entrevista exclusiva

Artilheiro do Sport vai da ''zoeira'', por andar torto, aos 160 gols na carreira

O atacante Hernane Brocador concedeu entrevista exclusiva para a Rádio Jornal

Pedro Alves
Pedro Alves
Publicado em 28/09/2019 às 12:00
Anderson Stevens/Sport Club do Recife
FOTO: Anderson Stevens/Sport Club do Recife

Artilheiro do Sport na temporada com 20 gols marcados em 35 jogos, Hernane Brocador vem se destacando dentro de campo pela equipe pernambucana. O atacante é um dos remanescentes da equipe que foi rebaixada na temporada 2018. O camisa 9 rubro-negro concedeu uma entrevista exclusiva ao repórter Antônio Gabriel, da Rádio Jornal.

Compromisso com os treinamentos

Eu acho que isso é meu. Principalmente no dia de treino, eu sempre procuro ficar mais um pouco no clube para usufruir a estrutura do clube. Já tenho 33 anos, preciso me cuidar, pretendo levar o máximo que eu conseguir na minha carreira até 38, 39 ou 40 anos se possível. Enquanto eu puder cuidar do meu corpo para está bem nos jogos, eu acho que isso é fundamental. Nos dias de jogo, eu não reparei, mas realmente eu sou o último a sair, mas é que eu faço tudo sem pressa para fazer tudo bem feito.

Motivação

Eu comecei o ano bem, fiz uma boa pré temporada. Iniciei o ano fazendo gol. Conheci o grupo logo na chegada, percebi que era um grupo de bons jogadores e de grupo. Então eu vi que ali eu poderia ter um ano muito bom. A gente sabe que saindo no meio da temporada, não é fácil. Assim como no ano passado em minha chegada ao Sport, eu só fiz 16 jogos então é difícil. Eu queria ajudar novamente a por o Sport na elite do futebol, que é uma camisa muito grande no Nordeste e a gente sabe o peso de jogar nesta equipe. Eu me identifiquei com o clube. A diretoria competente que chegou, apresentou o trabalho que eles queriam fazer no clube e eu abracei a causa e queria ajudar também.

Diferença entre 2018 e 2019

No ano passado a gente via no semblante dos jogadores que por mais que a gente fazia força, corria e lutava aconteciam coisas que faziam que a bola não entrasse, bolas na trave, que passavam na frente do gol, goleiro fazendo defesas impossíveis e esse ano não. Esse ano começou diferente. As bolas que batiam na trave começaram a ser gol. Não falando de jogador individual. Mas esse ano os atletas mais, não sei se é a palavra certa, de grupo ou a fome de querer vencer, porque ano passado foi um grupo mais renomado e esse ano é um grupo mais jovem que também pensam em vencer e acho que é um pouco mais de tesão para jogar futebol.

Papel no grupo

Eu sou bem fechado para quem tá de fora, mas dentro do grupo eu sou um cara bem alegre, brinco bastante, as vezes eu finjo que estou de cara fechada, mas eles já me conhecem e sabem que é brincadeira. Então a gente tenta passar um pouco de nossa experiencia que vivemos no futebol, os momentos bons e ruins que a gente sabe que vai passar e a gente tenta passar isso para o mais jovens, no momento em que o clube estiver passando por uma turbulência e foi isso que aconteceu. O nosso início de ano não foi bom, melhorou, conseguimos ganhar o estadual. O início da Série B não foi bom, aí tivemos o equilíbrio, ficamos vários jogos sem perder, mas com vários empates. Então o Sport agora conseguiu o equilíbrio, entramos no G-4 e pretendemos ficar lá até o final.

Guto Ferreira

Já é o tercei clube que eu trabalho com ele. No Mogi foi o primeiro e eu precisava de mais alguns dias e ele não queria me dar, porque ele é muito ruim de da folga (risos), mas eu conversei com ele "eu já saí da competição e faz muito tempo que não vou na minha cidade, então eu preciso visitar meus familiares" aí conversei com ele e acabou que ele me deu uma semana e eu resolvi passar esses dias com minha família para relaxar a cabeça porque a gente sabe que futebol é estressante o ano todo. Então a gente precisa desse tempo para está junto com a família. (No Mogi) Foi tudo onde começou. Foram 21 jogos e 16 gols, foi uma meta muito boa, com números muito bons. De lá eu fui para o Flamengo, logo na sequência nos encontramos no Bahia e agora no Sport.

