Entrevista

"A gente não pode banalizar 38 mil mortes", diz Ciro Gomes sobre coronavírus no Brasil

Ex-ministro do governo Lula e candidato à presidência em 2018 criticou a condução de Bolsonaro do país e do Ministério da Saúde

Priscila Miranda
Priscila Miranda
Publicado em 10/06/2020 às 9:54
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
FOTO: Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

Em entrevista ao Passando a Limpo desta quarta-feira (10), Ciro Gomes (PDT) voltou a defender uma frente ampla e a união do Brasil para combater a crise econômica e de saúde que o Brasil enfrenta por causa da pandemia do novo coronavírus. O ex-ministro do governo Lula e candidato à presidência em 2018 criticou a condução de Bolsonaro do país e do Ministério da Saúde.

“A primeira urgência pede a união de todo mundo para salvar vidas. Tudo que a gente puder unir para que a gente possa mudar essa política genocida e salvar vidas e empregos. Precisamos entender como o Brasil chegou ao fundo do poço. Eu estou muito angustiado. A gente não pode banalizar 38 mil mortes”, disse Ciro, em referência ao número atualizado de terça-feira (9) da covid-19 no Brasil, de 38.406 óbitos e 739.503 pessoas infectadas.

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Ciro criticou a condução de Bolsonaro da crise no país e especialmente no Ministério da Saúde, que está sem ministro desde a saída de Nelson Teich, em maio. Ele comentou ainda a entrevista do ministro interino da pasta, Eduardo Pazzuelo, dada na terça-feira (9), que comparou climas das regiões Norte e Nordeste do Brasil com as do hemisfério Norte do globo.

"O ministro da saúde, que é um general da ativa, só no Brasil do Bolsonaro a gente podia viver isso. Colocou 23 militares no Ministério, nenhum tem qualquer capacidade ou experiência em relação à saúde, na hora da maior crise de saúde pública da história do Brasil. Aí você tem tragédia de toda mortalidade. A mais grave é que tem um orçamento de guerra de R$ 11 bilhões e 400 milhões de reais e eles não conseguiram aplicar nem R$ 3 bilhões, numa hora que o Brasil está morrendo sem fôlego porque não tem leito de UTI nem respirador. E, pra completar, se senta para dar uma entrevista e coloca a culpa no clima, botando o Nordeste brasileiro junto com o inverno da Europa. É um negócio de assustar. Se não fosse tão trágico, era de rir."

Operações "esquisitas" da Polícia Federal

De acordo com Ciro Gomes, a Polícia Federal tem realizado “operações esquisitíssimas” na investigação da compra de respiradores por parte de alguns estados do país. O ex-ministro afirma que o presidente Jair Bolsonaro está manipulando as instituições para perseguir os adversários políticos nos estados.

"Bolsonaro comete um crime quando atenta contra a autonomia dos estados federados. Hoje tem uma "operação esquisitíssima" da Polícia Federal no Pará. A PF, manipulada pelo Bolsonaro, só está saindo contra governantes que contrariam a vontade dele. Claro que qualquer mal feito tem que ser punido, não interessa quem seja. Mas na medida que o Bolsonaro assumiu o controle da Polícia Federal, ele atenta todo dia contra os estados. Então o Bolsonaro está claramente manipulando as instituições públicas para perseguir adversários", disparou.

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Ainda sobre as investigações "esquisitas", Ciro Gomes relata que no Ceará, estado onde foi prefeito e governador, uma operação da PF foi realizada mesmo com o problema já resolvido, tornando a ação da polícia ineficaz.

"Uma firma ganhou a licitação de uma parte dos respiradores que foram comprados, só que não entregou no prazo. Com isso, a prefeitura destratou, como está previsto no contrato e exigiu a devolução da primeira parcela e eles devolveram. Quando a Polícia Federal chega para investigar com imprensa e com tudo, viram que não tinha um centavo federal e que todas as providências tinham sido tomadas junto ao fornecedor, com a prefeitura não tendo nenhum prejuízo. Resultado? O juiz mandou arquivar e deu um esporro muito duro neles e agora nós vamos processar esses vagabundos", disse.

Ouça a entrevista na íntegra: