ENTREVISTA

Cristovam Buarque diz temer governo de Bolsonaro: democracia é frágil

Senador afirmou que candidato do PSL pode ceder ao autoritarismo. “Sou pessimista com Bolsonaro. Eu temo pelas coisas erradas que o maquiavelismo político dele pode nos levar a fazer”, disse

Maria Luiza Falcão
Maria Luiza Falcão
Publicado em 19/10/2018 às 9:16
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) disse, em entrevista à Rádio Jornal, que tem medo do que pode acontecer no Brasil em um eventual governo de Jair Bolsonaro, candidato a presidente pelo PSL. “Nossa democracia é muito frágil. Falta algo fundamental à democracia, que é educação de qualidade para todos”, afirmou o parlamentar. Cristovam afirmou ainda que o candidato assusta pelo “maquiavelismo político” e “obscurantismo de ideias”. Ouça a entrevista completa:

Tende ao autoritarismo

Para Cristovam, o Brasil tem instituições que garantem o cumprimento da lei, da Constituição e das garantias fundamentais, mas que, talvez, essas instituições não sejam suficientes para barrar um novo governo autoritário no País. “Temos muitas instituições sólidas, mas quero lembrar que até o dia 31 de março de 1964 as instituições era sólidas. As instituições sólidas se desfazem no ar”, disse, se referindo ao golpe militar de 1º de abril de 1964. “Temo muito pelo que vi esses anos, pelo que vejo na campanha. é provável que ele seja autoritário, que ceda ao autoritarismo”, completou.

O senador disse ainda que não tem boas perspectivas para um governo do candidato do PSL, mas que deve ser apoiado para fazer as reformas necessárias e nas boas propostas para o País. “Sou pessimista com Bolsonaro. Eu temo pelas coisas erradas que o maquiavelismo político dele pode nos levar a fazer”, disse. “Se ele quiser uma guerrinha contra a Venezuela, que ele tanto odeia, o Brasil todo vai ter que das as mãos, mesmo sendo uma coisa errada”, afirmou. “Mas sou a favor de apoiar as coisas boas que ele propuser”, completou.

Educação

Sobre a proposta de retirar Paulo Freire do currículo escolar e da formação dos professores, que consta no programa de governo de Bolsonaro, Cristovam disse que não acredita que ele consiga. “Ele não tem como proibir Paulo Freire. Se ele proibir, vai ter que proibir todos os pensadores que são seus discípulos no Brasil e no Mundo”, afirmou.

Fim do mandato

"Em 1º de janeiro, vou voltar a ser o que eu era antes de ser político", disse o senador, que não foi . Vou sentir falta da tribuna, que é a minha trincheira. do resto, eu não uso nada do senado, não uso carro, não viajo pelo senado, não recebo sequer salário desde que me aposentei.

Nascido em Pernambuco, Cristovam Buarque fez toda a carreira política no Distrito Federal. Foi reitor da Universidade de Brasília (UnB) nos anos 80 e entrou na política na década de 90 após se filiar ao PT. Foi governador de Brasília de 1995 a 1999, tendo perdido a reeleição em 1998. Em 2002 foi eleito senador e foi o primeiro ministro da Educação do governo Lula (PT), em 2003. Passou pouco mais de um ano no cargo e depois da demissão (por telefone) foi para a oposição às gestões petistas.

Se filiou ao PDT onde disputou a Presidência da República em 2006, ficando em quarto lugar. Em 2010 foi reeleito senador por Brasília. Em 2015 se filiou ao PPS onde foi derrotado na terceira disputa ao Senado, em 2018, ficando na terceira posição.