CIÊNCIA

"Seca pode ter feito o morcego buscar sangue humano", diz veterinário

Considerando que o "morcego-vampiro" tem menos tolerância ao sangue de mamíferos, os novos hábitos alimentares reforçam um cenário de escassez de presas.

Rádio Jornal
Rádio Jornal
Publicado em 13/01/2017 às 9:30
Foto: Enrico Bernard/Cortesia

Após pesquisa conduzida por cientistas brasileiros revelar que a espécie de morcego Diphylla ecaudata, encontrada entre o Agreste e o Sertão do Estado, está se alimentando de sangue humano, especialistas avaliam que os novos hábitos alimentares da espécie, popularmente conhecida como morcego-vampiro-das-pernas-peludas, reforçam um cenário de escassez de presas, provavelmente causado pela seca.

Até então, essa espécie de morcego era conhecida por consumir exclusivamente sangue de aves, silvestres ou domésticas. De acordo com uma avaliação realizada pelo professor de zoologia da UFPE e responsável pela pesquisa, Enrico Bernard, considerando que o morcego tem fisiologicamente menos tolerância ao sangue de mamíferos, é provável que ele esteja se adaptando e experimentando novas fontes de alimento por falta de oferta.

Confira a reportagem de Roberto Gonçalves, da Rádio Arari FM:

Em entrevista à Rádio Jornal nesta sexta-feira (13), o veterinário Doralécio Lins apresentou a teoria de que a seca pode estar causando a mudança do hábito alimentar do animal. “Estamos vivendo anos de seca há pelo menos três anos. As pessoas não têm o que plantar, mas tem o que comer. Não tem galinhas, por exemplo. O que provoca a falta de alimento natural para esse morcego”, explicou. Para ele, o caso não é motivo para alarde, apesar de a mordida do bicho poder causar a doença da raiva. “A coisa ainda é muito incipiente para virar uma epidemia”.

Ouça abaixo a entrevista completa com o veterinário Doralécio Lins:

O estudo

O estudo, que analisou 70 amostras de fezes da espécie, foi conduzido no Parque Nacional do Catimbau, na região da Caatinga pernambucana, a cerca de 300km do Recife. Os cientistas conseguiram extrair o DNA de 15 amostras e descobriram vestígios de sangue humano em três. A revelação foi publicada em dezembro do ano passado, na revista científica Acta Chiropterologica, a mais importante publicação do mundo voltada à pesquisa de morcegos.