Entrevista

A figura do superministro não funciona, diz ex-ministro Armando Monteiro

Armando Monteiro (PTB) criticou a formação de superministérios no governo Bolsonaro: "no mundo isso não existe"

Antônio Gabriel Machado
Antônio Gabriel Machado
Publicado em 31/10/2018 às 10:01
Guga Matos/JC Imagem
FOTO: Guga Matos/JC Imagem

O senador por Pernambuco e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro (PTB), criticou a formação de um superministério do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que pretende unificar as pastas econômicas além das pastas de Meio Ambiente e Agricultura. Segundo Armando, a figura de um superministro 'não funciona e não existe em lugar nenhum no mundo'.

"No mundo todo isso não existe, no campo internacional isso não existe. No Chile existe, mas de uma maneira diferente. Eu lamento que isso seja feito de supetão. Essa figura de um superministro não funciona e o novo ministro já vai chegar cheio de preconceito", disse Armando Monteiro em entrevista à Rádio Jornal nesta quarta-feira (31).

Armando ainda relembrou a estrutura do ministério que assumiu durante o governo Dilma Rousseff (PT), lamentando a unificação das pastas seja feita sem consulta. "O ministério tem uma estrutura, uma área de política industrial, uma secretária de comércio exterior, de comércio e serviço. Os países desenvolvidos tem ministério da indústria. Não existe isso em outros países de superministro da economia, não existe no mundo. É um grande equívoco. Eu lamento que isso seja decidido em um grupo pequeno, sem consulta".

Por fim, o senador ainda afirmou que os ministérios que serão cortados por Bolsonaro irão se tornar, na verdade, secretarias de governo, num movimento que, segundo ele, não altera a atual estrutura.

"Eu não sei fazer o desenho que o novo governo está querendo oferecer nessa área, não conheço a proposta. Essa ideia de fusão de ministérios econômicos e do meio-ambiente com agricultura, me parece completamente equivocada. Se você discute qualquer obra, você discute o impacto ambiental. Colocar essa área na agricultura, não tem sentido nenhuma. Na realidade vão mudar as caixas, esses ministérios vão se transformar em secretarias. Ao final, essa economia não se confirma. Não resulta em ganhos da máquina pública", concluiu Armando Monteiro.

Superministérios de Bolsonaro

O economista Paulo Guedes, apontado por Bolsonaro durante toda a campanha como o nome para assumir a pasta econômica do Brasil, afirmou nesta terça-feira (30) que o governo vai unificar os ministérios da Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior.

Guedes divulgou a ação após fazer parte de uma reunião com Bolsonaro no Rio de Janeiro. "O Ministério da Indústria e Comércio já está com a economia. O Ministério da Economia vai ter Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio", disse.

"A razão da Indústria e do Comércio estar próximo da Economia é para justamente existir uma mesma orientação econômica em tudo isso. Não adianta a turma da receita ir baixando os impostos devagar se a turma da indústria e comércio abrir muito rápido. Isso tudo tem que ser sincronizado. Uma orientação única", concluiu Guedes.

Na mesma coletiva, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), apontado como chefe da Casa Civil no governo Bolsonaro, também confirmou a unificação dos ministérios de Meio Ambiente e Agricultura. "O presidente não recuou em nada. Ele sempre disse que, assim como tem experiência em alguns Estados, como Mato Grosso, Agricultura e Meio Ambiente ficarão juntos", comentou Onyx.

Durante a mesma reunião, a cúpula do presidente eleito também definiu outros nomes para ministérios, como o do astronauta brasileiro Marcos Pontes, que assumirá a pasta de Ciência e Tecnologia. Ao todo, as pastas serão reduzidas para até 16.

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