HABITAÇÃO

Déficit habitacional no Recife chega a 71 mil moradias

Moradores do Beco do Sururu sofrem com o abandono do poder público

LOURENÇO GADÊLHA
LOURENÇO GADÊLHA
Publicado em 23/09/2019 às 14:46
Leo Motta/Arquivo JC Imagem
FOTO: Leo Motta/Arquivo JC Imagem

No Recife dos rios e alagados, as palafitas são heranças de séculos. Casas que ocupam a paisagem e moradores que buscam espaço sobre as águas. Esta é a realidade da comunidade do Beco do Sururu, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. Para chegar até as moradias, é preciso passar por becos estreitos de tábuas de madeira. Na localidade falta saneamento básico, quase sempre falta água e para não ficar sem energia elétrica, as pessoas recorrem às gambiarras, que são extremamente perigosas.

A ausência de estrutura também está dentro das moradias. Muitas palafitas são construídas com restos de madeira. A diarista Vilma Queiroz conta que está vivendo nas palafitas há dois anos, com o marido e os netos, e não consegue se acostumar com o local. “A noite eu não consigo dormir, porque balança muito. É horrível”, disse.

No Beco do Sururu, o risco de vida é permanente. Leidiane da Silva perdeu um filho com 11 meses de idade. Ela catava sururu quando o bebê escorregou entre as tábuas, caiu na água e morreu afogado. “É difícil passar pelo canto onde eu sei que meu filho faleceu. A Prefeitura não está nem aí para a gente. Eles ficam só na promessa que vai sair, mas do canto não sai. A gente vive abandonado. É triste, mas é a realidade”, lamentou.

As palafitas da comunidade do Beco do Sururu são apenas um exemplo de como o problema de falta de moradia atinge o Recife. De acordo com a Prefeitura, o déficit habitacional na cidade é de cerca de 71 mil casas. Os mais prejudicados são aqueles que ganham até três salários mínimos. Para piorar a situação, o número de casas construídas pelo poder público está caindo ao longo dos anos.

Moradias populares

Em uma análise das cinco últimas administrações municipais, entre os anos de 2001 e 2004, constata-se que foram construídas 2045 unidades habitacionais na cidade. O maior volume de entrega foi registrado entre os anos de 2009 e 2012, quando 3019 unidades foram construídas. Porém, de 2017 até setembro deste ano, apenas 1032 moradias foram concluídas. Nos últimos 19 anos foram construídas na capital pernambucana 10.072 moradias populares. Número que fica bem distante das 71 mil que a cidade necessita.

Segundo o secretário de Planejamento Urbano do Recife, Antônio Alexandre, a redução dos investimentos em novas construções populares na cidade está ligada ao esgotamento do modelo que financia habitações no país. “No caso do Recife, seja pela cada vez menos possibilidades terrenos e vazios urbanos que possam acolher esses conjuntos habitacionais, ou seja pelo modelo de financiamento que era sustentado muito fortemente em cima de orçamento público. A nossa realidade fiscal não permite que continue dessa forma. Os desafios estão postos agora sobre qual modelo habitacional possa substituir esse modelo que não consegue responder às nossas necessidades”, explicou.

Em construção há anos

Na área central da cidade estão dois habitacionais com obras que se arrastam por anos sem serem concluídas. O primeiro está localizado no bairro de São José. Anunciado em 2009, o Conjunto Habitacional Vila Brasil 1 tinha a previsão de retirar das palafitas 448 famílias que vivem às margens do Rio Capibaribe. O projeto foi paralisado há cinco anos. O outro fica no bairro do Recife. As obras do habitacional da Comunidade do Pilar andam a passos lentos.

Resposta da Prefeitura

A Prefeitura do Recife diz que a previsão é que o Habitacional do Pilar seja entregue aos moradores até o final de 2020. Ela afirma também que as obras do Conjunto Habitacional Vila Brasil 1 devem ser retomadas ainda neste ano. O prazo de entrega é o primeiro semestre do próximo ano.