POLÍTICA

Barroso pede manifestação de Bolsonaro sobre pai de presidente da OAB

A manifestação do presidente Jair Bolsonaro é facultativa

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 02/08/2019 às 6:42
Antonio Cruz/ Agência Brasil
FOTO: Antonio Cruz/ Agência Brasil

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso concedeu nesta quinta-feira (1º) prazo de 15 dias para que o presidente Jair Bolsonaro se manifeste sobre uma petição protocolada pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. A manifestação de Bolsonaro é facultativa.

Santa Cruz pediu a interpelação do presidente sobre uma entrevista na qual Bolsonaro disse que o advogado Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, era militante de esquerda durante o período militar (1964-1985), foi morto por integrantes da Ação Popular (AP), um grupo de luta armada contra o regime, e não pelas Forças Armadas.

Após as declarações, Felipe Santa Cruz pediu explicações sobre o caso.

"O pedido de explicações, previsto no art. 144 do Código Penal, tem por objetivo permitir ao interpelado esclarecer eventuais ambiguidades ou dubiedades dos termos utilizados. Assim, como de praxe nesses casos, notifique-se o interpelado, o Sr. presidente da República, para, querendo, apresentar resposta à presente interpelação, no prazo de 15 dias", decidiu Barroso.

Fala de Bolsonaro

Durante entrevista na segunda-feira (29), Bolsonaro ofendeu o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, filho de Fernando Santa Cruz, ao minimizar o desaparecimento de seu pai. “Um dia se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, disse Bolsonaro.

A declaração de Bolsonaro foi dada em resposta ao desfecho do processo judicial que considerou Adélio Bispo, autor da facada contra ele durante a campanha eleitoral, inimputável (isento de pena devido a doença mental). Por este motivo, ele ficará em um manicômio e não em um presídio.

Após ter usado o desaparecimento do pai para atacar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, Jair Bolsonaro (PSL) negou que os militares estejam relacionados à morte dele. Fernando Santa Cruz foi militante da Ação Popular que sumiu em 1974, durante a ditadura. O corpo dele nunca foi encontrado.

Em uma transmissão ao vivo feita enquanto cortava o cabelo, Bolsonaro acusou o próprio grupo de matá-lo. “Com quem eu tive informações? Com quem eu conversava na época, ora bolas”, disse. “E o pessoal da AP do Rio de Janeiro, primeiro ficaram estupefatos: ‘Como pode esse cara de Recife se encontrar conosco aqui?’. O contato não seria com ele, seria com a cúpula da AP de Recife. Eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz. Essa é a informação que tive na época. Qual é a tendência? ‘Se ele sabe, nós não podemos ser descobertos’. Existia essa guerra”, afirmou.

Quando desapareceu, Fernando Santa Cruz estava na casa do irmão Marcelo e chegou a adverti-lo, segundo a Comissão da Verdade, de que se não aparecesse teria sido preso. Em 2012, o delegado aposentado do DOPS Cláudio Guerra revelou em 2012 que ele e outros presos tiveram seus corpos incinerados no forno de uma usina em Campos, no Rio.