Grande parte dos assassinatos no Brasil, hoje, têm ligação com o tráfico de substâncias ilícitas. De acordo com uma análise feita, nesta terça-feira (31), pelo sociólogo José Luiz Ratton, na Rádio Jornal, existem diferenças importantes entre os mercados de drogas da classe média e da população de baixa renda. No primeiro, a polícia raramente entra. Já o segundo, está vulnerável às abordagens policiais e a ataques de outros grupos armados.
De acordo com o pesquisador, a consignação é o principal fator que leva à violência e acontece, majoritariamente, dentro do mercado de drogas das camadas populares. Os mercados de droga na classe média, segundo ele, são fechados, cobertos e têm pouca visibilidade. "As transações costumam ser realizadas com o auxílio da tecnologia, delivery, mecanismos das redes sociais", detalha. "O pagamento é realizado antes da entrega da substância ilícita, isso evita a criação de dívidas", completa Ratton.
Violência no mercado de drogas das classes populares
Por outro lado, o mercado de drogas nas classes populares é aberto, está em áreas destituídas de direitos sociais e têm enorme contraste com as áreas mais abastadas da cidade. "O comprador, em geral, não tem o recurso para o consumo daquela substância e, ao buscar a substância, ele também vai vendê-la ou vender parte dela para que possa consumir", explica. "Caso aconteça qualquer tipo de intercorrência no processo de venda ou se há consumo, é gerada uma dívida", acrescenta o sociólogo.
Ouça a coluna, na íntegra:
Segundo a análise feita por Ratton, a criação da dívida permite o surgimento de mecanismos de cobrança, que não se dão através do Estado. "Então, a consignação vai ter uma relação direta com a produção da violência", conclui.
Radar Segurança e Cidadania
José Luiz Ratton é sociólogo, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas de Segurança. Ele está todas as terças-feiras, a partir das 19h, à frente da coluna Segurança e Cidadania, no programa Radar, com Wagner Gomes.