INOVAÇÃO

"Produzimos pouco", Silvio Meira sobre inovação no Brasil

Na coluna Inovação desta segunda (6), Silvio Meira abordou a crise nas tecnologias de informação e comunicação no país

Rádio Jornal
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Publicado em 06/08/2018 às 18:36
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FOTO: Rádio Jornal

Na coluna Inovação desta segunda-feira (6), no programa Radar, da Rádio Jornal, o professor Silvio Meira abordou a crise no Brasil, sobretudo na produção nacional de tecnologias de informação e comunicação. Confira, na íntegra a coluna Inovação, e a seguir, um artigo assinado pelo cientista.

A crise como norma no Brasil, por Silvio Meira.

No Brasil, a crise não é anormal, a crise é a norma, como diria Millôr Fernandes. O Brasil é um país sempre em crise, histórica e estruturalmente. Embora o mundo viva hoje um momento de crise, incluindo os Estados Unidos e Europa, no Brasil, ela nos afeta mais dramaticamente, porque atinge a confiança das pessoas no futuro do País.

Essa crise provoca uma permanente fuga de cérebros. Essa era uma realidade na ditadura militar, por exemplo, quando as condições políticas do país eram tão ruins que os melhores cérebros brasileiros foram embora, para a Europa principalmente.

A gente teve isso novamente, quando a ditadura acabou, nos anos 1980, a chamada década perdida. Depois, o problema ainda se repetiu com o “congelamento” de Collor, que estagnou a economia do País, que nos trouxe outra década perdida. Então, tivemos uma década de esperança, a década de 2000, basicamente. E, nos anos 2010, entramos de novo na desesperança, na falta de condições de investir, de empreender, de criar e recriar coisas.

Neste cenário, o que resta ao Brasil é criar condições para que os brasileiros acreditem no potencial do País, acreditem no potencial de se desenvolver, promovendo o crescimento do Brasil.

Para isso, é preciso esquecer certas ‘reencantações’ da economia do passado dentro do presente do País. A gente sistematicamente aposta em refinarias de petróleo ou em fábricas de automóvel. Essas coisas não vão interessar aos brasileiros competentes que estudam, se formam e desenvolvem seu conhecimento hoje no Brasil. Nem vão servir para trazer de volta os brasileiros que estão lá fora.

O que essas pessoas estão procurando são os trabalhos do futuro, e os trabalhos do futuro estão em genética, em nanotecnologia, em plataformas e mercados em rede, novas formas de articular a sociedade. Estão certamente em softwares, em clusters, como o Porto Digital, onde está o Cesar, o Instituto Senai de Inovação, o Laboratório de Desenvolvimento de Novos Produtos e Serviços da FCA.

Esses lugares, dos quais infelizmente há muito poucos no Brasil, precisam ser os novos centros de atração, de promoção e evolução de capital humano. Porque se a gente não olhar para o futuro, e ficar tentando recuperar o Brasil em função de produtos, de sistemas, de serviços, de sistema de produção de coisas associadas ao passado, aí é que a gente vai ter ainda mais brasileiros deixando o Brasil e menos brasileiros que estão fora do País voltando para cá.

O Brasil precisa olhar para si e para os sistemas de poder, de geografia, de política ao seu redor, como sistemas no futuro. Não é aquela velha história do Brasil como o País do futuro. Isso já era, isso já passou.

Todos os países, hoje, estão procurando os seus futuros dentro de um conjunto de crises causadas por evolução tecnológica e principalmente pela maturação dos investimentos em tecnologia da informação e comunicação dos últimos 40, 50 anos, que afetam severamente o trabalho, mas também criam novas possibilidades, novos contextos, novos ambientes de investimento, desenvolvimento de novos produtos e serviços.

O futuro do Brasil passa necessariamente por sistemas locais de inovação, como o Porto Digital. Ele tem que ser percebido como tal. Esses sistemas têm que ser fomentados, aprofundados e alargados, no sentido que têm que haver muito mais investimento, em muitos deles, que englobem muito mais áreas do que apenas tecnologia de informação e comunicação, e suas aplicações, como a gente faz no Porto Digital.

O Brasil tem que entender que o futuro vem do futuro. Não é uma caminhada do passado, através do presente para chegar em algum lugar. O futuro é capturado do próprio futuro pela esperança das pessoas, através do seu conhecimento, de suas habilidades, experiências, e especialmente através de foco, dedicação, determinação, e capacidade de realização.