PASSANDO A LIMPO

Deputado que conduziu impeachment contra Collor diz que não há razão pra criminalizar Dilma

Ibsen Pinheiro, que é do mesmo partido de Eduardo Cunha, afirmou que não há razões para defendê-lo e criticou carta de Michel Temer

Da Rádio Jornal
Da Rádio Jornal
Publicado em 15/12/2015 às 10:44
Foto: Diógenis Santos/Arquivo Agência Câmara


No dia em que o Brasil ferve com mais um desdobramento da Operação Lava Jato, a Rádio Jornal conversou com o deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), correligionário de Eduardo Cunha e famoso por ter conduzido o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. O parlamentar falou da relação com Eduardo Cunha e comentou o processo contra a presidente Dilma Rousseff.


Sobre a relação com o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Ibsen afirmou que não tem razões para defendê-lo e que os indícios que cercam as investigações por corrupção e lavagem de dinheiro são muito fortes. "Convivi com ele na minha última passagem pela câmara dos deputados. Nessa convivência percebi que os seus limites de atuação são amplos demais. Percebíamos que ele sempre teve uma bancada própria que começou no seu estado, mas que se estendia a outros estados, por participar de ajuda em campanhas eleitorais".

Ibsen, que foi acusado erroneamente pela Revista Veja de ter participação no Escândalo dos Anões do Orçamento, disse que é preciso ficar atento às informações para não cometer equívocos na hora de fazer uma acusação/investigação. "Tenho a convicção que todos têm uma dúvida íntima no momento de investigação. Eu estava na posição de julgador no processo de Collor, mas sempre disse que nossa primeira tarefa não é a de fazer justiça, mas de não fazer injustiça", afirmou. Sobre Cunha, Ibsen disse não ter "razão nenhuma pra defende-lo, mas me inquietam processos de acusação amplamente massificados. Me lembro que no processo que eu sofri minha família sofreu junto comigo", completou.

Em relação ao processo de impeachment da presidente Dilma acolhido por Eduardo Cunha, Ibsen voltou a afirmar que não vê fundamento teórico. "Um processo de crime de responsabilidade tem que ter fundamento técnico e também político. Precisa dos dois, não apenas um deles. Acho que no caso presente não há essa clareza", afirmou.

Para Pinheiro, o desrespeito à lei orçamentária depende do grau da intenção de produzir efeito danoso, o que ele não acredita que tenha sido a motivação do governo. "Um impeachment não é instância da eleição, ele é um modo de arbitragem política de uma crise institucional", disse.

Em relação ao processo de impeachment conduzido por ele contra o ex-presidente Fernando Collor de Melo, um dos motivos dele ter aceito o processo de Collor foi a noção de que estávamos caminhando pra uma crise institucional. "Em 1992 eu senti que qualquer resultado colocaria o país de novo dentro da sua normalidade", disse.

Entrevista foi ao ar no programa Passando a Limpo. Confira a íntegra:

LIBERDADE DE IMPRENSA

A história de Ibsen Pinheiro é uma das mais famosas quando se fala de erro de apuração. "Aprendi que a liberdade de imprensa produz muitas distorções, mas não há nada mais grave do que o fim da liberdade de imprensa. Eu próprio fui vítima de uma injustiça que talvez não tenha sido nem intencional, acho que foi irresponsabilidade. Mas se não tivesse liberdade de imprensa, talvez eu não tivesse a reparação", disse.

SOBRE CARTA DE TEMER

De acordo com o deputado, que também é correligionário do vice-presidente Michel Temer, a carta enviada à presidente Dilma deu a impressão de uma ruptura e o início de uma conspiração pra se afastar do governo e derrubar a petista através do impeachment. "Mas os conteúdos da carta são tão precisos que cheguei à conclusão de que é verdadeiro".