maternidades

Mulheres da RMR têm dificuldades para dar à luz nas cidades onde vivem

A falta de maternidades tem como resultado, muitas vezes, a dor das mães que não conseguem estrutura para dar à luz

Mayra Milenna Gomes
Mayra Milenna Gomes
Publicado em 09/07/2018 às 8:58
Foto: Fernando da Hora/JC Imagem
FOTO: Foto: Fernando da Hora/JC Imagem

Emoção e dor fazem parte da história da operadora de caixa, Érika de Souza Campos, de 34 anos. Ela entrou em trabalho de parto em 2016 com 41 semanas de gestação, mas não conseguiu vaga em maternidades de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR), onde mora. Peregrinou, durante quase uma semana, de hospital em hospital, até que foi atendida no Tricentenário, em Olinda. O bebê, que se chamaria Leonardo, teve insuficiência respiratória e não sobreviveu. Érika culpa toda a equipe do hospital. Ela buscou a Justiça e afirma que a demora no atendimento destruiu o sonho dela de ser mãe.

"Foi uma semana peregrinando sem ter a ajuda de ninguém. Eu jamais imaginei que ia sair com o meu filho do jeito que eu vi. Dentro de um saco, enrolado. Eu tinha em mente que ia sair com ele vivo. A gente daqui vai pra casa e não pro cemitério”, desabafou.

A história de Érika não é um caso isolado. Muitas mulheres do Grande Recife têm dificuldades para dar à luz nos municípios onde vivem. O problema já foi denunciado pelo Sindicato dos Médicos.

Ouça informações com Cínthia Ferreira:

A dona de casa Jaqueline Cristina da Silva, de 22 anos, mora em Araçoiaba, na Zona da Mata Norte, onde também não tem maternidade. Grávida de gêmeos, não conseguiu ser atendida em cidades próximas e, enquanto buscava um lugar para dar à luz, um dos bebês acabou nascendo dentro da ambulância. O outro só nasceu dois dias depois, no Centro Integrado de Saúde, o Cisam, no Recife. Como ainda inspira cuidados, ele está há três meses internado na unidade de Terapia Intensiva (UTI). A mãe tem medo que o bebê pegue uma infecção.

Além de Araçoiaba, São Lourenço da Mata, Itapissuma, Igarassu, Itamaracá, Moreno e Paulista não realizam partos. Ou porque não possuem maternidades ou porque elas foram fechadas pelos municípios. Sem escolha, muitas mulheres acabam tendo os filhos no Recife. As quatro maternidades municipais realizam, em média, 1200 partos por mês. Desse total, de 30 a 35% são de mulheres que moram em outras cidades.

Números

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, só em 2017, nasceram, na Capital pernambucana, mais de 49 mil bebês. A consequência é a superlotação, como ocorre no Hospital das Clínicas, ligado à Universidade Federal de Pernambuco.

Na sala de expectação da unidade de saúde, onde a mulher aguarda para ter o bebê, oficialmente existem quatro leitos. Mas tem dias que 33 mulheres aguardam no local. A situação é tão complicada que algumas grávidas tem que ficar nos corredores em macas e cadeiras. Bebês chegam a ficar até em camas por falta de encubadoras disponíveis.

A unidade de cuidados intermediários é uma das que mais sofrem com a superlotação. A coordenadora da unidade de neonatologia do hospital, que é referência para partos de alto risco, conta que o local chega a fazer partos de risco habitual, que seria de responsabilidade dos municípios.

A falta de maternidades tem como resultado, muitas vezes, a dor. Érika de Souza Campos ainda não conseguiu se desfazer do móvel onde guarda as roupinhas do filho. "A gente não tá ali se divertindo não, a gente está sofrendo, tá sem se alimentar, mas a gente espera que depois da dor tenha só alegria, ter seu filho nos braços, poder amamentar… eles fazem do melhor momento da gente, o pior”.