NÁUTICO

Vôlei, hobby e apelidos: conheça o lado particular de Gilmar Dal Pozzo

O treinador do Náutico concedeu uma entrevista exclusiva para a Rádio Jornal

João Victor Amorim e Fernando Castro
João Victor Amorim e Fernando Castro
Publicado em 04/08/2019 às 14:00
Reprodução/RádioJornal
FOTO: Reprodução/RádioJornal

Jogadores e treinadores de grandes clubes estão sempre nos holofotes da mídia. Sempre se expondo pelo trabalho feito em um clube com milhões de torcedores. Mas nem sempre a vida particular e os esforços feitos para o profissional chegar naquele patamar são conhecidos. Em entrevista exclusiva para os repórteres João Victor Amorim e Fernando Castro da Rádio Jornal e Jornal do Commercio, o técnico do Clube Náutico Capibaribe, Gilmar Dal Pozzo voltou no tempo e falou sobre sua história, motivações, Náutico, Tite e apelidos.

Confira o bate-papo com Gilmar Dal Pozzo:

O que a gente ainda não sabe de Gilmar Dal Pozzo?

O lado social. As pessoas não têm essa informação da parte social, do hobby, gosto de andar a cavalo. Eu tenho um cavalo no Rio Grande do Sul, então quando eu tenho oportunidade de ir para lá ando muito a cavalo. Fora do dia a dia do futebol, faço muita atividade física. Vou quase que todos os dias para a academia, ando de bicicleta e gosto de correr também. Uma vida normal fora do futebol, que precisa para manter uma vida saudável, com saúde.

Costuma acompanhar futebol quando está em casa?

Quando eu estou trabalhando, quando eu estou empregado, eu sou obcecado, inquieto. Por exemplo, nessa semana eu procurei observar o adversário. Eu foco muito no próximo adversário e as estratégias vem de madrugada, duas, três horas da manhã eu acordo, faço anotações, para no dia seguinte colocar em prática no trabalho. Mesmo quando eu estou parado, quando estou desempregado, sem trabalhar, eu não consigo me desligar 100%. Eu acompanho e tenho que acompanhar todos tipos campeonatos, Champions League, campeonato estaduais, o Brasileiro. É o nosso trabalho, o aprendizado é todo dia, para praticar quando a gente está parado tem que ficar executando, indo a campo, vendo jogos pela televisão.

Como foi seu início? A paixão pelo esporte vem desde criança?

Eu tenho uma palestra de superação, mostrando para as pessoas em colégios, quando eu não estou trabalhando, eu faço essas palestras de motivação. Eu fui uma pessoa de família muito humilde, pobre, que jogou futebol até os 16 anos descalço, na rua, onde não tinha grama. Tudo isso aconteceu no meu início e depois eu fiquei apaixonado pelo vôlei, gostava muito, dos 15 aos 18 anos gostava muito desse esporte. Quando eu dei sequência eu fiz a escolha pelo futebol e quando comecei, eu jogava de lateral esquerdo. Por acaso um dia faltou goleiro e eu fui para o gol, acabei impressionando pela estatura, envergadura, braço comprido, e fiquei. Peguei gosto, comecei a jogar no gol, mas muito tarde, isso já com 18 para 19 anos. Fiz teste no Internacional e no Juventude, naqueles peneirões com mais de 100 pessoas, acabou não dando certo. Comecei então em um time da segunda divisão do Rio Grande do Sul, o Nova Prata, o Pratense, era semi-amador na época. O time fez um amistoso com o Caxias, eu me destaquei e o Caxias comprou o meu passe. Quando eu cheguei no Caxias eu não tinha o fundamento, a parte técnica, fechar bem o punho, sair bem na bola, menino de 15 anos sabia fazer isso e eu não conseguia, tive muita dificuldade. Dos 19 anos até os 23, 24 anos, que eu passei no Caxias e em outras equipes do Rio Grande do Sul, demorou quase cinco anos para consolidar esse trabalho, porque eu não tinha essa parte técnica. E aí consolidou no Veranópolis, na época com o Tite. Depois tive uma sequência, fui titular em quase todos os times, conquistando o título do Campeonato Gaúcho em 2000, pegando o pênalti do Ronaldinho Gaúcho e depois indo para Portugal. A minha ascensão profissional veio depois dos 30 anos, joguei até os 38 anos em grandes clubes do Brasil e fora do país. Essa foi minha carreira como atleta.

