? Um trauma muito sério. A pessoa está lá tralhando e, do nada, acontece um crime desses, que ela poderia muito bem não ter sobrevivido”, comentou.

Beatriz Calado ainda acrescentou que o suspeito, que havia dito em entrevistas à imprensa que tinha interesse em falar com a vítima para pedir desculpas, ainda não tentou nenhum contato com a advogada. “Contato nenhum. Não procurou nem as advogadas, nem a comissão, nada”, afirmou.

Relembre o caso

Uma mulher foi atropelada por um Jeep Renegade, após participar do protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no centro do Recife na manhã do dia 2 de outubro. O atropelamento aconteceu na Avenida Martins de Barros, próximo à Ponte Maurício de Nassau e ao Armazém do Campo, no bairro de Santo Antônio.

Segundo testemunhas, a vítima ainda chegou a ser arrastada em cima do capô do veículo até depois da estação de BRT, só depois caiu na pista. Ainda assim, de acordo com manifestantes, o motorista, identificado sendo o administrador Luciano Matias Soares, passou por cima da vítima com o carro.

O motorista que furou o bloqueio e atropelou a vítima fugiu sem prestar socorro. Ela foi socorrida por equipes do Corpo de Bombeiros e do Samu. Em seguida, ela foi levada para um hospital particular do Recife.

A advogada faz parte da Comissão de Advocacia Popular da OAB. Ela passou por uma cirurgia no pé e levou pontos na cabeça.

Versão do motorista

De acordo com o advogado de Luciano, Sérgio Gonçalves, seu cliente teria pedido autorização aos manifestantes para seguir entre os manifestantes com seu carro, mas foi impedido pela advogada no meio do caminho. “Quando chegou na metade para o fim da manifestação, ele foi surpreendido por uma mulher, informando que a partir naquele momento ele não poderia passar mais. Ele ficou assustado porque o carro dele não tem fumê, ele estava sozinho dirigindo. Nós estamos totalmente tranquilos em relação à defesa dele porque acreditamos na palavra do nosso constituinte", contou.