Rafael Carneiro
Da Rádio Jornal
Um olhar sensível, atento, pronto. A foto publicada pelo
Jornal do Commercio mostrando a dura realidade de crianças da comunidade de Saramandaia, no Arruda, zona norte do Recife, em um canal sujo, em busca de lixo, expõe uma cena vista diariamente nas ruas, deixada de lado pelo poder público.
Paulinho imerso no canal do Arruda. Foto: Diego Nigro/JC Imagem
A agressividade e a inquietação que a imagem traz repercutiu na mídia de nosso país e nos veículos internacionais. Como um toque do destino, a musicalidade de Chico Science ganha um ar atual e que retrata ao mundo a triste realidade de um Recife miserável e sem atenção.
[Ouça a matéria especial do repórter Rafael Carneiro, da Rádio Jornal]
As crianças mostradas pelas lentes do repórter fotográfico Diego Nigro já recebem atenção da Prefeitura, no entanto, a outra face continua a ser vista nas ruas. O lixo é um desafio difícil de ser combatido...
Várias discussões sobre a responsabilidade e gestão dos resíduos ocorreram, mas qual a saída para limpar um saldo de 650 toneladas geradas por dia na capital, se a capacidade de coleta é de apenas duas?
Para o engenheiro e coordenador do Projeto Recicla Pernambuco, Bertrand Sampaio, do Instituto de Tecnologia do Estado, o primeiro passo para equilibrar este déficit é abrir um debate com a sociedade.
Paulinho joga a lata colhida para Geivson, que a coloca na sacola. Foto: Diego Nigro / JC Imagem
Como tentativa de melhoria na coleta e tratamento do lixo, a Prefeitura do Recife apresentou o Plano Municipal de gerenciamento de resíduos sólidos com um investimento de 15 milhões de reais. Há a previsão de sete Ecoestações na cidade, onde a população poderá destinar entulhos e materiais recicláveis.
O presidente da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), professor Antonio Barbosa, explica na prática o que é o plano. O governo municipal conta como aliado, a população e um exército de catadores.
Criança quase não é notada no meio de lixo. Foto: Diego Nigro / JC Imagem
No Recife, algumas empresas e condomínios se anteciparam à Prefeitura na reutilização de recicláveis, o que pode gerar receita e inclusão social. O catador Edoaldo Francisco vive do lixo e conta com a ajuda destas iniciativas para manter a família formada por esposa e mais três filhos pequenos. Ele arrecada por mês uma média de R$ 400.
Assim como Edoaldo, outras 2 mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças recolhem materiais deixados em local inapropriado. No estado, o número total de catadores ultrapassa 20 mil.
O plano de gerenciamento de resíduos da Prefeitura do Recife tem um prazo de 180 dias para identificar as necessidades da população. Enquanto os efeitos das ações não podem ser medidos, o bom senso e a educação são saídas para melhorar a situação do lixo.