Caso Lucas Lyra

Cinco anos depois, caso Lucas Lyra vai à júri popular: não vivo mais, sobrevivo

Lucas Lyra, 25, segue tratamento em casa. Acusado, José Carlos Feitosa Barreto, 37, vai à júri popular nessa semana

Antônio Gabriel Machado
Antônio Gabriel Machado
Publicado em 01/09/2018 às 11:29
Marcela Maranhão/Rádio Jornal
FOTO: Marcela Maranhão/Rádio Jornal

Cinco anos após tomar um tiro na nuca em frente a sede social do Náutico, em fevereiro de 2013, antes de uma partida da equipe Timbu diante do Central pelo Campeonato Pernambucano, o caso do jovem Lucas Lyra vai para júri popular nesta segunda-feira (3), no fórum Rodolfo Aureliano, na ilha de Joana Bezerra.

O réu, acusado de disparar o tiro que atingiu Lucas, era o então segurança da empresa de transporte coletivo Pedrosa. José Carlos Feitosa Barreto vai responder a acusação de homicídio qualificado - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima.

José Carlos chegou a ficar preso preventivamente durante dez dias. No entanto, como não havia sido pego em flagrante, foi liberado para aguardar o processo em liberdade. Na época, Lucas Lyra tinha apenas 19 anos e teve suas chances de sobreviver estipuladas em apenas 1%. Após superar o risco de morte, ele passou três anos e meio internado no Hospital Português do Recife. Depois de passar pelo coma, ele deixou a unidade de saúde em agosto de 2016, com limitações motoras e dificuldade na fala.

Cristina Lyra, mãe de Lucas, acredita que a condenação de José Carlos será uma resposta para toda a sociedade. "O julgamento tem um peso muito grande sobre a vítima, sobre a família da vítima. Acreditamos que a impunidade incentiva a violência, a gente espera que ele seja condenado. A justiça deve isso, essa resposta não só ao Lucas, mas a toda a sociedade", disse em entrevista à Rádio Jornal neste sábado (1).

Cristina ainda revela dificuldades com a Pedrosa. A empresa tem descumprido uma ordem judicial que obriga o pagamento das despesas com o tratamento do jovem. "Lucas ele é um milagre. A própria medicina não explica o fato de Lucas está vivo, consciente e orientado. Ele tem várias sequelas irreversíveis. Temos um lutado muito para que ele faça o tratamento dentário dele. O juiz determinou que tudo que for tratamento de Lucas, a Pedrosa tem que pagar. A Pedrosa está se negando ao tratamento dentário, descumprindo a lei", comentou.

Cristina ainda revelou as sequelas deixadas no jovem. "Lucas está repleto de sequelas, ele não tem a calota craniana do lado direito, perdeu a visão periférica, osteoporose, perdeu o movimento do lado esquerdo em decorrente da bala. Ele sente muitas dores", finalizou.

"Eu não vivo mais, eu sobrevivo", diz Lucas Lyra

Recebendo o tratamento em casa, Lucas conversou com a reportagem da Rádio Jornal. Com dificuldades na fala, Lucas falou das dificuldades do seu cotidiano. "Graças a Deus estou vivo, o lado negativo é que estou sofrendo todos os dias, com muitas dores, dores seríssimas, que nenhum ser humano pode pensar. De lá para cá eu não vivo mais, eu sobrevivo, cada dia uma batalha diferente", disse Lucas.

Apesar das dificuldades e da lembrança do caso, Lucas ainda fez questão de demonstrar o seu amor pelo Náutico. "Minha paixão pelo Náutico é eterna, só quem é alvirrubro que sabe disso".

O julgamento

A perita Dulcy Maria Pereira, do Instituto de Criminalística, fez o laudo da dinâmica do crime e será ouvida pela defesa no julgamento. Após ouvir a testemunha, será interrogado o réu José Carlos Feitosa Barreto. Em seguida, haverá o debate entre o promotor e a defesa. Cada um tem até 1h30 para expor seus argumentos. Depois, poderá haver a réplica para o promotor, que dura até 1h, e a tréplica para a defesa, com a mesma duração de tempo. Por fim, o Conselho de Sentença fará o julgamento com base na argumentação da acusação e da defesa.

A decisão unânime que determinou o júri popular para José Carlos Feitosa Barreto, pelo crime de homicídio qualificado, foi definida há mais de dois anos, no dia 17 de fevereiro de 2016. A família de Lucas esperava que a fase final do julgamento acontecesse ainda naquele ano, já que havia passado três anos do fato. No entanto, foi necessário esperar mais dois anos até a definição da data.