Direitos Humanos

Negligência ainda é a principal forma de violência contra o idoso. Principais suspeitos são os filhos

O levantamento mostra que 76,48% das violações denunciadas são cometidas na casa das vítimas

Da Agência Brasil
Da Agência Brasil
Publicado em 16/06/2015 às 5:32
Imagem ilustrativa. Reprodução/internet


A negligência ainda é a principal forma de violência cometida contra pessoas idosas no Brasil. No Dia Mundial de Combate à Violência contra o Idoso, lembrado nessa segunda-feira (15), a coordenadora-geral do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, Ana Lúcia da Silva, destacou que essa é a primeira violência identificada e faz com que se abram portas para outras formas de violações. “É a [forma de violência] mais informada no Disque 100”, disse Ana Lúcia.

Segundo ela, além das violações que ferem o Estatuto do Idoso, o conselho se preocupa com a retirada de direitos já garantidos, como a diminuição da pena para violência contra idosos no projeto do novo Código Penal. “São coisas que mostram que não existe sintonia da sociedade com o que de fato existe no Brasil.

Assim como o fortalecimento da rede de delegacias especializadas no atendimento ao idoso, Ana Lúcia defende a qualificação de todos os agentes públicos de segurança para atender a esse público. Ela ressaltou que o Ministério do Desenvolvimento Social tem um projeto para construção de centros de referência para idosos, mas que gestores municipais não têm interesse por causa do alto custo de manutenção. “O custeio e despesas fixas são coisas que oneram o município. Então, muitos prefeitos não se interessam em ter. Temos que buscar instrumentos que possam responsabilizar esses administradores."

Para Ana Lúcia, entretanto, o desafio de cuidar dos idosos não é só do Estado, mas de toda a sociedade civil. De acordo com ela, é preciso tomar consciência desse processo. “As pessoas não estão se preparando psicologicamente para compreender e assumir o envelhecimento. Existe uma negação, as pessoas querem continuar jovens. Com isso, é muito mais difícil definir o perfil do que será o espaço mais adequado para que possamos ter essa convivência”, explicou, defendendo que ela seja sempre transversal e intergeracional.

Segundo dados do Disque 100, serviço de recebimento de denúncias contra violações de direitos humanos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2014, houve 27.178 comunicações de abusos contra a pessoa idosa. As mais recorrentes são de negligência, 20.741 denúncias (76,32%); violência psicológica, 14.788 (54,41%); abuso financeiro e econômico, 10.523 (38,72%); violência física, 7.417 (27,29%) e violência sexual, 201 (0,74%). Entre as formas de violência menos denunciadas estão a institucional, a discriminação e outras violações ligadas a direitos humanos, trabalho escravo e torturas.

O levantamento mostra ainda que 76,48% das violações denunciadas são cometidas na casa das vítimas; e em 51,55% dos casos denunciados, os próprios filhos são suspeitos das agressões. São Paulo lidera o volume de denúncias, 5.442 (20,02%), mas o Distrito Federal tem o maior número de denúncias per capita: 354,73 por 100 mil habitantes.

A capital federal é seguida pelo Amazonas (297,3 denúncias por 100 mil habitantes), Rio Grande do Norte (250,81 por 100 mil), Piauí (187,72 por 100 mil) e Rio de Janeiro (186,68 por 100 mil). O estado de São Paulo está em décimo sexto no ranking, com 114,05 denúncias para cada 100 mil habitantes.