Quando começou a pensar em se tornar técnico?

Na verdade, foi uma transição. Em 2007 parei de jogar, em 2008 já comecei no Veranópolis como técnico. Eu até me orgulho em falar isso, hoje virou moda no Brasil, analista de desempenho, auxiliar técnico, já começam em grandes clubes. Eu quando fui para Portugal, em 2000, já tomei a decisão ali de ser técnico. Então entre 2000 e 2008 eu fiz uma preparação de oito anos. Em Portugal eu acompanhei os trabalhos de Mourinho, que estava no União de Leiria e eu estava no Marítimo, e fazia minhas anotações. Quando joguei no Avaí fiz três cursos de oratória e dicção, fiz outros cursos e estágios. Quando eu parei em 2007, em 2008 o Veranópolis me abriu as portas e aí comecei um trabalho muito bom para um início de carreira. No segundo semestre fui para o Pelotas e aí já entendi que podia ser técnico de verdade. Fiquei quatro anos no Veranópolis, trabalhos bons no interior do Rio Grande do Sul, quando depois fui para a Chapecoense, onde aconteceu minha ascensão. Peguei o time na Série C em 2012, subimos para a Série B e depois para a Série A. Foi muito rápido essa minha ascensão, em seis anos de carreira já estava disputando uma Série A entre os melhores do Brasil.

Gilmar Dal Pozzo comandou o Náutico em duas partidas e conseguiu duas vitórias.
Gilmar Dal Pozzo está na segunda passagens pelo clube
Léo Lemos/Clube Náutico Capibaribe

De onde surgiu o apelido de Felipão/referências

É legal, porque eu tenho uma identificação e uma amizade mais com o Tite. Ele é meu padrinho de casamento. Talvez por essa expressão mais fechada minha, o meu pai me apelidou de Felipão. Toda vez que eu vou visitar ele, ele acorda de madrugada, quer conversar comigo, três horas da manhã, no frio do Rio Grande do Sul, ele bate na porta e quer conversar e aproveitar o momento que eu estou em casa. Ele me chama de Felipão e eu fico muito orgulhoso, porque o Felipão também é da Serra Gaúcha, sempre admirei o trabalho dele e hoje tem o Paulo Turra, que é meu amigo pessoal e auxiliar do Felipão. São referência que é bom ser comparado. Fico feliz. É uma lembrança que trago com carinho.

Perda da mãe em jogo contra o Tite

O Tite estava no Internacional, em 2012, e eu treinava o Veranópolis. A gente foi jogar no Beira Rio e horas antes ela veio a falecer. Minha esposa e os médicos não me avisaram, ela teve um infarto. Eu fiz o jogo normal, depois veio a notícia triste de que ela faleceu. Eu me emociono muito, porque semana passada morreu um torcedor do Náutico, por infarto também, exatamente aquilo que aconteceu com a minha mãe. De tanto ela torcer pelo filho, ela era hipertensa, e no jogo contra o Internacional ela se emocionou. Estava o Tite de um lado, que ela tinha amizade, e do outro lado o filho dela, ela se emocionou e veio a enfartar e falecer. Agora aconteceu com um torcedor também, inclusive a gente aproveita aqui para ser solidário com os familiares, fizemos uma oração para o torcedor e família. E nisso a gente vê o quanto o torcedor sofre na arquibancada, então a gente tem a real dimensão, porque mexe com a emoção. Eu falo isso, porque a minha mãe acabou falecendo na emoção do jogo.

