SEGURANÇA

Após rebelião, Complexo Prisional do Curado volta a viver clima de tensão

O que era apenas um protesto pacífico durante a manhã, se transformou em um verdadeiro pesadelo durante a tarde. Saldo foi de 2 mortos e 27 feridos

Da Rádio Jornal
Da Rádio Jornal
Publicado em 20/01/2015 às 5:44
Foto: Ísis Lima/Rádio Jornal


Um dia depois do tumulto que deixou dois mortos e 27 feridos no Complexo Prisional do Curado, o clima volta a ficar tenso. Por volta das 9h30 desta terça-feira (20), muitos tiros disparados dentro do presídio foram ouvidos. Por volta das 11h, a situação ficou ainda mais delicada quando os detentos caminhavam por cima dos pavilhões e no pátio. Os presos se recusam a entrar nas celas para que a polícia possa fazer a revista.

O local está fortemente monitorado por viaturas do Batalhão de Choque da Polícia Militar e por ambulâncias do Corpo de Bombeiros. Mães e esposas aguardam por notícias em frente ao local.

De um morro que fica próximo ao Complexo Prisional, a repórter Ísis Lima conseguiu avistar a mensagem escrita por detentos onde denunciam que policiais teriam assassinado seis detentos. A polícia não confirma a informação. Saiba mais:

O cenário da rebelião é antigo Presídio Aníbal Bruno, que atualmente é um complexo prisional dividido em três unidades e localizado no bairro do Sancho, Zona Oeste do Recife. A mudança aconteceu há pouco menos de três anos.

O protesto começou pela manhã, quando os reeducandos recusaram o café da manhã e ficaram em cima das lajes. Nas faixas, mensagens cobrando agilidade nos processos em tramitação na Justiça e melhorias nas celas. Ficou evidente o descontentamento com o juiz Titular da Primeira Vara das Execuções Penais, Luiz Rocha. Sobrou também para o representante do Ministério Público, o promotor Marco Aurélio Farias.

Foto: Ísis Lima/Rádio Jornal


O Batalhão de Choque da Polícia Militar foi acionado, mas não entrou no Complexo Prisional do Curado. No entanto, o clima ficou tenso a partir do meio da tarde, quando, segundo a Secretaria de Ressocialização, os presos resolveram depredar o patrimônio. Começava nesse momento o embate entre internos e policiais.

No confronto, o primeiro sargento Carlos Silveira do Carmo, de 44 anos, foi baleado na cabeça. O policial Militar lotado no Batalhão de Guarda chegou a ser socorrido e levado até o Hospital Otávio de Freitas, mas não resistiu. A vítima tinha 24 anos de corporação e trabalhava há seis meses na guarita central, que liga as três unidades do Complexo.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem


O Comando Geral da Corporação divulgou nota de pesar e decretou luto oficial de três dias pela morte do primeiro sargento. Além de Carlos Silveira do Carmo, o reeducando Edvaldo Barros da Silva Filho, de 34 anos, também morreu nesta rebelião.

Ao todo 29 presos receberam atendimento médico por conta do tumulto na tarde desta segunda-feira (19). No lado externo do Complexo Prisional do Curado, famílias se aglomeravam em busca de informações.

Uma das poucas a revelar o nome, a dona de casa Maria José da Silva fala do sofrimento ao ter o filho atrás das grades:

Durante a rebelião no Complexo Prisional do Curado foi exposta a facilidade de comunicação entre reeducandos e familiares via aparelhos celulares. Os parentes de presos aproveitaram para denunciar o caos no sistema com processos parados e celas superlotadas.

Relatos apontavam ainda para a prática de tortura e maus tratos e do comércio, inclusive de drogas dentro dos pavilhões. Esta mulher que não quis se identificar tem dois irmãos presos. Ela denuncia uma série de irregularidades no antigo Aníbal Bruno:

SISTEMA EM CRISE - No Complexo do Curado, uma rebelião foi deflagrada na véspera de Natal e por pouco detentos não conseguiram fugir por um túnel. Nos primeiros dias de janeiro, o novo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, enfrentou a primeira crise no caótico sistema prisional do Estado. Em apenas quatro meses e uma semana como secretário de Ressocialização, Humberto Inojosa, renunciou ao cargo. Em seu lugar, assumiu o coronel da PM, Eden Vespaziano. Na ocasião, o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, anunciou também um pacote de medidas. A promessa mais ousada foi acabar com a circulação de armas brancas e celulares nas unidades prisionais, feita três dias depois da Rede Globo divulgar flagrantes registrados no Complexo do Curado.

O sistema prisional do Estado é proporcionalmente o mais superlotado do Brasil, com déficit de agentes penitenciários e policiais militares para a segurança e monitoramento. Hoje, existem cerca de 31 mil detentos onde caberiam 10 mil. No último dia 7, o Batalhão de Choque foi ao local e fez uma varredura, encontrando cerca de 40 armas e celulares.