'Secura' para jogar bola

Antes de eu começar a jogar futebol, fazia seis anos que eu não ia na minha cidade. Eu morava desde 1999 em São Paulo. Nas minhas folgas rápidas, eu ainda vou para lá que eu tenho irmãos que reside lá e minha mãe e meu pai ainda moram na Bahia. Na minha cidade eu sei que é quando tenho a oportunidade de passar muitos dias, porque é bem longe. Ela fica a 750 km de Salvador, então para ir lá é bem complicado. Eu fui lá em 2012, 2013 e 2016, onde eu já jogava no Bahia e eu fui de carro. Quando eu tenho poucos dias eu prefiro ir para São Paulo porque é até mais fácil, porque eu tenho duas crianças pequenas e para pegar ônibus é meio difícil. Eu só vou na minha cidade quando eu tenho férias mais longas.

Saudades da mãe

Vai fazer dois anos. Ela mora em Bom Jesus da Lapa. Ela morava em São Paulo, mas ela construiu a casa e falou que não quer voltar mais para São Paulo, porque gosta muito de lá (Bom Jesus da Lapa). Meu pai também mora lá. Os dois são separados e eu pretendo ficar ou em São Paulo ou em Salvador porque são duas cidades que eu me identifiquei bastante, apesar de ser Baiano.

Ouça os áudios da mãe na sonora no início da matéria

Me pegou de surpresa demais. Em 2010 eu quase parei de jogar futebol porque ela teve um problema e teve que fazer uma cirurgia. Ficou 13 a 15 dias na UTI e nesse momento eu fiquei um pouco fraco para jogar futebol porque eu não sei se teria mais forças. Porque no meu início de carreira, quando eu ia fazer testes em alguns clubes era ela que ia comigo. Então minha mãe, abaixo de Deus, foi a pessoa fundamental para eu está jogando futebol hoje. Queria falar que amo muito ela e se eu faço isso hoje é pelas minhas filhas e por ela. Foi um início difícil. Ela já morava em São Paulo e eu fui com minha avó para lá. Eu não consegui ficar, meus dois irmãos ficaram e eu voltei para morar com minha avó. Fiquei mais um ano em Bom Jesus da Lapa. No outro ano eu voltei novamente para São Paulo e fiquei. Desde então eu tinha o sonho de jogar futebol e falava para minha mãe "está tendo teste em tal clube. Eu vou fazer a inscrição lá que eu quero fazer o testa" e ela falava "tá bom meu filho. Fale o dia e a hora que eu falo com a patroa, falto no serviço e vou te levar lá". Então foi um início muito difícil. Ela nunca falou "não" para mim. Recebi muitos "não" nos clubes, mas a minha mãe ela sempre perseverou comigo, batalhou, muitas vezes não tinha o dinheiro das passagens, só tinha o dela e eu tinha que passar por baixo na catraca do ônibus. Mas Deus foi maravilhoso e me presenteou com o sonho de ser jogador de futebol.

Tênis de infância

A história do Tênis é muito engraçada. Quando eu era mais novo, eu pisava muito torto. E o meu tênis só comia a sola do lado de dentro do pé. Então quando eu cheguei em São Paulo com as malas nas costas e com o tênis todo torto quase saindo pé. E as pessoas esperavam na porta quando estava chegando de viagem e quando me viram começaram a ri. Eu cheguei bravo porque era muito longe e o tênis tava comigo. Desse dia para cá eu nem quis usar mais o tênis e aposentei ele. Foi o motivo que achei para largar ele. Foi uma história muito engraçada.

De filho à pai

Ouça os áudios dos filhos na sonora no início da matéria

Muda a atitude, muda o pensamento, seu comportamento, esse jeito brincalhão que a pessoa tem, principalmente eu que conversava muito com minha mãe, brincava bastante, enchia o saco dela. A partir do momento em que eu fui pai, eu entendi como era ser pai. Eu via as pessoas, mas brincava com seus filhos, com seus amiguinhos e não tinha esse conhecimento. Aí a partir do momento em que você vira pai, a sua responsabilidade aumenta. Seu carinho pelo seu filho. Eu acho que é inexplicável. É um sensação que só você sendo pai vai entender o que a gente tá falando.

Gols na carreira

Hernane soma 160 gols em sua carreira e está em sua segunda passagem pelo Sport. A temporada em que o atacante mais teve gols foi em 2013 quando atuava pelo Flamengo.

VEJA MAIS CONTEÚDO