PSICOLOGIA EM MOVIMENTO

Amor: a necessidade da presença concreta do amado

O psicólogo Sylvio Ferreira interpretou para os ouvintes, no programa Movimento, o artigo "o amor em migalhas" de autoria própria

Rádio Jornal
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Publicado em 14/08/2017 às 22:26

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O dicionário da língua portuguesa define amor como: afeição profunda a outrem, a ponto de estabelecer um vínculo afetivo intenso, capaz de doações próprias, até o sacrifício; dedicação extrema e carinhosa; sentimento profundo e caloroso de atração que um sexo experimenta pelo outro e ainda, carinho, ternura, cuidado e zelo. Pode se referir também a figura amada. Sobre o assunto, o psicólogo Sylvio Ferreira trouxe uma reflexão acerca da necessidade humana em ter a pessoa amada perto para expressar o amor em uma dessas formas listadas acima e ainda, a projeção mental do ser como uma forma de suprir a necessidade quando a pessoa não está perto.

Ouça Psicologia em Movimento na integra:

O amor em migalhas

Por Sylvio Ferreira

"Quando alguém ama uma pessoa, é comum desejar tê-la sempre ao lado – sem que haja limites para que isso aconteça. Quem ama tende a doar-se por completo e necessita da presença concreta do outro para ofertar-lhe em profusão o que sente.

As delicadezas, atenções e mimos dispensados representam a mais direta expressão desta necessidade, a qual parece nunca se esgotar. Ter a pessoa amada sempre ao lado é menos um capricho do coração de quem ama, mas mais uma imperiosa necessidade do próprio amor, em querer materializar-se através de gestos e palavras, beijos e carícias, gemidos e movimentos.

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Caso a pessoa amada encontre-se, de algum modo, comprometida com outra, que detenha prioridade do relacionamento, o coração de quem ama irá sempre se ressentir da impossibilidade de ofertar os seus sentimentos em todas as circunstâncias, ocasiões e momentos, como o coração assim exige.

Talvez, por isso, quem se dispõe a viver um relacionamento desta natureza recorre tanto às lembranças das situações vividas, como uma forma de materializar os desejos do coração, através da memória afetiva. É essa atitude compensatória que mantém vivos os desejos e realimenta os sentimentos quando a pessoa amada não se encontra disponível e ao alcance da mão.

Revivido e recriado, a cada momento, no espaço da memória e da imaginação, o relacionamento mantido com limites se torna praticamente ilimitado. Entretanto, a lembrança pura e simples das situações vividas, se dá corpo aos sentimentos, não é o bastante para encobrir uma verdade (pelo contrário, a expõe em demasia); se a pessoa tem amor em profusão para ofertar ao outro, por outro lado, o amor que o outro lhe oferta, pela própria natureza da relação, é sempre o amor em migalhas.

Se assim acontece, não é por acaso, nem por falta de merecimento de quem ama, mas por uma razão que encontra explicação e assenta as suas raízes na mitologia grega. Eros – o deus do amor – não oferece o amor somente em abundância.

Sendo fruto do deus Poros (a abundância, a riqueza, a fartura ) e Pênia (a pobreza, a carência e a penúria), Eros também faz as pessoas conhecerem o amor em migalhas; menos porque seja mau, mas mais porque esta é a natureza do deus do amor; filho da abastança e da escassez."

Este artigo foi originalmente publicado no Caderno Família do Jornal do Commercio, Recife, PE, em 02/11/1997

Com informações do site "www.dicionarioinformal.com.br".