ESTADO DE MANIA

Psiquiatra explica transtorno que fez jovem anunciar falsa construção de shopping

Para José Carlos Escobar, o que chama atenção na história do falso shopping do Cabo de Santo Agostinho é a credibilidade e a organização que o rapaz apresentava ter nas entrevistas

Maria Luiza Falcão
Maria Luiza Falcão
Publicado em 21/11/2018 às 9:41
Reprodução/TV Jornal
FOTO: Reprodução/TV Jornal

Um jovem de 22 anos mobilizou milhares de pessoas em busca de uma das 520 vagas de emprego para trabalhar na construção de um shopping, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. Embora o jovem passasse credibilidade e tenha enganado todo um público e a imprensa, a notícia da seleção era falsa se gerou um tumulto descomunal. A Polícia inclusive, precisou ser chamada para acalmar os ânimos dos candidatos.

Segundo a mãe do rapaz que criou a história, ele sofre de transtorno bipolar e acabou criando toda essa situação. "Mostrei os laudos do psiquiatra ao doutor, expliquei que ele tem um problema bipolar, que ele cria as coisas. Ele achou que na mente dele, ele poderia fazer esse shopping. Ele já teve o transtorno, mas não dessa intensidade", contou a mãe do jovem.

De acordo com o psiquiatra e psicanalista José Carlos Escobar, isso não costuma acontecer com frequência nessas proporções. “Essas atitudes acontecem com mais desorganização. É possível que alguém em estado de mania consiga criar histórias extravagantes e acreditar nelas. Parece que ele teve uma organização, uma metodologia bem mais disciplinada que a maioria”, disse em entrevista à Rádio Jornal:

Não é maldade

O psiquiatra afirma ainda que, geralmente, não se trata de um desejo de fazer mal ou tumultuar a vida de outras pessoas. "Não é necessariamente uma maldade, pode ser uma patologia mesmo", completa.

Organização e transtorno maníaco

José Carlos Escobar afirma que, o que chama atenção neste caso é a disciplina que esse rapaz apresentou e a credibilidade que ele passa e não o fato de ele pensar que iria conseguir construir um shopping em 4 dias. "Muitas pessoas com transtornos maníacos têm projetos mirabolantes, mas não têm a organização que ele tem", diz. "Esse rapaz operou dentro de uma realidade. Ele se situa dentro de uma realidade, tanto que ele passou credibilidade. O absurdo dele foi não ter a estrutura para construir o shopping em 22 horas", completa.

Transtorno bipolar e vida normal

Para o médico, a patologia se chama bipolar porque quem é afetado por ela pode variar entre entre estados de ansiedade/euforia e depressão. "São pessoas que, se tratadas adequadamente, podem levar uma vida normal", diz. "As pessoas passam, com tratamento, a assumir um certo autoconhecimento e prever quando estão chegando na crise. Elas podem se tratar antes, não precisando passar pela crise", afirma.