Por conta da rotina intensa de viagem no mundo do futebol, como é o seu relacionamento com a família?

Eu e minha esposa tivemos as duas filhas muito cedo. Quando eu jogava eu não abria mão de levar a família junto, porque quando atleta eu tinha estabilidade. Todos os meus compromissos, meus contratos como atleta eu cumpri, tinha início, meio e fim, então eu me programava para os colégios das minhas filhas, inclusive quando eu joguei aqui no Santa Cruz, minha família veio e me acompanhou. E depois o tempo foi passando, quando eu comecei a ser treinador, elas já estavam crescidas, fazendo faculdades, e a partir daí a vida delas seguem. Hoje minha esposa me acompanha e eventualmente, quando dá, minhas filhas vêm me visitar. Elas já estão consolidadas na vida delas, uma já está formada, a outra já está seguindo o caminho dela, com responsabilidade. Eu fico muito tranquilo, já aconteceu algumas situações. Quando eu saí da Chapecoense, eu recebi o convite do Vitória da Bahia, eu não fui porque morávamos em Chapecó, depois fomos para Florianópolis e minha filha menor sentiu essa transição, questão cultural também, e tomei a decisão de ficar com minha família, por isso não me arrependo. O Vitória é um time grande, mas não fui por causa de um grande motivo que era ficar presente, naquele momento, com a minha família.

Gilmar Dal Pozzo vive bom momento com o Náutico. A equipe pernambucana está na vice-liderança do grupo A da Série C.
À direita Gilmar Dal Pozzo com a filha Letícia, a esposa Cláudia e sua filha Daniela.
Reprodução/Rádio Jornal

Quando acertou a volta ao Náutico não falou de salários?

É verdade. Quando vem um convite, a última coisa que eu falo é de salário. Eu quero ver quem é que são os responsáveis pelo futebol, no caso do Náutico eu já conhecia o Diógenes e o Ítalo, depois a gente vai debater quem são os atletas que estão no plantel, qual o objetivo do clube. Eu vejo que aquela entrevista tinha que ter sido pessoalmente, mas como eu já conhecia o Náutico, a gente fez por telefone, e depois acertamos o salário. Foi no jogo antes do Figueirense que acertamos, meu empresário conduziu, porque a gente não tinha tempo, eu viajei de madrugada, tive 30 minutos para fazer um trabalho tático para ajustar a equipe para uma decisão que valia um calendário e depois fiquei sabendo que aquele jogo valia mais de R$ 1 milhão para o ano seguinte. Foi dessa forma, acertamos o salário depois que eu cheguei aqui, porque eu tinha confiança nessas pessoas, principalmente o Diógenes e o Ítalo, que eu já conhecia.

A importância dos diretores Diógenes Braga e Ítalo Rodrigues no Náutico

Quando vários jogadores e quando o técnico enaltece isso, as pessoas passam a acreditar, porque é uma verdade. Quando há um discurso discreto quanto a um diretor de futebol, tem que se desconfiar. No caso desses dois, eles entendem muito de futebol, de gestão, todas as contratações que foram feitas, elas foram construídas, debatidas, eu quero ouvir a opinião deles, eles respeitam a minha opinião e a gente chega a uma conclusão, então fica fácil. Eu consigo ver um trabalho saudável no dia a dia, integrado, com respeito. Estou falando da diretoria, especialmente, mas na nossa comissão técnica, quando vamos elaborar um trabalho, discutimos, a opinião de todos é importante. Diógenes e Ítalo são profissionais que eu tenho o maior respeito e admiração e que tem conhecimento de futebol, gestão e de atletas.

Apelido de padre

Eu tinha um apelido no Goiás, quando eu jogava, de Papa, parecido, mas não me incomoda. As pessoas têm uma impressão talvez dessa tranquilidade, dessa paz.

