LITORAL

Pesquisador diz que mais 'caixas misteriosas' devem aparecer

As "caixas misteriosas" voltaram a aparecer no litoral pernambucano e estão chamando atenção da população

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 02/07/2020 às 16:58
DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE ITAMARACÁ
FOTO: DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE ITAMARACÁ

As “caixas misteriosas” que voltaram a aparecer no litoral do Nordeste desde o mês passado devem continuar surgindo nas praias. Quem fez o alerta foi o biólogo, pesquisador, oceanógrafo e professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho Junior, que também revelou que, na verdade, o material se trata de fardos de látex.

O pesquisador orienta quais procedimentos tomar caso alguém encontre uma dessas caixas. “Entrem em contato com a prefeitura, com as autoridades locais e, se for o caso, com as autoridades estaduais, para que seja retirado e levado ao destino como um aterro sanitário e tendo até a possibilidade de ser reciclado, reutilizado. Esse material está chegando ao nosso litoral. A gente vai continuar vendo esse material chegar. Então, vale o alerta: não toque, evite tocar nesses fardos e comunique as autoridades locais”, disse. “Esse material, apesar de ser um látex extraído da seringueira, pode ser perigoso. Não pelo material em si, mas durante o seu processamento na cura do látex é utilizada uma série de compostos que podem ser perigosos e podem liberar compostos nocivos à natureza ou até metais pesados”, completou.

Ele explica o que tem levado ao aparecimento das “caixas misteriosas”. “Essas caixas estão sendo trazidas pela mesma corrente que trouxe as manchas de óleo [em 2019], uma corrente Sul-Equatorial que deriva à norte e ao sul. Com a agitação do mar, principalmente agora com o início do inverno - na semana passada nós tivemos uma ressaca, um mar um pouco mais agitado, com ondas maiores, um vento sul bastante forte – [o material] veio parar aqui no nosso litoral”, detalhou.

Primeiros registros

Carlyle Paes Barreto/ Jornal do Commercio
Caixas também foram encontradas, neste domingo, na praia de Catuama - FOTO:Carlyle Paes Barreto/ Jornal do Commercio
Cortesia
Caixa encontrada na praia de Barra de Sirinhaém, no Litoral Sul de Pernambuco - FOTO:Cortesia
 Adriana Victor/TV Jornal
Caixas foram encontradas na Praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife - FOTO: Adriana Victor/TV Jornal
Cortesia: Martha Lisboa
Caixas foram encontradas na Praia de Serrambi, no Litoral Sul de Pernambuco - FOTO:Cortesia: Martha Lisboa
Sem Crédito
Sem Legenda - FOTO:Sem Crédito
Cortesia
Caixas misteriosas apareceram em 2018 no litoral nordestino e voltaram a aparecer neste mês - FOTO:Cortesia
DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE ITAMARACÁ
Caixa foi encontrada na Praia do Sossego, em Itamaracá - FOTO:DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE ITAMARACÁ

Os fardos começaram a aparecer nas praias de Alagoas no dia 24 de outubro de 2018, sendo a primeira ocorrência no Ceará registrada apenas dois dias depois. Caucaia, Camocim e Aracati foram os primeiros locais no estado. Em Fortaleza, os primeiros pacotes chegaram após cinco dias, na praia do Serviluz. Pesando cerca de 100 kg e identificados um mês depois pelo laboratório do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) como sendo composto por borracha.

Em Pernambuco, as caixas começaram a surgir em outubro de 2018. Seis fardos foram encontrados em Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. As primeiras duas caixas apareceram no último sábado na praia do Bairro Novo, em Olinda, provocando a curiosidade dos banhistas.

Origem das caixas misteriosas

O professor Clemente Coelho Junior explicou que a origem das caixas ainda não é certa, apesar dos resultados obtidos em um estudo da Universidade Federal do Ceará. “Através de um modelo matemático de tecnologia reversa na qual, pegando cada ponto onde apareceram essas caixas, esses fardos de látex, [os pesquisadores] chegaram a aproximação de um navio que naufragou em meados de 1944, possivelmente um navio de guerra da Alemanha. Eles relacionaram [o aparecimento das caixas] ao navio chamado Rio Grande, que estaria levando esse material para alguma produção”, contou.

O estudo foi desenvolvido em outubro de 2019 por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC). A equipe tentava explicar o surgimento de manchas de óleo que surgiram no litoral nordestino, a partir do estudo de dados históricos, físicos e biológicos. Após análise das informações, os estudiosos também chegaram a uma possibilidade para o surgimento das caixas de látex. O material estaria no navio alemão SS Rio Grande, que naufragou na costa do Recife na década de 1940.