DENÚNCIA

Falta de hormônios do crescimento atrasa tratamento de crianças em Pernambuco

A farmácia do Estado está desde fevereiro sem ofertar o medicamento

LOURENÇO GADÊLHA
LOURENÇO GADÊLHA
Publicado em 19/09/2019 às 15:35
Guga Mattos/ Acervo JC Imagem
FOTO: Guga Mattos/ Acervo JC Imagem

A falta de hormônios do crescimento fornecidos pela Farmácia Especial do Estado tem atrasado o tratamento de crianças e adolescentes. Os pais e mães denunciaram nesta quinta-feira (19) que o remédio está em falta desde o mês de fevereiro. Nas farmácias, o tratamento custa em média R$ 11 mil.

A professora Wilza Bento afirma que luta desde o ano passado pela saúde e qualidade de vida do filho. O menino de 12 anos foi diagnosticado com baixa estatura idiopática, sem causa identificada. Segundo a mãe, ele tem uma estatura equivalente à uma criança de oito anos e sofre por se sentir diferente dos meninos da mesma idade. “Vai ser difícil, porque ele é o menor da turma. Ele sofre com apelidos na escola por causa do tamanho dele. Ele é muito calado, não fala muito, mas a gente sente que tem um sofrimento nisso aí”, disse.

Wilza conseguiu encontrar o medicamento numa farmácia comum, mas o tratamento custaria mais de R$ 11 mil por mês. A partir daí ela decidiu procurar um advogado. Vários pais de crianças que precisam da substância injetável chamada somatropina conseguiram na Justiça uma decisão que obriga o Estado a oferecer o remédio. Apesar da multa estabelecida de R$ 1.000 por dia, o medicamento está em falta na Farmácia Especial do Estado desde fevereiro deste ano.

A técnica de enfermagem Elida Dantas compartilha do mesmo sentimento Wilza. O filho tem 13 anos e sofre com a deficiência no crescimento desde a primeira infância. O garoto chegou a iniciar o tratamento, mas há sete meses não toma a medicação.

“O que me fez ir em busca foi quando ele disse que queria ser bombeiro, e se ele não chegasse a uma estatura mediana viável para ser bombeiro, ele poderia passar em qualquer concurso, mas a estatura dele não permitiria que ele realizasse esse sonho. É frustrante para gente e para ele. Na idade escolar, meu filho sempre foi o menorzinho. Quando ele começou o tratamento, ele começou a crescer. Isso melhorou muito a auto estima dele”, relatou.

Segundo a técnica de enfermagem, a falta do medicamento na Farmácia Especial do Estado tem sido uma tortura nos últimos sete meses. “Todo mês é um sofrimento. Quando a gente chega na farmácia do Estado e eles dizem que tem o medicamento, a gente fica alegre. Quando diz que não tem, a gente volta frustrada, humilhada. A gente volta com um sentimento horrível, porque a gente não tem condições de comprar. Se a gente tivesse condições, a gente comprava. Acabamos ficando à mercê de estar sendo humilhado todo mês durante o tratamento”, lamentou.

Resposta da Secretaria Estadual de Saúde na íntegra:

A Farmácia de Pernambuco informa que, após atraso do fornecedor, que deveria ter entregue a medicação no último dia 10 de setembro, recebeu estoque para 10 meses do Somatropina 4 UI nesta semana. A medicação estará disponível para os pacientes até a sexta-feira (20.09). Em relação à apresentação de 12 UI, o fármaco está em fase final de compra. Importante lembrar que, nesse caso, é possível realizar adequações das doses, conforme prescrição médica. Em relação aos pacientes citados, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que os casos dos pacientes citados estão sendo acompanhados pelo Núcleo de Ações Judiciais (NAJ), que está realizando o processo de aquisição do fármaco. É importante destacar que mesmo se tratando de uma medida judicial, o Estado precisa seguir todos os trâmites legais da administração pública para aquisição dos insumos.