FENÔMENOS

Geógrafo explica que ciclone bomba que atingiu o Sul do Brasil é 'praticamente impossível' no Nordeste

O ciclone extratropical que atingiu a região Sul do país registrou 10 mortos até o momento

LOURENÇO GADÊLHA
LOURENÇO GADÊLHA
Publicado em 01/07/2020 às 11:15
Reprodução/Twitter
FOTO: Reprodução/Twitter

Após o ciclone extratropical, que ficou conhecido por “ciclone bomba”, atingir a região Sul do Brasil na terça-feira (30), o geógrafo Lucivânio Jatobá garantiu, em entrevista ao Passando a Limpo nesta quarta-feira (1º), que é “praticamente impossível” acontecer um fenômeno semelhante no Nordeste. De acordo com o especialista, esse tipo de evento meteorológico ocorre numa faixa que vai de 30° a 40° de latitude no hemisfério Sul. Por isso, as áreas de baixa latitude não forma ciclone extratropical por estar justamente além dos trópicos.

“Esse tipo de evento aqui no Nordeste é praticamente impossível de acontecer, porque trata-se de um ciclone, mas um ciclone diferente do que nós comumente conhecemos. Aqui os ciclones tropicais se formam sobre oceanos quentes e avançam sobre o continente. O que aconteceu no Sul é um ciclone extratropical, ou seja, que se origina por causas diferentes dos ciclones tropicais. Ambos são formadores de ventos de grande intensidade, com velocidade como esse do ciclone bomba que superou 90 km/h, sendo uma velocidade considerável”, afirma.

Os ventos fortes e a chuva causada pela passagem do "ciclone bomba" provocou, até o momento, nove mortes em Santa Catarina e uma no Rio Grande do Sul. O estado do Paraná também foi atingido pelo fenômeno, no entanto, ainda não há nenhum registro de morte. Além disso, foram registradas quedas de árvores, destelhamentos e vários moradores ficaram sem energia elétrica.

 

Para o geógrafo, o ciclone bomba registrado no Sul do Brasil ganhou notoriedade por apresentar uma “conjugação de diversos fenômenos”. “O que parece ter acontecido primeiramente foi uma diferença de temperatura significativa, que é um gradiente térmico entre um oceano aquecido, nas mediações do Rio de Janeiro, de São Paulo e parte do Paraná, com um ar muito frio ao Sul do país. É uma diferença térmica muito forte. Isso gerou um gradiente farómetrico, ou seja, uma diferença de pressão atmosférica. Quanto maior a diferença de um extremo para outro do ciclone, mais intenso são os ventos. Ainda houve uma influência da corrente de jato. Toda essa conjugação resultou no ciclone bomba, porque é algo impressionante em termos de velocidade de ventos e nebulosidade em cima do oceano atlântico”, explica.

Ouça a entrevista na íntegra:

 

Nuvem de gafanhotos

Ainda segundo o geógrafo, apesar de não ser a sua área específica, Jatobá destaca que os fortes ventos causados pelo ciclone bomba pode ser um dos fatores que afastaram a chegada da nuvem de gafanhotos no Brasil. “Não só a intensidade desses ventos, mas a temperatura que está despencando no Sul em cima do Uruguai, uma parte da Argentina e do Rio Grande do Sul. Isso foi uma coisa muito boa para nós brasileiros porque essa nuvem de gafanhotos parece que sofreu uma mudança por conta dessa situação nova meteorológica sobre o Sul do Brasil. Felizmente, uma boa notícia", comemora.

Fim do ciclone bomba

Por fim, Jatobá avalia que apesar dos desastres, o ciclone bomba vai continuar agindo naquela região. “Agora ele vai caminhar pelo Oceano Atlântico, provocando ventos fortes, com ressacas no litoral brasileiro, sobretudo no litoral Sul. Observei em imagens de satélite que esse sistema de baixa pressão está com um olho. Aí vai surgir a dúvida que aconteceu há quase 20 anos, quando um ciclone apresenta um olho ou um centro frio, então ele se aproxima mais do sistema tropical. Então é uma loucura isso numa área subtropical termos um ciclone tropical. Isso vai gerar muita discussão ainda e a evolução nas próximas horas é que vai poder resultar em um diagnóstico meteorológico”, conclui.