Em entrevista ao Passando a Limpo nesta terça-feira (9), o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que é preciso haver entendimento e independência entre as instituições, como os poderes executivo, legislativo e judiciário, para combater a crise do novo coronavírus.
“Os poderes são independentes e devem ser harmônicos. Se deve buscar acima de tudo o entendimento. Precisamos adotar autorrestrição, respeitando, portanto, a atuação de outros poderes”, afirmou Marco Aurélio.
Segundo ele, o desencontro de informações sobre os números da covid-19 mancha a imagem do Brasil internacionalmente. O Ministério da Saúde informou, no domingo (7), que haverá mudança na maneira de divulgar o número de casos do novo coronavírus diariamente. Na semana passada, o Ministério havia atrasado a divulgação, passando das 18h para 22h, além de retirar do ar das páginas oficiais os números gerais.
“Isso é muito ruim, principalmente em termos de repercussão internacional, porque gera insegurança. O investidor, por exemplo, estrangeiro, ele não quer migrar para um país em que reine a insegurança. Vamos pensar no país, nos brasileiros e buscar um sentido realmente definido nas coisas.”
“Qual o princípio básico da administração pública? É a publicidade, a transparência. É justamente o que permite que nós, cidadãos, acompanhemos o dia a dia da administração pública e cobremos dela e eficiência. Então, eu penso que, no tocante à manipulação de dados, é um ato falho do poder executivo", disse.
Marco Aurélio criticou a condução do Ministério da Saúde para superar a crise do coronavírus. “Eu admirava o Mandetta e continuo admirando, inclusive a paciência dele, pedagógica, instruindo as pessoas em geral. O Nelson [Teich] eu conhecia lá do condomínio do Rio, ele tem apartamento no mesmo prédio que eu tenho, e também um grande valor, é um médico conceituado. Agora, eu penso que cada qual deve estar na área que tenha especialidade.Não vejo com bons olhos o que está acontecendo com o Ministério da Saúde.”
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Sobre o comentário do Ministro da Educação Abraham Weintraub na reunião ministerial do dia 22 de abril, em que pediu a prisão dos “vagabundos do STF”, Marco Aurélio disse que não se sentiu atingido com a fala e que tem a consciência tranquila sobre sua atuação no Supremo.
“Eu trabalho de sol a sol, sou um juiz que pega no pesado há 41 anos e tenho a minha consciência muito tranquila que dou o melhor de mim em termos de esforço, visando a atender os jurisdicionados, os cidadãos em geral. A carapuça não entrou.”
Ouça a entrevista na íntegra: