FEMINICÍDIO

É Deus quem está me botando em pé, desabafa tio de jovem morta após ataque com ácido

Mayara Estefanny Araújo, de 19 anos, morreu após ser atacada com ácido pelo seu ex-marido, que contou com a ajuda de um amigo

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 26/07/2019 às 15:38
Reprodução/Facebook
FOTO: Reprodução/Facebook

O corpo da atendente de lanchonete que foi atingida por ácido sulfúrico pelo ex-companheiro será sepultado neste sábado (27) no cemitério de Limoeiro, no Agreste de Pernambuco. Mayara Estefanny Araújo, de 19 anos, não resistiu aos ferimentos e faleceu na noite desta quinta-feira (25).

A jovem estava internada desde o dia 4 de julho no Hospital da Restauração, no bairro do Derby, na área central do Recife. Ela teve 35% do corpo queimados com o material. O crime aconteceu no bairro de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife, quando ela voltava do trabalho. A reportagem da Rádio Jornal omitiu o nome da vítima até o seu falecimento por questão de segurança.

De acordo com os médicos, a morte de Mayara foi uma surpresa, já que o quadro de saúde dela vinha apresentando uma melhora. Nesta quinta-feira (26), ela ainda chegou a passar por uma traqueostomia, mas teve várias paradas cardíacas no fim da tarde.

Segundo a polícia, o ex-marido dela, o agente de saúde William César dos Santos, de 27 anos, cometeu o crime com a ajuda de um amigo, Paulo Henrique Vieira dos Santos, de 23 anos, que segurou a jovem.

Inicialmente, os dois foram indiciados por lesão corporal grave. A tipificação do crime mudou para tentativa de feminicídio. No caso de William, ele também foi indiciado por ter descumprido a medida protetiva.

Emocionados, os parentes da jovem foram até o Instituto de Medicina Legal (IML) nesta sexta-feira (26) para liberar o corpo da vítima. O tio de Mayara, Elídio Gomes, falou sobre a dor da família, que nesta quinta-feira também sepultou a avó da jovem. “Ontem, enterramos nossa mãe, que é avó de Mayara, no mesmo dia tem a notícia do óbito dela. Eu não sei como estou em pé assim. Não sou evangélico, mas sei que é Deus quem está me botando em pé assim. A mãe de Mayara, a tia, as irmãs estão desmanchando em lágrimas”, desabafou.

Mayara e William tiveram um filho. Hoje a criança tem dois anos e, segundo senhor Elídio, pergunta constantemente peal mãe. “A gente sempre escondendo: ‘mamãe tá viajando, vai trazer presente para Pedro’. Mas hoje ele acordou e disse: ‘mãe, acende a luz. Cadê mãe?’”, contou, segurando as lágrimas, o tio da vítima.

Inquérito no MPPE

A Polícia Civil de Pernambuco informou, nesta sexta-feira (26), que remeteu o inquérito do caso de Mayara Estefanny Araújo para o Ministério Público de Pernambuco no último dia 12 de julho.

Confira a nota completa:

Por meio da 1a Delegacia Especializada de Atendimento À Mulher (1a DEAM) - Santo Amaro, remeteu o inquérito do caso de Mayara Estefanny Araújo para o Ministério Público de Pernambuco no último dia 12 de julho. Cabe agora ao MPPE fazer um aditamento à Justiça com a certidão de óbito da vítima.

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