Chute no lixeiro durante a preleção

Eu não consigo ser meio termo. Ou está quente, ou está frio para mim, morno não me serve. Sou muito equilibrado, ponderado, consigo conduzir bem minha carreira profissional, o dia a dia em meio a cobranças, isso eu faço bem feito. Agora não deixa eu descer da cruz, eu tenho também minhas indignações. Especialmente nesse dia aconteceu, a palestra foi de motivação. O Brasil tinha jogado anteriormente contra a Argentina e eu peguei os lances da seleção brasileira, os atacantes dando combates e eu quis mostrar para eles, que se a seleção brasileira, jogadores de alto nível, que jogam Champions League, mesmo assim fazem essa pressão alta, tem o compromisso sem a bola, porque que a gente não faria também? E aí apareceu um balde na frente… A gente tem várias maneiras de se comunicar, visual, corporal e falando, nessa hora eu aproveitei e chutei o balde mesmo, literalmente. Você tem que incorporar as palavras na expressão corporal, porque não adianta passar uma mensagem de motivação e o corpo não responder. Às vezes eu saio do sério, quando não sai um treino bem feito, já aconteceu. O Ítalo e os meus auxiliares já me conhecem, eles não vêm perto de mim depois do treino, porque eu exijo muita concentração. O dia tem 24 horas, os atletas trabalham duas, três horas por dia, então eu quero concentração para a situação de jogo. Depois vai ter o momento de lazer, da brincadeira, porque eu entendo que tem que ser assim. Eu fui atleta e quando joguei em alto nível estava muito concentrado, a posição de goleiro exigia muito isso e eu tento passar os meus conhecimentos para os atletas.

Você tem uma amizade muito grande com o técnico da seleção Tite, que também é seu padrinho de casamento. Existe alguma possibilidade de você integrar na comissão técnica dele?

Isso é uma realidade, não só pela afinidade, mas pelo trabalho que estou realizando também. Nem sei se isso viesse a acontecer um dia seria o meu desejo, eu tenho uma carreira já consolidada, em Série A, B e C. Então não tenho essa amizade com o Tite com essa pretensão, tenho admiração, mas a gente tem contrapontos também. Discuto futebol com ele, aprendo 99%, mas algumas coisas eu questiono também, ele dá abertura para isso. A amizade nossa é familiar, ele é meu padrinho de casamento, fazemos visitas, no final do ano a gente está junto fazendo uma confraternização de final do ano. De tabela a gente discute futebol e eu aprendo muito. São essas referências que a gente acaba aprendendo, acabo tendo uma identificação, não só pelo futebol, mas como pessoa. Hoje tenho uma família com educação, princípios, valores, mas eu aprendi muito com ele. Quando fui atleta, ele mostrava o que era bom e ruim para vida, a gente ia jogar até uns 30 e poucos anos e depois a vida seguia. Me mostrou os caminhos da lealdade e aprendi bastante.

Já foi um técnico retranqueiro?

Não. Eu estava na Chapecoense, fomos jogar contra o Figueirense, fizemos 1x0 e depois automaticamente os jogadores baixaram as linhas, ficaram atrás e criou-se isso, lá em Santa Catarina, ficou esse rótulo por conta desse jogo. Primeiro que não me incomoda porque não é verdade, meu conceito é o equilíbrio. Com a posse de bola, vou atacar o adversário com cinco, no máximo seis jogadores e tendo o equilíbrio defensivo com quatro jogadores. Confesso que não tenho vocação diferente. Não vou mudar isso e não entendo o jogo de outra forma. Eu jogando em casa ou fora, eu vou fazer pressão e marcação alta, depois abaixo, mas com a bola eu quero a minha equipe jogando. Fazendo um jogo apoiado, verticalizando, dependendo da característica da equipe, fazendo infiltrações. 50% do meu trabalho é posse de bola e os outros 50% é sem a posse de bola, que é o futebol moderno, meu conceito, aquilo que eu entendo futebol.

