CRIANÇAS SEM ESCOLA

Mães se mobilizam contra fim das creches em tempo integral no Recife

De acordo com as mães, a Prefeitura do Recife anunciou o fechamento das vagas após a renovação de matrícula, que garantia a permanência das crianças em período integral

Maria Luiza Falcão
Maria Luiza Falcão
Publicado em 29/11/2018 às 11:23
Foto: Guga Matos / JC Imagem
FOTO: Foto: Guga Matos / JC Imagem

O comunicado de encerramento da oferta de aulas em horário integral para turmas dos grupos 4 e 5, formadas por crianças com 4 e 5 anos de idade, deixou os pais dos alunos da rede municipal do Recife perplexos. Atualmente, apenas quatro escolas da cidade oferecem o período integral para essa faixa etária. A mudança atinge 207 alunos.

Os pais estão indignados porque foram comunicados somente na última quinta-feira (22). Em setembro houve a matrícula para quem já estuda na rede, mas ninguém ficou sabendo da novidade. A preocupação deles é como farão a partir de fevereiro, pois muitos passam o dia trabalhando e contam com a escola para não deixar as crianças desassistidas.

Mães pedem manutenção

Nesta quinta-feira (28), um grupo de mães se reuniu na frente da Prefeitura do Recife para protestar contra o fechamento das vagas. A pedagoga Emanuela Bernardino é mãe de uma aluga no grupo 3. Quando recebeu a confirmação da matrícula em uma escola em tempo integral em outubro, mas agora não sabe mais o que fazer. "Foram quase dois meses de um processo legítimo de transferência de matrícula, de entrega de documentação. A gente cumpre com todo o processo burocrático que nos é exigido e é surpreendido com essa notícia, dada em cima da hora, justamente nas vésperas da matrícula de novos alunos para a gente não ter tempo de se movimentar", diz. "Eu dependo dessa unidade no horário integral para poder trabalhar e estudar", completa.

Andréa Batista, que também é mãe de uma criança que estuda em tempo integral, afirma que a prefeitura está usando a justificativa da criação de novas vagas para jogar os pais de crianças que estudam em escolas em tempo integral contra os pais de outras crianças que não conseguiram vagas na rede. "Isso é uma inverdade", diz, afirmando que a gestão deveria ampliar as vagas em regime integral e não reduzir. Saiba mais na reportagem de Juliana Oliveira:

Deixarão de ter aulas o dia todo os estudantes dessa faixa etária da Escola Ana Rosa Falcão de Carvalho, em Santo Amaro, área central do Recife; do Centro Municipal de Educação Infantil Professor Paulo Rosas, na Várzea, Zona Oeste; do CMEI Menino Jesus, em Casa Forte, Zona Norte, e do CMEI Doutor Albérico Dornelas Câmara, no Bairro do Recife. As turmas com crianças de zero a 3 anos continuarão com horário integral.

Para a vendedora Edilene Rodrigues, a preocupação é também com alimentação. Os dois filhos dela, com 3 e 5 anos, passam o dia na Escola Ana Rosa. Lá, tomam café da manhã, almoçam e lancham antes de voltarem para casa, às 17h30. “Vendo água mineral. Pago R$ 300 de aluguel. Só ganho R$ 171 do Bolsa Família. Várias vezes durmo sem jantar, só tomo um copo d’água. Mas, pelo menos, meus filhos têm o que comer na escola. Recebem boa educação e comida”, afirma Edilene. “Sem os dois no integral, como farei para trabalhar? Não tenho com quem deixá-los”, lamenta a vendedora.

Resposta

Em nota, a Secretaria de Educação do Recife afirmou que a rede municipal tem 198 escolas com turmas dos grupos 4 e 5, totalizando 12.068 alunos e que as quatro unidades com turno integral representam apenas 2% do total da rede. O encerramento do horário integral ocorre, segundo o órgão, para ampliar a oferta de vagas. "A medida de equalização de serviços prestados à população implica na criação de mais 206 vagas para novas crianças em 2019", diz o texto.

Segundo a secretaria, 218 vagas foi a demanda reprimida registrada este ano, para o grupo 4 (crianças com 4 anos). Para o grupo 5, foi identificada a necessidade de 117 vagas que não são ofertadas na rede municipal do Recife. As escolas municipais da capital têm 17.958 crianças entre zero e 5 anos de idade matriculadas.