CONVERSAS VAZADAS

Eventual ida de Moro para STF fica enfraquecida, diz Marco Aurélio

Sobre as matérias do The Intercept, o ministro do STF, Marco Aurélio, disse não ter dúvida de que houve algo que “discrepa da organicidade do Judiciário”

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 11/06/2019 às 12:51
Antonio Cruz/Agência Brasil
FOTO: Antonio Cruz/Agência Brasil

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta terça-feira (11) que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, se encontra “enfraquecido” para ser indicado a uma cadeira na Corte, após reportagem do site The Intercept Brasil sobre diálogos que ele teria mantido com procuradores da Lava Jato em Curitiba quando era juiz.

Para Marco Aurélio, o episódio “não robustece o perfil dele nessa caminhada, ao contrário, fragiliza o perfil”. O ministro acrescentou que também prejudica Moro ele ter sido colocado “numa sabatina permanente”.

“Ele ficará sendo acuado esse tempo todo, até 1º de novembro de 2020 quando o ministro Celso de Mello se aposenta compulsoriamente. Fica desgastado em termos de nome para o Supremo, sem dúvida alguma”, acrescentou Marco Aurélio.

Sobre as mensagens publicadas pelo The Intercept, Marco Aurélio disse não ter dúvida de que houve algo que “discrepa da organicidade do Judiciário”.

“O juiz dialoga com as partes no processo, com absoluta publicidade, com absoluta transparência. Se admitiria um diálogo com os advogados de defesa? Não. Também não se pode admitir, por melhor que seja o objetivo, não se pode admitir com o Ministério Público”, disse o ministro do STF.

Mensagens vazadas pelo The Intercept

Conversas entre Moro e Dallagnol foram divulgadas pelo The Intercept
Conversas entre Moro e Dallagnol foram divulgadas pelo The Intercept
Agência Brasil

O site The Intercept divulgou, na noite deste domingo (9), trechos de mensagens atribuídas a procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e ao então juiz Sérgio Moro, atual Ministro da Justiça, extraídas do aplicativo Telegram. Os alvos dessas conversas denunciaram recentemente que tiveram seus celulares hackeados ilegalmente. O "Intercept", no entanto, disse que obteve os diálogos antes dessa invasão. Segundo o site, as informações foram obtidas de uma fonte anônima. O site diz que procuradores, entre eles Deltan Dallagnol, trocaram mensagens com Moro sobre alguns assuntos investigados.

Segundo o site "Intercept", o então juiz Sérgio Moro orientou ações e cobrou novas operações dos procuradores da Lava Jato.

Em texto que acompanha a publicação das três reportagens divulgadas ontem, o Intercept Brasil sustenta que o teor das mensagens indica “comportamentos antiéticos e transgressões que o Brasil e o mundo têm o direito de conhecer.” Segundo o site, são “discussões internas e atitudes altamente controversas, politizadas e legalmente duvidosas da força-tarefa da Lava Jato.”

Em nota, Moro lamentou que a reportagem não indicasse a fonte das informações e o fato de não ter sido ouvido pela reportagem.

A defesa do ex-presidente Lula divulgou nota em que diz que “a atuação ajustada dos procuradores e do ex-juiz da causa, com objetivos políticos, sujeitou Lula e sua família às mais diversas arbitrariedades”.

A força-tarefa da Lava Jato divulgou uma nota declarando que seus integrantes foram vítimas de ação criminosa de um hacker e que esse hacker praticou os mais graves ataques à atividade do ministério público, à vida privada e à segurança de seus integrantes.