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Maternidades não saem do papel e futuras gerações pagam pelo descaso

O Ministério Público investiga há dois anos as irregularidades das maternidades da rede materno-infantil de Pernambuco

Mayra Milenna Gomes
Mayra Milenna Gomes
Publicado em 10/07/2018 às 11:38
Foto: Divulgação/Prefeitura de Olinda
FOTO: Foto: Divulgação/Prefeitura de Olinda

Do lado de fora, o que se vê da Maternidade Municipal Brites de Albuquerque, em Olinda, são só tapumes de uma obra que parece não ter fim. A unidade está fechada desde 2014 para reforma. Orçada em R$ 8 milhões, a obra deveria durar apenas um ano - já se passaram quatro. O projeto de ampliação prevê estrutura adequada para partos de alto risco, UTI neonatal e bloco cirúrgico. Márcia mora a poucos metros da maternidade, mas não conseguiu ter o bebê perto de casa, como sonhou. Ela acredita que ajudaria bastante um lugar mais perto porque evitaria ir de hospital em hospital.

Esta não é a primeira vez que a maternidade é fechada para reforma. A reforma e a ampliação do local estavam previstas no plano de investimento em assistência obstétrica de alto risco, de 2012. O projeto do Governo de Pernambuco, em parceria com o Ministério da Saúde, pretendia descentralizar, em dois anos, o atendimento às gestantes no Estado. O orçamento total era de R$ 81 milhões.

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A Brites de Albuquerque seria a Maternidade Metropolitana Morte de alto risco. Em Caruaru, estava prevista a construção do Hospital da Mulher, com 160 leitos, mas a obra está parada. A outra ponta do triângulo ficaria em Jaboatão, com o nome de Maternidade Metropolitana Sul de alto risco. A obra, parada, começou a ser planejada depois que a única maternidade municipal de Jaboatão foi demolida, em 2006.

Em 2010, foi lançado um edital para a reconstrução da maternidade, no bairro de Sucupira. A obra começou três anos depois com um investimento de cerca de R$ 23 milhões. A previsão era de que tudo estivesse pronto em 360 dias. Nós estamos em 2018. E a obra está abandonada.

Custos

Nos mais de oito anos em que vem se arrastando, o custo dela aumentou de R$ 23 milhões para R$ 38 milhões. Mas o que se vê hoje são ferragens expostas e muros inacabados. O mato tomou conta de tudo. Até os tapumes já foram roubados. Um morador revela: a obra que deveria servir à população vem sendo abrigo para outros fins, como prostituição, roubos e uso de drogas.

O Ministério Público investiga há dois anos as irregularidades da rede materno-infantil de Pernambuco. O Sindicato dos Médicos esclarece: não é preciso que cada cidade tenha uma maternidade e sim que uma rede possa garantir atendimento digno às gestantes e recém-nascidos.