Greve de Caminhoneiros

Caminhoneiros prometem greve nacional de 15 dias a partir de segunda (1º/11) e dizem estar mais organizados do que em 2018; veja o que se sabe

Líderes dos caminhoneiros ficaram revoltados com vídeo de ministro de Bolsonaro minimizando greve, e até caminhoneiros bolsonaristas apoiam paralisação

Gabriel dos Santos Araujo Dias
Gabriel dos Santos Araujo Dias
Publicado em 27/10/2021 às 8:26
Foto: Agência Brasil
FOTO: Foto: Agência Brasil

O Brasil ainda vive à sombra do medo de uma greve de caminhoneiros como aquela que aconteceu em 2018 e que provocou paralisação de praticamente todos os setores econômicos durante duas semanas. Apesar de, desde então, nunca ter havido uma segunda edição de movimento paradista tão forte quanto aquele, alguns segmentos da categoria já tentaram algumas vezes parar o Brasil novamente. Agora, com sucessivas altas nos preços dos combustíveis, especialmente do diesel, alguns grupos de caminhoneiros prometem parar durante 15 dias, a partir da próxima segunda-feira (1º).

A greve é convocada por associações de motoristas de caminhão, como, por exemplo, a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava). “O que posso te garantir é o seguinte: estamos muito mais organizados do que em 2018”, disse o presidente da Abrava, Wallace Landim, o Chorão, um dos organizadores da manifestação de 2018, em entrevista ao portal Poder 360.

O que caminhoneiros querem em 2021?

Além de criticar a subida do diesel, que já acumula alta de 65,3% desde o início deste ano, os caminhoneiros querem:

  • Retorno da aposentadoria especial após 25 anos de contribuição ao INSS;
  • Além disso, também defendem a constitucionalidade do Piso Mínimo de Frete.

Não querem "esmola"

Recentemente, no último dia 16 de outubro, associações se reuniram no Rio de Janeiro e garantiram a paralisação. “Ficamos muito tristes, porque a gente vem há mais de 3 anos conversando com o governo, com várias reuniões, e até agora não saiu do papel”, acrescentou Landim, que chama de "esmola" o auxílio de R$ 400 para a categoria.

“Quando recebemos essa notícia do auxílio combustível dos R$ 400, achamos que foi como se fosse uma piada. Acho que o presidente não está sendo bem assessorado ou não conhece o sistema de transporte. Estamos falando de um transportador autônomo que tem um faturamento de R$ 28 mil a R$ 30 mil dependendo do segmento, da quantidade de eixo, da capacidade de carga. A gente realmente não tem necessidade. A categoria achou que a gente não precisa de esmola. E realmente a gente não precisa. A gente precisa de dignidade”, comentou.

Bolsonaristas apoiando greve

Reportagem do jornal Correio Braziliense aponta que alguns dos mais animados caminhoneiros para a greve programada para a próxima semana foram eleitores do atual presidente, Jair Bolsonaro. "Precisamos cobrar que o Supremo Tribunal Federal julgue a constitucionalidade da lei do Piso Mínimo de frete, que garante o custo da operação de transporte, o que a gente gasta para estar passando nas rodovias. Temos que cobrar também o cumprimento de todas as nossas leis, pois se as nossas leis fossem de fato cumpridas e fiscalizadas não estaríamos passando esta dificuldade que estamos passando hoje", disse o influente caminhoneiro Gustavo Ávila.

“Adesivei meu caminhão e o de vários colegas [a favor de Bolsonaro, nas eleições de 2018], fizemos carreatas. Mas neste momento nós vamos parar o caminhão para que o presidente possa de fato cumprir o que ele prometeu em campanha e interferir na política de preço da Petrobras, e que a gente passe a usar o preço do óleo diesel aqui no Brasil em real e não em dólar. Esse é o momento, não tem como a gente continuar dessa forma, não tem como manter, não dá mais para trabalhar, então vamos nos unir neste momento e fazer as reivindicações que a categoria precisa”, contou Ávila.

Fala de ministro de Bolsonaro mal recebida

Causou revolta entre alguns caminhoneiros a fala do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, minimizando a promessa de paralisação. "Qual é a possibilidade de a gente ter uma greve de caminhoneiros da magnitude que nós tivemos em 2018? Zero, nenhuma, não vai ter", disse o ministro em uma palestra no último dia 22. "Há uma meia dúzia de líderes que toda hora chamam greve. O que aconteceu em 2018 não vai acontecer tão cedo. Quem parou o Brasil em 2018 foram empresas de transporte fazendo locaute, com apoio do agronegócio, gente que queria realmente forçar uma baixa do preço do diesel. Isso teve um efeito colateral péssimo", acrescentou Tarcísio.

 

"Ninguém tem prazer em fazer greve, mas esse é o último recurso que nos resta", reagiu o presidente da Abrava, Wallace Landim, o Chorão, segundo reportagem do UOL. "Nós apenas queremos que o presidente Bolsonaro cumpra as promessas que fez à categoria na campanha", acrescentou.

"Está na mão de cada transportador autônomo dar a resposta", disse Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística.