LEI MARIA DA PENHA

Jornalista denuncia violência doméstica cometida por professor universitário

Alunos do UniNassau fazem ato de combate à violência doméstica e sexista em solidariedade à vítima e pedem a saída do professor

Da Rádio Jornal
Da Rádio Jornal
Publicado em 21/03/2016 às 7:16
Violência foi denunciada pela vítima nas redes sociais. Reprodução/facebook


Na última sexta-feira (18), a jornalista Candice Dantas procurou a polícia e prestou queixa contra o ex-marido, o professor universitário Thiago Ianatoni. O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais no fim de semana após o relato da agredida ser publicado no Facebook. De acordo com Candice, ela foi espancada e empurrada da escada após encontrar o ex com uma outra mulher no apartamento onde moravam juntos.

Nas fotos divulgadas nas redes sociais é possível verificar diversos hematomas no rosto, costas e pernas. O professor ainda não se pronunciou sobre o caso. A Polícia emitiu um termo que impede que Thiago Ianatoni se aproxime de Candice.


Nesta segunda-feira (21), alunas dos cursos de Jornalismo e Marketing da UniNassau, Centro Universitário em que o suspeito leciona, realizaram ato de combate à violência doméstica em solidariedade à vítima. Elas usavam camisas cor-de-rosa e carregar cartazes de apoio às mulheres vítimas de agressão. O protesto também pede a saída do professor Thiago Ianatoni da instituição e afirmam que ele tinha um comportamento agressivo e homofóbico. Saiba mais na reportagem de Rafael Carneiro:

O caso será investigado pela Delegacia da Mulher no Recife. A delegada titular da delegacia da mulher, Ana Elisa Martins, fala do problema da violência de gênero:

Apesar da Lei Maria da Penha ter sido sancionada há dez anos, os casos de violência doméstica e sexista estão longe de acabar. De acordo com dados da Polícia Civil, mais de 31 mil ocorrências foram registradas em 2015, sendo as mais comuns injúria, ameaça e lesão corporal.

Leia o relato de Candice Dantas:

“Antes de vir publicar tudo isso eu pensei muito, muito mesmo! Depois do que eu passei, não tenho vergonha nenhuma de me expor, afinal, eu sou a vítima, não fiz absolutamente nada de errado, e só estou aqui para que vocês conheçam o verdadeiro Thiago, meu ex-companheiro.

Todos vocês sabem da nossa relação, alguns são bem próximos, outros acompanharam apenas pelas redes sociais. Nós moramos juntos por quase um ano e dois meses e como qualquer casal tínhamos as nossas brigas, mas em julho do ano passado houve a primeira agressão. No meio de uma discussão ele me empurrou contra a parede, o empurrão foi tão forte que fiquei sem ar por alguns segundos. Quem conhece Thiago sabe que ele é bem mais alto do que eu, então já podem imaginar como foi forte esse empurrão. Na época ele me pediu mil perdões, disse que não teve a intenção, e eu acreditei. E essa foi a primeira de uma série de agressões.

Quando eu via essas coisas acontecendo por aí, sempre pensava que eu nunca iria permitir uma coisa dessas acontecer comigo. Mas eu acreditei no amor que ele dizia sentir por mim, eu sei que fui boba, besta mesmo! Até fui atrás de terapia para casais pra tentar buscar uma resposta para essas coisas estarem acontecendo e a gente tentar se melhorar. Isso porque ele sempre falava que eu tinha culpa, que ele perdia a paciência comigo.

Desde então, fomos levando, uns dias de flores e o outros de desprezo. Eu aguentei muito! Sou uma pessoa de fé, acredito no poder de Deus. E como ele também se diz uma pessoa de fé, íamos a igreja todas as semanas. E eu fazia de tudo para evitar os desentendimentos. No último final de semana fui até Fortaleza para visitar minha família paterna. Ele foi até o aeroporto, nos despedimos com ele dizendo que me amava. Durante a minha estádia em Fortaleza, fui percebendo umas atitudes estranhas, coisas que ele não costumava fazer. Em poucas horas que eu estava lá, ele já tinha adicionado quase 100 mulheres nas redes sociais, algumas do passado dele, que ele evitava muita aproximação para evitar que eu ficasse chateada. Pois bem, eu voltei para o Recife na quinta-feira (17), pela manhã.

Durante a tarde tivemos mais uma das nossas discussões, dessa vez pela falta de respeito que ele estava tendo comigo durante o período em que eu estive ausente, e ele mais uma vez foi rude comigo, eu não pensei duas vezes e liguei para minha mãe. Contei para ela, tudo o que estava engasgado, todas as agressões que sofri e pedi que ela fosse me ajudar. Na mesma hora ele saiu de casa. Comecei junto com a minha mãe a tirar minhas coisas do apartamento, mas como já estava ficando tarde, deixamos para pegar o resto das coisas no dia seguinte, com ajuda de um frete, para poder levar as coisas até a casa da minha mãe.

Ontem liguei para o frete e ele disse que só poderia hoje. Isso, durante todo o tempo, minha mãe me implorava para que eu fosse até uma delegacia para fazer um Boletim de Ocorrência das agressões que sofri. Passei o dia aos prantos, e no fim da noite fui até o meu antigo lar, para tentar ter uma conversa amigável e adiantar a organização das minhas coisas. Ao chegar no apartamento, me deparo com outra mulher lá, no meu quarto. Ele nem esperou que eu tirasse as minhas coisas para levar outra até o nosso lar, nosso cantinho, como a gente se referia ao nosso apartamento.

Ele na mesma hora veio para cima de mim, me empurrou da escada abaixo (o quarto fica no andar de cima), a moça gritava pedindo para ele não me bater e eu tentava me segurar nele, para não bater a cabeça. E quando chegamos na sala, ele me empurrou para escada que dá para o corredor. Me empurrou contra parede, me puxou pelos cabelos, me chutou, e me deixou caída no corredor do prédio. E ele só parou porque a moça correu e se jogou na minha frente. Ela estava tão assustada quanto eu. Eu estava tão desesperada que gritava que ia denunciar ele, e ele olhou pra mim com cara de deboche e me mostrou o dedo do meio. Pedi pelo amor de Deus que a moça me acompanhasse à delegacia, já que o porteiro do prédio disse que eu deveria deixar pra lá.

No caminho, ela me contou que ele dizia que eu era louca e que ele já tinha me batido e eu aceitava. Ela disse que quando soube, ficou assustada, mas não imaginava que ele era capaz de fazer tudo aquilo. Eu tenho muito que agradecer a Deus por ela estar ali, tenho certeza que se ela não estivesse lá, a coisa teria sido bem pior. Fiz Boletim de Ocorrência, exame de corpo de delito, já possuo uma ordem protetiva (ele não pode se aproximar de mim). Tenho hematomas pelo corpo todo, não consigo sentar que dói, deitar que dói… Fora que estou até agora sem acreditar que isso tudo aconteceu comigo, estou em estado de choque, eu pensei que eu fosse morrer.

O meu pânico é tão grande, que estou com medo de ficar nos lugares sozinha. Durante o período que estávamos na delegacia, a moça me disse que ele postou uma foto qualquer em uma rede social, assim, como se nada tivesse acontecido. Não estou aqui para denegrir ninguém, apenas quero tornar público o que aconteceu comigo. Não quero que nenhuma mulher passe pelo que eu passei. E quero que vocês saibam que por trás de um rostinho bonito, gestos gentis, conversa agradável, existe um cara que agride mulheres. Tenham cuidado! Eu desconfio que eu não fui a primeira, e provavelmente não serei a última. Mas farei o possível para que o que ele fez comigo não fique impune”.