PANDEMIA

Casos de síndrome respiratória aguda grave entre pobres pode indicar subnotificação da covid-19

Estudo mostra um aumento nos casos de síndrome respiratória aguda grave com origem desconhecida

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 16/08/2020 às 17:17
Reprodução/Rádio Jornal
FOTO: Reprodução/Rádio Jornal

Um estudo revela que casos da síndrome respiratória aguda grave (SARS) entre pobres pode indicar subnotificação da covid-19. O artigo, que foi publicado na Nature Human Behaviour, coordenado pelo Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus, contou com a participação de pesquisadores brasileiros e britânicos.

O estudo mostra um aumento de 2,3 vezes nos casos de síndrome respiratória aguda grave com origem desconhecida, em comparação com os casos confirmados de covid-19 desde a chegada do vírus no Brasil. Os cientistas analisaram dados oficiais da notificação de casos do novo coronavírus durante os três primeiros meses da epidemia, aqui, no país.

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Segundo o médico infectologista da Superare, Gabriel Serrano o SUS ainda está muito longe de atingir a meta de testagem estipulada pelo próprio Ministério da Saúde. “O serviço público já deveria ter feito mais de 20 milhões de exames, segundo a própria programação do Ministério da Saúde, e só fez cerca de 1,7 milhão. O serviço particular tem feito 2,5 milhões. O SUS não está fazendo nem 10% daquilo que deveria estar fazendo”, destacou o especialista.

Por conta disso, ele aponta que a população mais pobre não tem realizado a quantidade necessária de testes. “Se você tem mais teste, quase o dobro, sendo realizado por convênio pago aqui no Brasil diferente do SUS, quem faz o exame pago é porque tem dinheiro. A gente percebe que essa população mais frágil financeiramente tem menos chance de realizar o exame e, consequentemente, de ter o diagnóstico correto”, disse.

O médico explica ainda o que foi observado no estudo. “Essa observação que o estudo faz mostra uma fragilidade óbvia na quantidade de exames que nós realizamos no nosso país. Para se ter uma ideia, um país que realiza a quantidade correta de PCR, ele tem, para cada 20 exames um dando positivo para coronavírus. Ou seja, ele faz em muita gente. No Brasil, a gente tem a cada dois exames um dado positivo. A gente só faz em quem está grave”, comentou.

De acordo com o médico infectologista, é difícil entender o cenário real do Brasil com a baixa testagem. Para ele, os testes rápidos também são um problema. “Enquanto você faz teste rápido, você acaba não diagnosticando da forma correta e nem no momento correto. No final das contas, isso traz uma dificuldade da gente saber onde a gente se encontra na curva. E um reflexo disso é justamente o aumento das mortes de pessoas por síndrome respiratória aguda grave, que é um tipo de pneumonia grave causada pelo vírus e quando acontece da pessoa ter essa pneumonia e você não tem o diagnóstico do coronavírus associado é porque aquela pessoa teve aquele tipo de pneumonia e ninguém descobriu o motivo porque não fez o exame correto”, apontou o médico.

Subnotificações

O Brasil já tem mais de 3 milhões de casos e mais de 100 mil mortes por covid-19. Segundo o infectologista Gabriel Serrano, esse número pode ser muito maior. “Todos os estados, quando você compara o número de óbitos por pneumonia nesse primeiro trimestre da infecção [por coronavírus], de março a junho, comparado com o mesmo número de pessoas que morreram no ano passado teve um aumento e você não tem identificação do porquê. É óbvio que esse número maior de óbitos por pneumonia é por conta do número maior de pessoas infectadas pelo novo coronavírus”, disse.

A pesquisa revela ainda que a covid-19 se espalhou mais rapidamente no Brasil no primeiro mês de epidemia, do que na Europa. Também foi percebido, com base no histórico de viagens dos pacientes no primeiro mês de pandemia, que os casos importados para o Brasil foram adquiridos principalmente nos Estados Unidos, Itália, Reino Unido e Espanha.