ENTREVISTA

"A França hoje vive um momento de comoção e de temor", diz professor da UFPE que mora em Paris

Sandro Sayão, que está na França para fazer seu pós-doutorado, estuda a maneira com que os discursos religiosos podem influenciar a filosofia e a vida humana

Da Rádio Jornal
Da Rádio Jornal
Publicado em 08/01/2015 às 9:30
Sandro Sayão é doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Foto: reprodução/arquivo pessoal


Um dia depois do atentado à sede da revista francesa Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos e 11 feridos, profissionais de imprensa, sociedade civil e defensores dos direitos humanos ainda estão perplexos com o caso e com as repercussões que ele pode tomar. Nesta quinta-feira (8), o comunicador da Rádio Jornal, Geraldo Freire, conversou com o filósofo e professor de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sandro Sayão, para saber como está o panorama geral na França.

De acordo com o professor, a revista Charlie Hebdo é uma publicação que toca em pontos delicado da política, das religiões, das tradições e dos costumes. "Esse jornal centra suas colunas na discussão de elementos que são trabalhados por outras revistas de maneira sútil. Eles promovem polêmicas e promovem debates de uma forma que as pessoas não tocariam", diz.

Para o filósofo estudioso dos direitos humanos, a grande diferença é que a revista tratou de um ponto religioso que alguns grupos fundamentalistas recebem com extrema violência, já que são opiniões diferentes das deles próprios. Ouça a entrevista completa:

Sandro Sayão, que está na França para fazer seu pós-doutorado, estuda a maneira com que os discursos religiosos podem influenciar a filosofia e a vida humana. Sobre as religiões, ele afirma que os escritos e os testemunhos religiosos são extremamente importantes, mas não devem ser tomados ao pé da letra. E é justamente isso que baseia os atos extremistas. "Esse fato é a ponta do iceberg de algo muito mais profundo", diz.

A revista, que deve voltar à circulação na próxima semana, já havia sido atingida outras vezes, com enfoque especial para 2011. O atentado levantou a questão da liberdade de imprensa e de expressão. "As palavras estão aí para serem ditas, embora todas as palavras que saem da nossa boca sejam de nossa própria responsabilidade", diz. "Não podemos esquecer que em momentos nada pode ofuscar o dramático que é o momento. Todos nós seres humanos fomos atingidos", completa.

Sobre o futuro dos mulçumanos e dos imigrantes, Sandro fala que a sociedade francesa já está impregnada dessas outras culturas e há uma série de tensões pela incapacidade de lidar com as diferenças. As pessoas vivem de forma isolada em suas culturas e a convivência vai se tornando cada dia mais difícil. "A França vive um momento de comoção e de temor. As pessoas saem com medo de ser surpreendidas. Quando saí de casa, estava um cenário de filme", afirma. "Isto vem se gestando há muito tempo e não será resolvido há curto prazo nem de forma truculenta", conclui.