O assassinato de Daniella Perez foi um caso de relativamente fácil resolução para a polícia que, poucas horas depois do crime, já havia identificado um dos autores: o ator Guilherme de Pádua, parceiro de cena da atriz na novela De Corpo e Alma (1992).
No entanto, mesmo com a confissão de um dos criminosos, a investigação da morte de Daniella não estava perto de terminar.
Ainda quando estava enterrando a filha, Gloria Perez recebeu mensagens anônimas que revelavam mais detalhes da premeditação do assassinato, fator importante para estabelecer a pena justa e destacar a gravidade do crime durante o julgamento de Pádua e Paula.
Sem ajuda da polícia, a escritora resolveu se juntar com amigos e, de maneira independente, reunir evidências que acabariam revelando novos detalhes do dia em que Daniella Perez foi morta. além de esclarecer a participação ativa de Paula Thomaz na situação.
No documentário Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez, da HBO Max, a autora fala sobre a jornada que enfrentou para conseguir as informações.
.
Como Gloria Perez conduziu uma investigação independente
Na mesma noite do enterro, Gloria recebeu uma ligação que dizia: "Se você quiser saber o que aconteceu com sua filha, vá até o posto", em referência a um posto de gasolina localizado na zona oeste do Rio de Janeiro, perto do local onde Daniella e Pádua gravavam a novela.
Ela, então, passou a frequentar o posto todos os dias, na esperança que alguém tivesse alguma informação. "[Quando eu chegava] Frentistas corriam cada um pra um lado. Um até ameaçou, disse: 'Se eu perder o emprego por causa da senhora, a senhora vai ver', lembra ela.
Tempos depois, Gloria descobriu, por relato de um cozinheiro, que Daniella havia levado um soco e desmaiado ali no posto.
Ao tentar obter mais informações, ficou sabendo que o proprietário do local havia demitido todos os funcionários que trabalharam no horário em que Daniella e Pádua foram vistos por lá.
"Viramos detetives. Todos os dias tínhamos uma missão pra fazer. A gente andou, perguntava aqui, perguntava ali. Era uma vida de detetive", disse Nilson Raman, empresário e amigo de Gloria.
Logo a artista descobriu que dois frentistas haviam visto Pádua e Daniella no posto, e um deles era gago. Ao parar num bar e perguntar se alguém conhecia um deles, ela foi informada de que havia um frentista gago que morava ali perto.
A força de uma mãe
No começo, Dagmar Bastos, mãe do frentista Flávio Bastos não queria que o filho falasse com Gloria. Desesperada, após diversas tentativas de contato, a escritora colocou fotos do corpo morto de Daniella embaixo da porta da casa da mulher e chegou a se ajoelhar implorando por ajuda.
Solidária e comovida com as imagens, foi neste dia que Dagmar resolveu permitir que o filho falasse com a dramaturga.
A outra testemunha era Antonio Clarete, que havia lavado o carro de Pádua e visto que o veículo estava cheio de sangue. Com medo, o lavador também não quis receber a escritora e fingia que não estava em casa.
Até que um dia Gloria decidiu esperar na porta da casa dele até que ele aparecesse. Começou a chover, mas ela não desistiu. Um vizinho teve piedade, a convidou para entrar e disse a Clarete que a mulher tinha ido embora. Quando ele apareceu, no entanto, deu de cara com ela.
Foi com o depoimento dessas duas testemunhas, encontradas por Gloria, que a tese de premeditação do crime ganhou mais força. "O que aconteceu com os frentistas é que eles viraram gigantes", afirmou Gloria Perez.
Comentários