Dois dias antes do segundo turno da eleição, o jornalista Caco Barcellos, apresentador do Profissão Repórter na TV Globo, flagrou uma suspeita de compra de voto e assédio eleitoral em favor de Jair Bolsonaro - e foi intimidado.
Caco estava em Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul. Caminhando pela cidade, o repórter viu uma concentração de pessoas em frente a um centro cultural da cidade. Ao se aproximar, percebeu que eram todos beneficiários do Auxílio Brasil.
Quando viu a imprensa no local, a assessora da secretaria municipal que falava com os beneficiários ficou assustada. Quando Caco perguntou se a reunião tinha a ver com a eleição, a mulher respondeu hesitante:
“Tem a ver de demonstrar o que o presidente e o governador estão fazendo pelas pessoas”. Logo em seguida, um homem, em tom intimidador, disse ao jornalista: "É melhor vocês ficarem na sua!”.
"R$ 50 para cada um"
Assustados com a situação, os presentes não quiseram dar entrevistas, mas uma vizinha quebrou o silêncio. "Antes não tinha essa reunião não. Disse que era para assinar o negócio do Bolsa Família. Aí ontem que eu ouvi falando que, quando acaba a reunião, o Rudi dá R$ 50 para cada um. Rudi é o prefeito daqui”, afirmou a mulher em entrevista ao Profissão Repórter.
O que diz o prefeito?
Naquele momento, o prefeito estava em uma gincana entre escolas. Ao se encontrar com o gestor, Caco relata que as perguntas feitas não foram bem recebidas. Confira a transcrição do diálogo:
Caco: A gente esteve no centro cultural e tinha uma fila grande de pessoas tendo que deixar o nome... Pessoas que recebem o auxílio.
Assessora 1: Aqui nós não estamos para falar de política. Aqui nós estamos...
Caco: Mas lá estavam falando sobre política. Por isso que estou perguntando.
Assessora 1: Mas aqui não estamos falando de política.
Caco: Mas estou falando de lá para o prefeito.
Assessora 1: O prefeito não tem que responder.
Prefeito: Inclusive eu estava... Não estava nem... Passei por passar. Nós estávamos fazendo campanha política, não estávamos nem na cidade. Eu estava na aldeia indígena agora.
Caco: Eu sei, mas todas as pessoas estão dizendo lá que o senhor que organizou essa...
Prefeito: Não, eu não.
Caco: Mas como é que tem tanta gente lá?
Assessora 2: A gente tem horário para terminar.
Prefeito: Quem organizou foi a Secretaria de, de...
Assessora 2: Isso aqui é um evento que temos horário para terminar, gente.
Mulher relata assédio eleitoral
“Eu fui. Chegamos lá; eles, sinceramente, falaram sobre o Auxílio Brasil, porém a parte foi só sobre política. Que teria que votar no 22, porque se não, no caso, não teria mais verba para vir para cá, né? Aí pararia com tudo: pararia de fazer o asfalto, as escolas. Você chega lá, se você está precisando... Vamos supor: você precisa para sobreviver o auxílio e o vale renda, você muda seu voto na hora com medo de perder o benefício. Pediram para colocar o nome, colocar o documento, o número de celular. Porque, no caso, esses nomes iriam lá não sei para onde. Para mim, aquilo foi uma pressão sobre as pessoas. Isso é promoção do prefeito, né?”, disse uma moradora.
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Caco é orientado a deixar a cidade
Depois da entrevista com o prefeito, Caco Barcellos recebeu uma ligação, o orientando a deixar a cidade. A pessoa do outro lado da linha disse:
“Fiquei preocupado, extremamente preocupado. Eu sugeriria para vocês terminar a pauta o quanto antes. Se você quiser continuar aqui na cidade trabalhando, é o teu trabalho. É assim: sua conta e risco. Mas eu conheço bem aqui a cidade. É complicado”.
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