A evolução da base do Náutico

Uma base muito boa. Diferente da primeira vez que eu passei aqui em 2015, que não tinha muitos jogadores revelados pela base, hoje nós temos jogadores prontos. O Thiago numa condição boa, temos jogadores pedindo passagem, como o Wagninho, que eu gosto muito, certeza que esse vai jogar em time grande, não tenho a menor dúvida, pelo nível de concentração, qualidade, estatura, condição física, técnica e tática. Tem o Rhaldney, o Lucas E outros que já saíram para uma rodagem maior, então é uma base muito boa, mas tem que saber ser bem aproveitada. O Thiago teve um crescimento muito grande na questão mental, até pela idade, 18 anos, ainda requer conhecimento, a vida vai mostrar para ele, ele melhorou bastante. Para chegar na seleção e em outro time maior, ele tem que estar mentalmente forte. É uma base muito boa, que a gente aos poucos estamos aproveitando ele, junto com a ascensão da equipe.

O elenco do Náutico tem qualidade para disputar o acesso para a Série B?

Hoje eu estou muito mais confiante nessa equipe, porque ela me dá essa condição de maturidade. Nunca tive dúvida em relação a qualidade desse grupo de jogadores, pela qualidade, se a gente estivesse numa Série B, estaríamos no meio da tabela, com certeza, não tenho a menor dúvida, meus últimos quatro anos foram trabalhos na Série B, então eu tenho esse conhecimento. O time precisava ter uma continuidade e consolidar o trabalho, estava oscilando muito, porque ficaram sequelas da perda do Estadual e da Copa do Nordeste. Isso requer um pouco de tempo, para recuperar a confiança. Eles faziam uma partida boa, baixava o nível de concentração e acabávamos tomando o gol com erros nosso. Hoje temos uma equipe mais forte, mais consolidada, mais madura, sabendo o que quer dentro de campo. Os atletas entenderam a minha ideia, vai brincar na hora que tem que brincar, mas dentro de campo é trabalho sério. Os atletas também precisam de tempo para entender o conceito, a ideia do técnico, hoje nós estamos num patamar muito bom, que me dá muita confiança, mas ao mesmo tempo inquieto, com o frio na barriga, porque a gente entende que se tiver um tropeço nosso na próxima rodada e uma combinação de resultados, nós podemos sair do G-4. Então temos essa consciência, estou seguro que vamos fazer bons jogos nessa reta final e vamos nos classificar.

Léo Lemos/Náutico

Quem está melhor no Grupo B

Não vou fugir da pergunta, mas não tenho essa convicção. Eu acompanhei por cima. Se pegar o Paysandu ou o Remo é difícil, o Juventude está com um time bom, é difícil jogar em Caxias. Tem o São José com uma grama sintética, a gente depois, já vamos pensar, caso aconteça isso, de fazer uma logística de treinar em um piso diferente. Jogar em Erechim, caso pegue o Ypiranga, é difícil. Mas eu estou canalizando e potencializando mais a minha equipe, porque eu sei que nesse momento, passando para a próxima fase, se estivermos consolidados, com o espírito, identidade de Série C, ter essa humildade de marcar o adversário e depois a ambição de atacar com a bola, vamoschegar muito forte. Mas a gente tem que se classificar antes de fazer qualquer projeção.

Os Aflitos é muito diferente da Arena de Pernambuco?

Atmosfera sensacional. Muito diferente da arena, totalmente.

Você já brigou no vestiário?

Não, não precisou chegar a esse ponto. Briguei muito pouco no futebol, quando ainda jogava dei um soco num atleta. Me tirou do sério, me chamou de assalariado e eu estava ganhando um salário mínimo no Veranópolis, era um cara que estava jogando no Grêmio, um cara até conceituado, até de seleção, e quando ele falou isso eu fui para dentro dele, não quis nem saber. Mas eu ando com mango, gosto de cavalo, já andei de facão, mas aí a polícia me proibiu, não pode. Mas não cheguei a esse ponto.

