HOMODERIVADOS

Ex-secretário critica possível ida de fábrica da Hemobrás para o PR

Para Guilherme Robalinho, a Hemobrás pode perder força em PE com produção de fator VIII na cidade de Maringá "reduto político do ministro"

Rádio Jornal
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Publicado em 08/08/2017 às 9:37

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O ex secretário de Saúde da Prefeitura Recife e do Governo do Estado Guilherme Robalinho criticou, na manhã desta terça-feira (8), a renegociação do contrato da Hemobrás para a produção do fator VIII recombinante, o produto com maior valor agregado previsto para a fábrica de Goiana, na Mata Norte do Estado. Para ele, esta é uma "história infelizmente anunciada". "Há alguns meses fizemos chegar conhecimento a alguns setores das nossas preocupações com desdobramento da crise da Hemobrás", disse.

"Houve grande atraso na implantação do projeto, que se deveu às várias dificuldades encontradas pelo Tribunal de Contas da União que culminaram com a desagradável intervenção da polícia que constatou irregularidades na Hemobrás. Isso abriu um pretexto e há um longo silêncio a partir daí. Além de uma imobilização para esclarecer os equívocos ocorridos. Se ocorreu equívocos, as pessoas devem ser penalizadas, mas nunca parar um projeto que vem sendo defendido por Pernambuco, desde que somos os pioneiros no tratamento dos homoderivados no Brasil", disse Robalinho.

Em meio à articulação do ministro da Saúde, Ricardo Barros, para que a produção seja em Maringá (PR), seu reduto eleitoral, o acordo chegou a ser suspenso, mas uma liminar garantiu a sua manutenção. O fator VIII recombinante é o medicamento distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para hemofílicos. Hoje, uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) da Hemobrás com a empresa francesa Shire prevê a compra pela estatal, mas também a transferência da tecnologia para que a produção passe para Pernambuco até 2023.

Para Guilherme Robalinho, não existe nenhuma justificativa para que a Hemobrás saia de Pernambuco. "Essa atitude de levar a cereja do bolo que é a produção do fator VIII para fora de Pernambuco inviabiliza completamente a nossa Hemobrás e inviabiliza também o desenvolvimento do polo de tecnologia.Não se justifica que o projeto seja levado para o Paraná e estranhamente para Maringá que é uma cidade sem tradição de pesquisa na área e coincidentemente é o reduto político do ministro da Saúde", disse.

De acordo com o Blog de Jamildo, Barros quer fechar com um consórcio que engloba a empresa suíça Octapharma, citada na Operação Máfia dos Vampiros, e os laboratórios públicos Butantã, de São Paulo, e Tecpar, do Paraná, além da própria Hemobrás. Nesse novo negócio, a produção do recombinante passaria para a unidade do Paraná e em Pernambuco ficaria apenas o fracionamento do plasma.

O ex-secretário também criticou a atual gestão da estatal. "É uma pena que tenha havido uma paralisia de reivindicação, acomodação dos que estavam lá por cima de que as coisas andavam bem na Hemobrás, quando na verdade não estavam", comentou.

Ouça a íntegra da entrevista com Guilherme Robalinho

O senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE) também defendeu que é uma questão política o negócio proposto por Barros. “Se a Hemobrás não agregar a produção do fator recombinante à sua atuação, a expressão econômica da empresa será dramaticamente reduzida”, disse ainda.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou em entrevista ao JC que a Hemobras terá de encontrar uma forma de terminar sua fábrica em Goiana, na Zona da Mata Norte, caso Pernambuco não aceite a proposta de produzir o fator VIII recombinante, usado no tratamento de hemofílicos, no Paraná.