No começo você afirmou que gosta muito de cavalo. É verdade que já vendeu um cavalo

Vendi quando vim para o Ceará. O animal sente muito a falta do dono. E como eu já tinha treinado aqui no Nordeste, no ABC, Náutico, depois fui para o Ceará, entendi que eu tinha que me desfazer, porque ele sentia muito a minha falta, tem essa relação sentimental.

O que mudou no Gilmar Dal Pozzo da primeira passagem no Náutico para atual?

Essa avaliação eu acho que é vocês quem têm que fazer. Eu me sinto mais capacitado, mais experiente, mas não perdi a essência, que é faca nos dentes. Estou com muita vontade, meus últimos 150 jogos foram na Série A e Série B do futebol brasileiro, não é demérito nenhum estar aqui e eu aceitei o convite porque estava muito motivado. Estou muito feliz aqui no Náutico, me receberam bem, a gente está tendo um aproveitamento muito bom, nos classificamos para a Copa do Nordeste, agora na Série C estamos fazendo uma campanha boa. Mas eu tenho uma outra preocupação, esse grupo não pode perder a fome. Quando se tem condição, os salários estão em dia, o técnico tem que ter outro olhar para não entrar numa zona de conforto. Antes tinha problemas de salários, mas a gente queria lutar por um prato de comida e para as coisas mudarem. Agora está pagando em dia, o clube está dando condições e não podemos entrar na zona de conforto. Inclusive eu encontrei algumas situações, não vou falar em que setor, dentro do clube nessa zona de conforto. Não interessa se os salários estão em dia, ninguém vai ter dó do Náutico. O Globo-RN, que tem uma folha baixíssima, não vai colocar um tapete vermelho para a gente passar. A gente tem que ir com força e de fato fazer valer essa camisa que tem muita tradição. É dentro de campo, com merecimento, se não for assim eu também nem quero, não vai ter graça, eu falo para os atletas, se quiser vencer os jogos, subir, conquistar o título, vai ser por merecimento. E não venham me convencer que é diferente, sorte é só quem joga na loteria, joga uma vez e aposta. Eu tenho passado diariamente para os atletas fazerem por merecer o resultado.

Técnico estrangeiro está sendo exagerado no Brasil?

Não, pelo contrário. Não está exagerado, eu sou da bandeira que nós temos que aprender com os outros, da mesma forma que a gente vai para fora, aprende e é aceito também. Tem espaço para eles também e temos que ter humildade para aprender com eles também.

Já conheceu o passinho?

Passinho? (O brega). Ah, eu vi um vídeo, aí é o momento da descontração e alegria, eu falo para eles. Agora não faça antes do jogo que não é bem aceito, tudo na sua hora, vai ter churrasco também?

Já arriscou o passinho?

Não, eu sou da música tradicional do Rio Grande do Sul, a música Gaúcha, o vaneirão, valsa. Agora também cada ano muda essa moda, eu nem sabia o nome, ano que vem já muda de novo. Tudo na sua hora é aceito sem problema nenhum.

O garoto ‘sarrafo’ venceu na vida?

Me chamavam assim por causa do vôlei, eu batia na bola forte, tinha uma impulsão boa, pegava bem na bola e esse apelido é por causa disso, tinha o sonho de ser jogador de vôlei. Estou muito satisfeito com a minha carreira profissional e pessoal. Seria muita ingratidão da minha parte reclamar de qualquer coisa, já tive na Série A como atleta, na Série C como atleta também, agora como técnico, já conquistei títulos, acessos. Eu vivo muito o momento e vivo intensamente, por isso sou muito feliz com as pessoas, no meu trabalho. Claro que ainda tenho meus sonhos, quero retomar uma Série B, Série A, mas temos que passar por esse processo agora junto com o Náutico, por isso que eu abracei a causa e espero chegar no final do ano feliz e comemorando.

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